Luanda – Ngola Kabangu, o político que viu a sua candidatura recusada pelo Tribunal Constitucional (TC), no dia 19 de Junho para concorrer às eleições gerais de 31 de Agosto, como cabeça de lista da FNLA, por não lhe reconhecer legitimidade como líder desta tradicional força política, anunciou a sua candidatura à liderança do partido pensando já nas eleições de 2017.

Fonte: O País

O antigo líder da bancada da FNLA, que terminou o seu mandato de quatro anos na Assembleia Nacional (AN), no dia 15 de Agosto, explicou que o fará pela vontade dos militantes que pretendem que ele concorra daqui a cinco anos para salvar o partido do marasmo em que se encontra e devolver-lhe a mística que lhe é característica.

Segundo o político, depois da sua “destituição” pelo Tribunal Constitucional (TC) a favor do actual presidente da FNLA, Lucas Ngonda, escolhido num “polémico” Congresso realizado em Julho de 2010, mas só reconhecido um ano depois por esta mesma autoridade jurisdicional, o partido passou a desmoronar-se politicamente.

“Por imposição do Tribunal Constitucional fomos impedidos de concorrer às eleições gerais de Agosto, favorecendo o senhor Lucas Ngonda que é apenas presidente neste órgão de justiça, mas não no seio do partido”, desabafou Ngola Kabangu, reiterando que o “acórdão do TC prejudicou gravemente a direcção que comandava”.

Argumentou que em momento algum o Tribunal deveria reconhecer o Congresso de Julho de 2010 que elegeu Ngonda como presidente da FNLA, por ter sido convocado por um militante que chamou de “dissidente e antigo secretário para a informação, que atropelou grosseiramente os estatutos do partido”.

Alegou que o seu sucessor atropelou os estatutos, desde a altura em que realizou um Congresso extraordinário em 2006, ainda na presença do líder do partido, Holden Roberto,  nas instalações do Futungo II, em Luanda, durante o qual foi eleito por aclamação pelos participantes. “ A partir daquele momento deixou de haver as vice-presidências saídas do Congresso da FILDA”, sustentou.

E tanto mais que o próprio Tribunal invalidou o tal Congresso, “ mas nós enquanto parte legal fizemos um outro extraordinário, em 2007, após a morte do presidente Holden, que foi reconhecido por este mesmo Tribunal e que nos deu o aval de participarmos nas eleições legislativas em 2008, mas volta e meia começaram os problemas”, explicou.

Por isso reforçou dizendo que ele e os seus correligionários não  pretende(ia)m perpetuar-se na liderança do partido, mas apenas clamar por justiça para que ela fosse feita com base na própria lei. “Não houve justiça na tomada de decisões sobre esses acordos confusos, houve sim orientação política do partido no poder, e isso já denunciamos publicamente na imprensa nacional e internacional”, lembrou.

De acordo ainda com o político, em momento algum a sua antiga direcção contestou as decisões do Tribunal enquanto instituição jurisdicional, mas tão-somente repudiou veementemente “a interferência política do partido no poder contra o nosso, cujo objectivo é o de apagá-lo da história de Angola, através deste Tribunal. Mas ainda assim, vamos continuar a lutar democraticamente até que a justiça seja feita”, afirmou.

COMO CONCORRERÁ EM 2017?

Respondeu que o fará como militante histórico do partido e que goza de muita popularidade no seio dos militantes, esses mesmos que, segundo a fonte, continuam fiéis a si e que têm estado a encorajá-lo para prosseguir com os ideais da FNLA e colocá-lo no seu devido lugar no xadrez político angolano. “Não estou a insistir por ganância, mas pela vontade dos militantes”, afirmou.

Referiu que, presentemente, o partido está a atravessar a sua pior fase de sempre, citando como exemplo os resultados das eleições de 31 de Agosto, em que apenas conseguiu manter dois lugares, dos três que possuía na Assembleia Nacional. “Até dizem que esses dois deputados lhes foram cedidos, e, não fosse assim, o partido corria o risco de ser extinto”, disse mostrando-se preocupado com o rumo que está a seguir a “sua” FNLA.

