Cabinda - Uma chamada telefónica de uma pessoa amiga, na manhã deste dia 8 de Outubro, fez-me estar à beira de um ataque de nervos não fosse a serenidade que me é característica. O assunto era lapidarmente este: o meu nome constava do novo elenco governamental de Cabinda como Assessor da novel Governadora.

Fonte: Club-k.net

A primeira reação foi tomar a coisa de forma jocosa, como se tratasse apenas de uma brincadeira. Mas quem me deu a informação fez questão de sublinhar que a coisa era séria e que já estava publicada no sítio do club-k todo o elenco governativo de Cabinda para os próximos tempos, tendo recomendado que visitasse o sítio para confirmar. Fi-lo logo que pude, mas foi difícil divisar essa informação, pois andei às voltas à procura de algum título sugestivo em relação à matéria, mas em vão… Busquei de seguida o título do articulista Stefan Baptista sobre a recepção que a comunidade cabindense brindou à senhora Aldina da Lomba no sábado passado.

Foi então que me deparei com o parágrafo onde destaca a equipa com quem vai trabalhar a governadora de Cabinda. Confirmei que lá estava o meu nome, caso não haja provas em contrário, pois Raul Tati, por enquanto, é único nessas lides em Cabinda. Entretanto, ao ler o parágrafo, fiquei intrigado por não saber se o articulista estava a fazer um exercício de vaticínio ou escrevia já com conhecimento de causa. Ao menos senti um ligeiro alívio por não ser um documento oficial do governo da Província. Se assim fosse, como supus inicialmente, o caso seria bem mais grave porque nunca fui consultado para o efeito.

Resta-me pois fazer uma pequena réplica ao nosso ignoto articulista em forma de reparo. Em primeiro lugar, devo dizer-lhe que está fora de hipótese a minha participação em cargos governativos neste regime. Não posso destruir por um prato de lentilhas, talvez mal cozidas e indigestas, a personalidade que tenho forjado ao longo dos anos com suor, lágrimas e amarguras. Tenho plena consciência de que o homem não se mede pelos cargos que ocupa, mas pelas causas que defende.

Por isso não quero engrossar a repugnante corja dos que aparecem como críticos do regime e depois se acomodam com o primeiro tacho que lhes é brindado pelo poder. Este comportamento é reprovável porque denota falta de carácter e de hombridade. Em segundo lugar, devo dizer que mesmo que tal vaticínio - chamemos-lhe assim! – fosse condizer com a intenção da actual governadora de Cabinda de trabalhar com o elenco cujos nomes estão plasmados no seu artigo, provavelmente terá acertado em todos outros casos, menos no meu: Declinaria qualquer convite que me fosse feito nesse sentido, pois não me permito a mim próprio enveredar por caminhos ínvios.

Entretanto, sou obrigado a concordar consigo que a actual governadora de Cabinda, conhecedora como é das suas gentes, por estas alturas deve ter já gizado uma equipa de ouro para alcandorar a sua governação sob a sina da competência, pondo de parte toda essa escumalha medíocre criada e sustentada pelo próprio MPLA. Porém, se tal é o intento, deve haver mais engenho!

Termino deixando aqui bem claro que tenho coisas muito mais graves para me ocupar: uma solução definitiva do diferendo político de Cabinda. Isto representa o interesse supremo da nação cabindesa. Este é o problema que ocupa a minha mente, as minhas energias e todas as minhas forças volitivas até que os deuses me tirem o último alento.

Acredito piamente que essa solução existe, pois, assim como toda a equação matemática tem uma solução, todo o problema politico deve tê-la igualmente. Para o efeito, não precisamos de varinhas mágicas: o diálogo é a única fórmula que a civilização nos ensina e nos consente. Enquanto seres humanos, angolanos e cabindas estamos condenados a nos entendermos ou a nos desentendermos. Preferirei a primeira alternativa e com ela estou comprometido. Aquila non caput muscas (as águias não caçam moscas).

P. Raul Tati