Luanda – Uns com mais, outros com menos, quem sai a ganhar são os trabalhadores da área administrativa, quando devia ser a redactorial, por se tratar de um órgão de Comunicação Social, onde a essência é a informação, que é esforçadamente produzida pelos jornalistas. A maior parte, para não dizer todos, dos «fazedores de notícia» da Agência Angola-Press está insatisfeita com o tratamento que tem rece¬bido, nos últimos tempos, da parte da administração. Trabalham «incansavelmente por um salário miserável, em péssimas condições», sendo ainda são obrigados a suportar os maus-tratos de algumas pessoas que se acham donos da empresa.

Fonte: SA

A ideia com que a maior parte da população fica em relação aos órgãos de comunicação públicos, é patrono é a de que as pessoas que lá trabalham auferem salários dignos ou que, pelo menos, corresponde ao trabalho que exercem. Não é bem assim.

Muitos desses profissionais estão fartos e não vêem a hora de «explodir», mas não o fazem, porque temem perder o emprego que lhes tem garantido a sobrevivência. Engolir os dessabores tem sido para eles, a melhor coisa a fazer, mas, desta vez, não foi, para alguns jornalistas da ANGOP, que decidiram se pronunciar a respeito das injustiças por que têm passado. Por detrás do endereço eletrónico dessa agência noticiosa encontram-se jornalistas que, diariamente, têm como preocupação trazer a informação actualizada aos internautas, mesmo sem motivação, transporte ou alimentação e com baixo salário.

«Só defendemos o pão para os nossos filhos, senão já não estamos nem aí», esta é a frase de lamento que um dos funcionários pronunciou, acrescentando que «parece que a administração insiste em não aumentar o salário da classe jornalística, porque acha que les se vão envaidecer em vez de trabalharem mais. Ficamos o tempo todo a fazer kilapis nas quinguilas para cobrir os nossos gastos (colégio dos filhos, alimentação para casa, combustível para o carro, etc.)».

Indivíduos que não ocupam cargos de chefe ou subchefe de redacção são atarefados como se fossem, mas, «na hora da remuneração, são esquecidos; são sempre as mesmas pessoas que têm direito a viagens, porque essas dividem o subsídio de estada com os editores; os jornalistas mais novos, que nem sequer completaram 5 anos, já receberam carro e nós (os mais antigos) ainda», disseram.

Ajuntaram que o mais preocupante é o facto de o pessoal administrativo ter tratamento especial, figuram numa tabela salarial com valores exorbitantes, quando a «peça essencial» da empresa (os jornalistas) fica a minguar. «Conselho de Administração nada faz» O salário de um jornalista sénior não passa dos 100 mil Kwanzas.

Antigamente, a ANGOP beneficiava do Orçamento Geral do Estado (OGE) e, caso houvesse aumento salarial na Função Pública, os soldos dos seus escribas também subia. De acordo com as nossas fontes, foi criado um Concelho de Administração que «só vem trazendo problemas», pois é muito extenso e as pessoas que ali trabalham estão acomodadas, «não fazem absolutamente nada.»

Serviços como administração para a área de informação, dos recursos humanos, de marketing e administração para área de negócios fazem parte do mesmo conselho, em que cada departamento tem um administrador, sendo todos chefiados por um presidente, que aufere o salário que ronda entre os 20 e os 25 mil dólares.

Os nossos colegas também reclamam das condições de trabalho, pois a cada dia que passa a vida naquela redacção tem sido «cada um por si, Deus para todos » e «quem pode, aguenta, senão desiste». O trabalhador que nada tem a ver com a área de informação tem mais regalias que o fazedor daquilo que caracteriza a ANGOP, a informação. Sacrificam-se, labutam à noite e nem sequer têm um bebedor na redacção ou direito a, pelo menos, uma chávena de café.

Do pouco salário que aufere, o jornalista é obrigado a descontar também a sua alimentação e transporte para os dias de piquete. «Primeiro, o trabalho é duro para os jornalistas da agência, essa coisa de ficar muito tempo diante do computador é prejudicial e, ainda assim, a empresa não tem como te apoiar se estiveres doente; segundo, não temos direito a alimentação, água, além de que há muitos mosquitos aqui.

Terceiro, pressionam o jornalista para que faça entrega do trabalho, não conseguindo muitas vezes não fazer a devida recolha de dados, por isso, acabamos por cometer erros», queixaram-se. Cada um anda com o seu carro (se tiver) ou de candongueiro, não recebe dinheiro para abastecer a viatura, faz reportagens sozinho e não pode atrasar, porque, senão, vai trabalhar sob uma falta. Muitos terminam o trabalho tarde e não têm apoio da empresa para regressar a casa.

