Luanda  - No próximo dia 15 de Outubro, o presidente da República devia fazer um discurso na Assembleia Nacional sobre o Estádio da Nação. E só Deus sabe o que ele iria dizer. Iria, mas não vai, sob pretexto de que fez um discurso aqui há dias, aquando da sua tomada de posse e não está para repetir o que disse nessa altura. O que nos leva a duvidar da sua saúde.


Fonte: Folha8

O PR iria pedir tempo ao tempo

Será que o presidente está cego e surdo. Ou simplesmente cego e não pôde ver o que se passou desde a sua investidura? Não há água!... Ou será que ensurdeceu e não ouviu os lamentos do seu povo? Como é possível que o presidente duma República fuja à sua obrigação consagrada pela constituição, para fugir à suas responsabilidades de chefe de Estado, na sua qualidade de mentor e mestre-de-obras de uma situação dramática e catastrófica para o seu povo? Ninguém tem água! Será que não se passou nada entre o seu discurso de investidura e esta falta dramática de água em Luanda?


Mas ele já decidiu, não vai discursar, meteu os representantes do povo na sarjeta do desprezo e mostrou o que vale, mostrou o medo que tem, de tudo, de debates, do contraditório, da comparação com outros valores. Mantém-se numa espécie de Olimpo só dele até ser posto fora!


Não vai discursar e, no fundo, não faz mal, nós, no F8, pensamos que ele não iria dizer nada de especial, à parte manter-se no seu tom habitual de vazio semântico no que se refere aos problemas essenciais das espoliadas e mais que enganadas populações de Angola.


Porém, já que aqui chegamos, tentemos adivinhar o que ele diria sobre a falta de água, que atingiu picos dramáticos em boa parte por causa do esbanjamento da mesma por meras questões de propaganda do partido durante a campanha eleitoral.

Uma fuga às responsabilidades de Estado


Um alto dignatário do “governo exprimiu-se recentemente no sentido de acalmar as populações, dizendo que «Progressem esforços para fornecer água aos luandenses», mas o que pensamos é que progridem, sim, as desculpas para explicar o inexplicável, pura e simplesmente por uma só razão: dizer a verdade não é possível.


Quem teria a hombridade (termo desconhecido nas altas esferas do M) de vir a terreiro dizer que, em boa verdade não há água porque o dinheiro gasto na propaganda política eleitoral não chegou para as encomendas e o Executivo ordenou que todas as torneiras fossem abertas para dar a impressão de dar água a toda a gente d’Angola.


Quem poderia ser o honesto governante que viesse confessar que não há energia nem água porque o “governo” cometeu erros irreparáveis ao emparceirar projectos faraónicos? Primeiro, para construir centrais eléctricas inutilizáveis, segundo, para construir centralidades invendáveis, terceiro, para financiar supermercados e complexos agrícolas de agro-pecuárias financeiramente insustentáveis, quarto, ao mandar construir uma ponte-cais em Cabinda que a onda levou e se afundou, como se fosse camarão adormecido… Isto, sem falar da baixa de Luanda, com realce para a sua feérica marginal e as pontes ao longo da mesma, que foram consideradas empreitadas muito, mas muito mais importantes que tudo o resto que assola o Mwangolé, como se na verdade os problemas do país estivessem concentrados na sua inauguração, remetendo os programas de desenvolvimento que deveriam mudar a vida das populações para o segundo plano.


Como é óbvio, o senhor presidente nem por distracção poderia ter esta linguagem da verdade, usaria pois os recursos que a cientologia política de baixo calibre inspira, ou seja, falaria da chuva e repetiria o que os analistas de serviço foram debitando, de escovadela em lambidela de botas, até à data do discurso. Ou seja não diria nada que fosse, pouco mais ou menos, um reconhecimento de erro. Com alguma razão, de resto, pois não se trata de erro, mas sim de monumentais erros, falhanços, e todos eles a se seguirem uns aos outros!


