Luanda - A testemunha-chave do caso Quim Ribeiro, Augusto Viana Mateus, afirmou esta semana, perante o colectivo de juízes que foi o ex-comandante da Polícia Nacional em Luanda, Joaquim Vieira Ribeiro, quem mandou assassinar Domingos João. Augusto Viana que começou a ser ouvido na semana passada no Tribunal Supremo Militar, falou da operação realizada sem o seu conhecimento, adiantando que um dos seus oficiais, António Palma, que se encontrava na esquadra do Zango, lhe informou que tinham sido encontrados valores em kwanzas e dólares na via pública, no bairro do Zango.
Fonte: NJ
A testemunha chave do processo disse ainda que, depois do sucedido, contactou o ex-comandante de Luanda, Quim Ribeiro, para o informar sobre o sucedido, mas a única resposta que recebeu do então chefe foi apenas “ok”, o que o terá deixado surpreso. “Fiquei muito surpreso com essa resposta, porque o comandante Quim era muito rigoroso nestas situações. Ele não me disse nada, também não tomei medidas contra os meus efectivos e também nada me aconteceu”, assegurou.
Augusto Viana lembrou que, no mesmo dia, contactou o chefe da investigação criminal de Luanda, António João, para o informar sobre o sucedido e que os valores e os autos de apreensão estavam em sua posse. Como já se fazia tarde e era uma sexta-feira, o dinheiro, segundo a testemunha, passou o final de semana na divisão.
“Informei apenas o pessoal que trabalhava no meu gabinete que havia valores e que era muito dinheiro. Só na segundafeira, no período da manhã, é que os valores foram para o Comando Provincial Provincial de Luanda, na companhia de dois elementos da polícia, que também se encontram presos”, afirmou, acrescentando que António João lhe informou, depois de algumas horas, que havia recebido os valores e que estava tudo bem.
A testemunha disse ainda que foi agraciado com um valor de 70 mil dólares pelo comandante provincial de Luanda, Quim Ribeiro, e que não era a primeira vez que isso acontecia. “Quem me deu os valores foi o director António João, ele disse que foi o comandante Quim Ribeiro quem mandou dar o dinheiro. Nem pensei que eram os valores encontrados no Zango, porque não era a primeira vez que o comandante me dava dinheiro. Ele já me ajudou muitas vezes”, testemunhou, adiantando que com dinheiro que lhe foi dado comprou um terreno.
RECEBI ORDENS PARA MATAR
Augusto Viana garantiu, durante o seu testemunho, que recebeu ordens do então comandante da polícia de Luanda, comissário Joaquim Ribeiro, para assassinar Domingos João por duas vezes. “A primeira vez foi por telefone e a segunda foi no seu gabinete, na presença do então director de Investigação Criminal de Luanda, que disse que tínhamos que resolver o problema, porque ele nos daria problemas. É no mês de Outubro que o presidente faz as nomeações, me resolvam o problema”, afirmou a testemunha, lembrando a ordem que lhe terá sido dada por Quim Ribeiro.
Viana acrescentou que na altura em que recebeu a orientação para matar Joãozinho o malogrado ainda se encontrava preso na comarca de Viana. A testemunha ainda disse que Quim Ribeiro lhe ordenou que matasse Joãozinho porque o mesmo tinha a intenção de denunciar irregularidades do comandante provincial e de alguns oficiais do comando provincial de Luanda sobre valores encontrados numa residência na zona do Zango, no município de Viana, e que eram provenientes do caso BNA.
Augusto Viana assegurou que na altura da morte de Domingos João ainda se encontrava no exterior do país. “Quem me informou que Joãozinho tinha sido assassinado foi o meu segundo comandante da divisão de Viana, Francisco Noticia. Liguei para ele com o propósito de saber qual era a situação operativa do município. Foi então que ele me disse que a situação não estava boa, porque tinha sido assassinado o Joãozinho, mas longe de mim pensar que era o superintendentechefe Domingos João, o mesmo que o comandante Quim me mandou matar”.
Questionado quem é que lhe deu a informação de que tinham sido os colegas a assassinar Joãozinho, já que o mesmo se encontrava fora do país, a testemunha respondeu que foram os próprios colegas. “A primeira pessoa que me disse foi o Galiano, que usou os seguintes termos: chefe, o Caricoco e o Paulo Rodrigues falharam, eles mataram o Joãozinho. No dia das mortes, encontrei-os a eles e ao seu grupo a festejar junto ao cemitério de Viana e atrás do meu carro vinha o chefe dos serviços do munícipe. A situação do dinheiro já estava resolvida, já estava tudo bem, vieram pôr mais água, estamos todos lixados. E o segundo foi o senhor Coseiro e o terceiro foi o Palma”.
Augusto Viana negou as acusações que pesam sobre si de que teria ordenado ao réu Lutero para espancar o superintendente-chefe da Polícia Nacional Jesus, que o acusa de lhe ter retirado as patentes. “Eu nunca mandei bater ao Jesus nem a outras pessoas. Essa informação não corresponde à verdade. Ele é que veio me dizer que o réu Lutero pediu 100 mil dólares ao seu parente e que estava a pedir mais outro 100, e que havia pessoas que podiam provar. Disse a ele para chamar as pessoas, mas, postos no meu gabinete, eles nem sabiam quem era o Lutero e o mesmo ficou em pânico a pedir desculpas. Nunca mandei bater nele”, defendeu-se
Durante a audiência, Augusto Viana negou todas as acusações, afirmando que era inocente. Só na fase das acareações, que começa já no final deste mês, é que se vai saber quem é que está a falar a verdade.
Pena de 24 anos
Afirma Viana Face às declarações da testemunha-chave do caso Quim Ribeiro na última sessão do julgamento, o Novo Jornal ouviu um jurista para aclarar qual é a pena possível para o antigo comandante da polícia de Luanda. O jurista, que preferiu não ser citado, garantiu que se as afirmações de Augusto Viana forem verdadeiras, Quim Ribeiro e seus pares podem ser condenados à pena máxima. “Se Augusto Viana provar em tribunal que foi mesmo Quim Ribeiro quem mandou matar Domingos João, eles vão mesmo ser condenados a 24 anos de prisão. Temos que aguardar, porque vem aí a fase das acareações”, sublinhou.
De acordo com o jurista, ainda não está provado que foram os réus que mataram o Joãozinho. “Eu aconselho sempre as pessoas a terem calma e deixar que o tribunal faça o seu trabalho. Até agora, como disse mesmo o juiz, nada ainda está provado. Neste momento, ainda se está na fase de recolha das provas. Já não estamos como nos anos anteriores, em que se condenava à toa as pessoas.
O Augusto Viana vai ter que provar mesmo que foram eles”. Segundo a fonte, em situação normal, Augusto Viana não seria testemunha porque o que diz em tribunal também lhe foi dito. Não presenciou e nem estava em Angola.