«A BANCA ESTÁ ROTA»

«As pessoas pensam que nós ganhamos bem, é mentira! Estamos muito descontentes com o salário que auferimos, muitos de nós só trabalhamos mesmo porque temos família e precisamos de garantir o seu sustento, não temos alternativas, porque, se aparecesse outra oportunidade, abraçávamos. E isto não é de agora, já perdemos muitos e bons quadros», recordaram.

Diante deste quadro, os jornalistas tudo fazem para manter o seu compromisso com os internautas, mas não vêem qualquer luz verde no fundo do túnel, pois os seus editores nem sequer conseguem transmitir esperança - «não são corajosos o suficiente para encostar a direcção à parede e dar um basta nisto.» Às vezes, são corrompidos com um saldo, um subsídio de alimentação ou dinheiro para o combustível do carro, mesmo sabendo que também ganham mal.

Não existe entre eles uma comissão sindical – se existe, nunca viram –, pois não funciona, uma vez que os jornalistas estão numa situação e não sabem a quem recorrer. «Não se confia em ninguém, porque existem pessoas que são agraciados com envelopes (com dinheiro) por baixo da mesa. A vontade de elaborar um abaixo-assinado não nos falta, mas como começar ou com quem vamos contar? Uma minoria. A pessoa com quem tu conversas agora, é a mesma que depois vai receber envelope só para dar informações contra ti.Trabalham como bufos», apontaram.

De acordo os nossos interlocutores, foi-lhes dito que a ANGOP está a passar por momentos difíceis, confrontando-se com uma crise financeira.

Apesar disso, tem-se constatado a entrada de novas pessoas para trabalhar na área administrativa, e não só. Perguntam-se como tais funcionários são pagos, se não há dinheiro? Coincidentemente, são sempre sobrinhos, primos ou familiares de algum administrador.

Os nossos interlocutores fizeram ainda menção ao facto de existir na ANGOP, indivíduos que «se acham donos da empresa», tratam as pessoas como bem entendem e nem mesmo a direcção pode tomar medidas.

FALTAS DE RESPEITO

«Uma delas é a dona Maria Inês, editora do Desk-África, que, por ser antiga, falta ao respeito aos colegas e a direcção não se pronuncia contra. Faz informações que não correspondem à verdade só para demitir os outros. A vítima mais recente foi um mais velho, de nome Justino, que trabalhava connosco desde a fundação desde órgão, mas esta senhora fez com que ele fosse parar ao olho da rua», deploraram eles.

Independentemente de alguns serem chefes, o subordinado, às vezes mais velho, é obrigado a engolir os seus gritos, pois se reclamar, lhe será feita uma informação, correndo o risco de ser demitido ou sofrer desconto de metade do salário, durante seis meses.

O Semanário Angolense fez um esforço para contactar a direcção da agência noticiosa e, em particular, o editor chefe, tento até mesmo abortado a saída deste artigo na edição anterior à esta.

Sem exagero, o nosso repórter quase tentou, por uma semana, conversar com responsáveis da Angop e as respostas eram sempre as mesmas: «não estão disponíveis de momento, estão reunidos» ou «já saíram», todas dadas a partir da recepção, uma vez que nenhum visitante entra sem autorização de uma das secretárias desse departamento.

Conseguimos apenas manter um pequeno diálogo, não muito produtivo, com Maria Inês, que começou por dizer que não se iria pronunciar, enquanto o nosso repórter não dissesse quem eram as nossas fintes. Evidentemente, não o fizemos, porque a deontologia jornalística estabelece que não devemos, em momento algum, denunciar as nossas fontes, mais ainda quando estas pedem o anonimato.

O pouco que conseguimos captar da Maria Inês foi: «Não posso dizer nada. Todo e qualquer jornalista que se sinta lesado deve dirigir-se ao Ministério do Trabalho, é lá onde se deve queixar e não a um jornal. Se o meu nome for lesado, naturalmente que eu vou colocar o jornal em tribunal», ameaçou.

Até há duas semanas, o Conselho de Administração da Angop era presidido pelo jornalista Manuel da Conceição, nomeado no cargo de secretário de Estado da Comunicação Social.

Segundo ainda a nossa fonte, ele estava a ser muito contestado pelos seus colegas, devido ao que chamaram «péssima gestão». Acrescentaram que ele era comandado à distância, por Miguel de Carvalho «Wadijimbi», antigo vice-ministro do pelouro e ex-director geral da empresa.