Luanda - Já lá vai um mês desde que a  cidade de Luanda está sem fornecimento de água potável. Uma das causas é o baixo caudal que se nota no rio kwanza e também a falta de energia eléctrica no centro de distribuição da Empresa Pública de Água de Luanda (EPAL), como assumiu o porta-voz da empresa pública. Como alternativa, crianças, senhoras e homens são vistos a acarretar água de um lado para o outro, quer em carros de mão, quer em baldes e bidons à cabeça, para garantir que a água chegue aos seus lares.

Fonte: NJ

Dona Antonica dos Santos, de 45 anos, moradora no bairro Rangel, lamenta que o desenvolvimento não chegue à sua porta, obrigando as pessoas a recuar no tempo. “Desde 1975, que andamos a transportar baldes na cabeça e hoje estamos na mesma situação, quer dizer, continuamos a sofrer.

Meu filho, é inadmissível, num país com tantos rios, continuarmos com problemas de distribuição de água potável. Se os governantes não estão a dar conta que devem governar bem, então, que se demitam”, exortou. Para a mulher, as desculpas são sempre as mesmas, mas já não colhem.

Emília Gaspar, moradora do bairro do Golfe 1, subzona 15, nas imediações do bar da mamã Gorda, queixa-se dos elevados gastos que tem com água. Há um mês não chegam mil kwanzas para ter água em casa.

Antes do corte no fornecimento, Emília gastava por dia 200 kwanzas. A mulher contou que a falta do precioso líquido tem criado transtornos a muitas famílias, porque a procura é muita e a oferta é pouca, o que faz disparar os preços.

“Quem está a ganhar com a nossa vida são os jovens que andam de moto de três rodas. Transportam bidons de 20 litros e cobram 100 kwanzas por cada bidon, que antes vendiam ao preço de 20 kwanzas”.

Emília recordou que a falta prolongada de água na cidade capital acontecia apenas no tempo da guerra. “Agora, que são passados 10 anos de paz, isto não se justifica. Antes, eram os inimigos do povo angolano que sabotavam as condutas e agora? É a falta de chuva? Isto não colhe, pelo menos arranjem outra mentira”, disse.

Os moradores da área do Avó Kumbi percorrem 200 quilómetros em busca do precioso líquido, no vizinho kassequel do buraco, e outros vão até ao Benfica. Pedro Peterson diz que encontrou água na zona do kassequel do buraco e teve de pagar 100 kwanzas por um bidon de 20 litros, que transportou num carro de mão. “Meu cota, água potável está igual a um diamante. Até os trabalhadores que acarretam água nos bairros estão a cobrar caro e nem sempre aparecem. Isto significa dizer que vamos ter de aguentar mais algum tempo com esta situação”, lamentou.

Alberto Nguimbe, motorista de um camião cisterna que vende água em qualquer ponto da cidade  de Luanda, encontrava-se na girafa de kifangondo a abastecer a sua viatura, de marca volvo, com capacidade para transportar 14 mil litros, quando falou com o Novo Jornal. O seu destino era o Kikolo. “Levar água para a Samba nesta altura custa 16 mil kwanzas e para a vila de Cacuaco cobramos 8 mil kwanzas. O preço é em função da distância”, explicou.

Há outros factores que pesam na factura. Cada camião com cisterna tem o seu preço, varia consoante a marca do carro e a sua capacidade. Por um camião de marca volvo, Scania ou golfe worker, com capacidade de 14 a 15 mil litros, paga 800 kwanzas. O motorista garantiu à nossa reportagem que faz quatro a cinco viagens por dia, mas há vezes em que faz mais. “Depende do engarrafamento”, esclareceu. O negócio, enquanto os cortes no fornecimento de água às populações se mantiverem, corre de feição.