Para abordar o problema da falta de luz, o senhor presidente certamente se sentiria mais à vontade, não obstante os apagões em Luanda serem já quase a normalidade, o que quer dizer que a nossa energia de recurso é a da EDEL, enquanto aquela que fornece realmente luz a Luanda é a que que vem do funcionamento de geradores. Milhões de geradores, por essa Angola fora! Geradores não só de energia eléctrica, mas também de grandes riquezas a um punhado de militantes e amigos do MPLA.


Que nos diria a esse respeito o senhor presidente? Com certeza que não cometeria o erro desse camarada que disse que os geradores são a solução para a falta de energia (Ah, ah, ah!...HÀ 36 ANOS!)! Não, o que o “pai grande” diria é que houve guerra e só há dez anos é que estamos em medida de resolver… e que é preciso ter calma e paciência.


Mas tanto tempo e o problema ainda não está resolvido!?... Certo é que ele não explicaria porquê. Porque, à parte a sua incompetência, queremos dizer a incompetência do chefe supremo, a sua fraqueza perante os lobbies de todas as espécies, formas e feitios, a sua falta de vontade política, a sua confiança excessiva em pessoas que lhe comem os olhos da cara e nos comem inteirinhos, a nós, Mwangolés, e a sua incomensurável vaidade que o leva a querer mostrar-se grande, mostrar o grandioso e esconder o desastroso, fazendo com que até o grandioso que ele consegue gerar e mostrar seja um desastre! Foi o que nos calhou na rifa que Deus nos deu!


Será que o senhor presidente iria falar do seu novo “governo”, constituído por pessoas a quem, uma por uma, foram incumbidas tarefas comparáveis às das figurinhas dos teatros de marionetes? Estamos em crer que não diria coisa nenhuma, nada, a não ser que o programa do MPLA, anunciado como sendo revolucionário – vejam só, acaba o esbanjamento de fundos em infra-estruturas, dá-se início à áurea e nobre era de combate a pobreza - mediante uma melhor distribuição das riquezas nacionais e das que serão geradas.


O único problema é que esse programa é impossível. Impossível sim, primeiro, porque as riquezas que existem já estão todas, mas mesmo todas, nos sacos do MPLA e Cia Ld.ª (alguns deles de cor azul-celeste);segundo, porque para as que serão geradas, da fila monumental de abutres que se perfilam para as açambarcar já nem se vê o fim! O Mwangolé vai é ver um filme, e não é de aventuras, é de desventuras.


Evidentemente que nem de raspão falaria da obesidade deste opíparo “governo”, atentatória à saúde financeira do Estado.


Portanto, estamos em crer que o senhor presidente iria fazer, mais uma vez, um discurso cujo âmbito semântico se limitaria à sua pretensa virtuosidade governativa, insuperável na sua própria opinião, e à determinação inflexível do MPLA, do seu presidente e de todos os que fazem parte do “governo”, em cumprir tintim por tintim o programa de governo do MPLA. A ver vamos. Mas nem isso parece ser possível, pois já está visto que ele, o programa, não vai ser cumprido de certeza absoluta. Por ser também impossível.


Como - a contrario -, teria sido obviamente impossível o presidente falar das “anomalias” que se produziram durante todo o processo eleitoral. Para ele não houve anomalia nenhuma! Foi tudo trigo limpo. É isso que diria se falasse do assunto.


E nós, Sr. Presidente, pobres Mwangolés sem outra defesa que não seja a nossa liberdade de exprimir o que pensamos na aceitação plena de sermos completamente marginalizados, só lhe dizemos o que nos parece ser consentâneo com a sua postura política: isto assim, com tanto falhanço, tanta violação, tanto partidarismo primário, tanta mentira e vaidade, não, isso não é governar, invente, por favor, outro nome qualquer, mas não, governar assim, se justificar com esta culpa da falta de chuva?…


Por favor, senhor presidente, não persista no erro de mostrar que não sabe governar, Governe! E governar é prever, precaver, cuidar, é calcular e não dar banga! Já reparou quanto custaram aos cofres do Estado as últimas manifestações da sua vaidade?