Sobre a sua eventual candidatura à liderança do partido, o “velho maquisard ” de 70 anos, e antigo delfim de Holden Roberto, não avançou mais pormenores à volta do assunto, assegurando que  está a trabalhar para este fim “há já algum tempo com as bases em todo o território nacional”. Evitou avançar se concorrerá contra Lucas Ngonda, justificando que “falo por mim e não pelos outros”.

Ngola Kabangu insistiu que o que o move a concorrer é a salvação da FNLA e tirá-la da situação em que se encontra, colocando-a num patamar mais alto do que o actual quadro sombrio em que se encontra. “Esta é a principal razão que faz com que os militantes se sintam tão preocupadíssimos e me pedem para concorrer em 2017 e contornar esse quadro que só vai prejudicando a FNLA, por haver pessoas impostas pelo TC à frente do partido”, desabafou.

FUTURO POLÍTICO


Sobre esta questão, respondeu que dependerá da existência da FNLA, fazendo política activa, pois fora deste partido já não o fará num outro, afastando assim especulações veiculadas por jornais luandenses e meios electrónicos que davam como certa a sua integração na CASA-CE, de Abel Chivukuvuku, durante  as eleições.

“Não corresponde à verdade dos factos. Sou militante deste partido há mais de 50 anos. Sei que alguns jornais fizeram referência a isso, mas não passou mesmo de especulações, porque não tenho, nunca tive e nem tão pouco terei ideias para me juntar a esse ou aquele partido. Em busca de que?”, interrogou-se a fonte.

Desmentiu também que houvesse da sua parte a intenção de refundar a União das Populações de Angola (UPA) da qual resultou a FNLA. Segundo Ngola Kabangu, a sugestão foi avançada por certos analistas políticos durante as eleições, que admitiam essa hipótese na tentativa de ele continuar a fazer política activa. “Não se refundará em momento algum, porque temos o nosso partido que é a FNLA”, esclareceu.

O político e nacionalista que abraçou a política ainda muito novo, no limiar da década de 60, disse não haver razões para se refundar esse antigo movimento anti-colonial, por não se justificar. “Para quê refundar a UPA, se temos a nossa FNLA?”, interrogou-se, avançando que “nós somos a direcção, somos nós que temos a maioria dos militantes e vamos provar isso na devida altura”.

Longe de atirar impropérios contra Lucas Ngonda, que se tornou como o seu “inimigo de estimação” no seio do partido, depois do conflito de liderança que os opõe, disse que ficou desiludido com os resultados atingidos pelo  partido, aliás, “houve campanha desastrosa, segundo os jornais, porque não se conseguiu cativar o eleitorado e o resultado espelha bem essa fraqueza”.

Ainda com base neste “fracasso”, Kabangu desmentiu que tivesse orientado o voto aos seus militantes, defendendo que eles são conscientes de o fazer, “tal como o fiz, votei e como o voto é secreto não lhe vou dizer em quem depositei a minha confiança”, disse meio sorridente.

SOBREVIVÊNCIA GARANTIDA


No que concerne ao seu futuro em termos de sobrevivência social, depois de ter cumprido o seu mandato na Assembleia Nacional, “o velho Kabangu”, como é tratado pelos seus correligionários, disse que está garantido, contando com os subsídios vitalícios enquanto deputado, assim como o de antigo combatente da liberdade, considerando esse último de “miserável para um nacionalista que empenhouse de corpo e alma para combater o colonialismo português”.

Disse também que enquanto cidadão e bom trabalhador tem também outras fontes de sustento que consistem em feituras de negócios de subsistência para si e para sua família, sendo uma norma generalizada para as pessoas sobreviverem. “É com isto que vou vivendo, tal como sempre. Quanto ao resto, o futuro só a Deus pertence”, concluiu.