Alemanha - Apesar da minha quase tradição ou vício  em  escrever apenas  sobre os corruptos que governam  Angola de forma tão cruel , brutal e perversa , não podia  deixar de abordar  hoje , de forma tão aberta e frontalmente esta questão de falta de valorização e respeito pela vida dos angolanos. Mas porque se morre tanto em Angola , e porque razão a  morte deixou de causar tanto sofrimento aos angolanos ao ponto de banalizá-la ?

Fonte: Fórum Opinião & Justiça

As estatísticas de mortes  em Angola  são alarmantes , mais como os angolanos já se habituaram  ás  notícias cotidianas  de um mais um óbito aqui e ali , um komba  ou um funeral , acabam por  perder a noção do quanto é dramática esta situação  que se vive no país .

É uma loucura ao qual os angolanos foram se habituando ao longo desses  anos todos em que  quando  não morrem por doença alguns acabam  abatidos ou simplesmente eliminados por serem contra o regime ou mesmo até  por vezes sendo  neutro.

Enfim ,  o quadro é dramático   mais parece não ser motivo de grande  preocupação por parte das autoridades angolanas , senão em vez de estimularem a violência com raptos .

E  elogios á  pessoas conotadas com o mundo do crime  tipo Bento kangamba teriam condenado todas as mortes que acontecem diariamente um pouco por todo país.

E além da tomada de consciência e do reconhecimento do fenómeno como um problema verdadeiro e sério á ser  combatido , o regime mesmo que sendo a farsa que é  , deveria se preocupar em estabelecer políticas efectivas para enfrentar a situação e  se diminuir o numero de casos.
Sebem que a vida do angolano desde á muito que perdeu o seu valor ao ponto das vidas de alguns gatos , cães e bois dos senhores fulanos de tais  serem mais consideradas.

Importa dizer que esta situação piorou  desde  que o regime  estabeleceu para os seus sipáios  uma espécie  de tabela de preços para se perseguir  quem é da oposição , vandalizar residências , carros , raptar , e no último caso  abater.

Foi daí que os angolanos começaram a banalizar  a morte , e a encará-la com grande naturalidade como se o matar alguém , fosse tanto como  chupar um gelado ou comer jinguba torrada.

E a violência começou a estar  cada vez mais  presente em todos os cantos do país , em  especial nas zonas de grande influência da oposição , onde se morre  cada vez mais , e de forma esquisita .

É uma das coisas mais impressionaste actualmente ,  a maneira como a sociedade angolana hoje lida  com  a questão da vida e da  morte de alguém .

Não faz tempo , conversando com um miúdo que tinha por ai pouco mais de 11 anos de idade ,  filho de uma ex funcionária da embaixada de Angola  , perguntei-o se já tinha  alguma  vez   visto uma pessoa morta !

O garoto sem grandes rodeios , respondeu-me de imediato dizendo ;  que não só já tinha visto , mais  que inclusive já  tinha atirado pedras  á mortos , porque se dizia que eram da UNITA .
Foi arrepiante para mim ouvir aquelas palavras daquele garoto ainda na cimente da sua vida ,mesmo estando ele a dizer  a verdade  sobre a valorização que se dá  hoje em Angola pela vida dos outros.

Recordei-me do massacre sangrento ,  contra os simpatizantes , militantes e amigos da UNITA  ocorrido em 1992 , onde até crianças eram armadas pelo regime , para desferirem golpes mortais aos que eles consideravam de inimigo.

Tal qual derrepente se desfilou em minha memória , as imagens dos corpos de Bem Bem , Salupeta Pena e outros que  quando já  feitos cadáveres  foram transformados em brinquedos  para alegria das chefias  que deram as ordens.

Por  quase toda cidade  de Luanda estavam espalhados  corpos esquartejados e sangue salpicando no chão  , dos considerados  kwachas que na versão oficial significava inimigos do povo .

Horrível e aterrorizante  numa cidade onde na altura  não faltaram porcos e cães saciando os cadáveres espalhados um pouco por toda cidade de Luanda.

Isto aconteceu no largo das Ingombotas  por exemplo , todos se recusavam á recolher um cadáver porque estava vestido com uma camisola da UNITA.

Os carros civis e militares circulavam naquela zona em alta velocidade , numa caça desenfreada de tudo e todos que se parecesse com  simpatizante , militante ou amigo da UNITA.

Nunca a vida dos angolanos tinha perdido assim muito do seu valor  como nos dias de hoje , ocasionando uma banalização da própria  morte , com palavras para todos os gostos : -- morreu mal ! quem lhe mandou ser  kwacha !  ou  reacionário de merda !  Hoje vivemos numa sociedade tão perversa onde os valores morais foram invertidos pela classe dominante que não se importa  mascarar a realidade do país , para manter  o povo adormecido. Obrigando o angolano a  lutar permanentemente contra a dor  constante que toma conta dele por falta de sentido de vida , e frustração por não conseguir realizar as suas necessidades mínimas.

Morrer hoje em Angola já não é visto assim com tanta intensidade , e tristeza como antigamente onde  a perca de um ente-querido era sentida  de forma tão dolorosa. Hoje ninguém tem tempo , e nem paciência para se chorar por muito tempo a morte de um familiar por mais íntimo que  este tivesse sido.

Se a morte é o contrário da vida e a vida não é banalizada porque banalizam os angolanos a morte  nos dias de hoje onde quase tudo vale para se manter vivo e dominante ?
São inúmeros os casos de mortes horríveis que se conhece á cada dia que passa e muitas delas  facilmente de se perceber que são encomendadas ou seja  por ordens vindas do epicentro da corrupção em Angola.

Tudo se passando e se organizando como se existisse um departamente , um ministro ou ministério criado para os assuntos relacionados , com os que devem  viver e os que têm ser eliminados.

O contacto tão  frequente entre os angolanos e a morte deixou de afectar a consciência daqueles que mandam matar e deixam morrer tantas crianças , jovens , mulheres e homens em Angola -

Isto sem falar das mortes ocultas  dos serviços secretos , da policia e de grupos especializados em eliminar rastos , que constituem já quase uma epidemia  nacional.

As mortes por acidente de viação , simulados ou não , propositados para apagar quem seguia no carro ou camião tal , os números já barram os olhos e nem sei se algum  angolano  conhece o número exacto.

Porém , a gravidade aconselha medidas urgentes mesmo que o regime seja uma farsa como me referi  , pelo menos para bem dos angolanos e protecção da sua vida deveriam fazer algo.

A ausência de um regime  comprometido com o povo , e a falta de políticas públicas que sejam credíveis abrem o espaço para esse tipo de realidade perversa , revoltante e arrepiante  em Angola.