Luanda  - No constante e incessante ‘pulular’ da luta pela vida “que estamos ‘mbora’ com ele”, o destino e a “história” surpreenderam-me no interior de um dos autocarros da nossa TCUL (Viana-vila – Calumbo), a caminho por assim dizer, dos Zangos, no ‘miolo’ do “machimbombo” alguns jovens “dissabulavam” (como de costume) em ‘alta-voz’, um assunto que “puxou” o interesse de alguns passageiros que se encontravam nos “arredores”;


Fonte: Club-k.net

O exemplo dos ‘Cantineiros’; Senegaleses e Malianos

Porque que, todas as cantinas são Pertença de Senegaleses e Malianos. Claro, tal assunto fez com que milhares de ‘colheradas’ de cogitações vindas de todas as direções, “caíssem no saco”, cada um contribuindo ‘mbora’ a sua maneira, obviamente houve contribuições díspares a maior parte disparatadas, um individuo de quem não se viu as feições ‘dando’ a amálgama de pessoas quais sardinhas na lata quero dizer, machimbombo aliás autocarro, disse; “Eles são Ngapas (feiticeiros)!..” (bem escuso-me de narrar a berraria e a ‘rizaria’  a mistura, que se seguiu a esta nefasta “contribuição”, houve até quem fizesse alusão ao jogo Angola-Mali de triste memória, para reforçar a suspeita do ‘ndungo’ dos Malianos, outros, questionando a utilidade e a presença de tais expatriados em Angola).

Como me encontrava ‘na vizinhança’ dos jovens estudantes que levantaram a ‘lebre’, isto é a questão, e por se tratar de jovens estudantes, não pude deixar de dar a minha servil contribuição; A questão – Iniciei olhando para os olhos de um deles, suando a estopinha do calor e do aperto ‘perfumado’ made-in Catingalândia – está mal ordenada: o âmago da questão – dupliquei para enfase - aqui, um dos jovens arregalou desmesuradamente os olhos, e perguntou-me incrédulo; “Cota, âmago é o que é mais então! Também são estrangeiros?..

Forcei-me a uma necessária pausa, ‘verborreando’ localizei na geografia dos sinónimos o ‘termo’; ruas, ruelas incluindo os becos. Apos visualizar o refolgo no rosto do jovem, passamos adiante.

O âmago da questão – volvi após o interlúdio - é indagarmos, porquê que, os Senegaleses e Malianos, são bombástica e explosivamente bem-sucedidos, num negócio ou ramo de negócio onde pelo que parece, os Angolanos, têm tudo e mais alguma coisa para serem donos e senhores exclusivos do RAMO, da árvore e da Floresta inteirinha?

Fiz questão, para melhor compreensão de descrever aos jovens em particular e a todos quanto se prestaram a escutar-me dois exemplos práticos que qualquer um pode observar no deambular do dia-a-dia, quase que, como; “histórias reais da banda”.

A MINHA MÃE

A minha mãe já na bonita idade de 75 cacimbos (isso de primaveras é lá pra outras bandas), quando da chegada dos primeiros Senegaleses e Malianos (porque é difícil distinguir uns e outros, são todos Mohamed e Babadou), minha progenitora dirigiu-se na primeira cantina dos ‘tais’, localizada na rua dos Funantes vulgo rua do Posto 15 (abomino a designação rua do Petroff), no bairro Prenda (hoje há mais de meia dúzia), com o intuito de comprar uma garrafa de água mineral fresquinha da silva (com todo o respeito e consideração aos Silvas), a velhota quase que desmaiava ao saber que aquela ‘garrafinha’ de água custava a “esplêndida” quantia de Kz 150.00 a mamã tentou a maneira das ‘gentes’ de Ambaca, meio-português e meio-kimbundo, chamar a atenção do Mamadou (este, não era Babadou); “Filho, se um bidon amarelo de 20-25 litros custa ‘mbora’ Kz 20.00 “úaaaa” como é que esta garrafinha meu filho você está a me cobrar todo esse dinheiro, é pecado… “ahúaa” é porque é água do ‘Putu’? kadyé Tuge úe-vú!

Mamadou, compreendeu a questão, e com todo o respeito pelas cãs da velhota (abro aqui um parêntesis para explicar que todos eles, aparentemente são respeitosos), perguntou a ‘cliente’  porque, estando a água bem barata-baratinha fora da cantina, dirigia-se para o seu estabelecimento para a comprar, a velhota fez saber que, como estava um calor infernal de despelar, por isso a intenção de bem fresquinha (estou me referindo a água, claro).

Mamadou, propôs gentilmente a cândida velhota (de sua graça Maria João) que ela poderia trazer todos os dias de manhã, duas garrafas de água de casa, que ele colocaria as ‘ditosas’ na arca e sem custo nenhum; “a mamã pode ter todos os dias, duas garrafas de água fresquinha em casa”. Mamadou fez questão até de oferecer dois vasilhames para o efeito, colocando as mesmas num saco de plástico.

E todos os dias, religiosamente, a partir daquele ‘evento’, a minha velhota, tinha duas garrafas de água a estalar em casa, até que um dos meus irmãos se propôs a colocar no cubico da mamã uma geleira (o Brazuca, chama ‘mbora’ geladeira).

Antes de “avançar” para o segundo exemplo, quero adicionar um facto, em todas as cantinas dos tais, eles fazem a diferença pela refrescante atenção e consideração revigorante que “banham” literalmente cada cliente: homem, mulher, idosos (não importa a indumentaria ou aparência) e até criancinhas, ao receberem o dinheiro e ao entregarem a ‘encomenda’ mencionam e repetem com boa-disposição; OBRIGADO. Quem não gosta de ser bem tratado, de ser tratado com gentileza? A minha mamã gosta de repetir; “Eles são pretos que tratam os outros pretos como brancos!” - (Ponto final. Sem comentários).

Perguntei aos presentes-ouvintes; Se a minha velha se dirigisse para um estabelecimento comercial de Angolanos, o que fariam a velha? – A mesma voz que antes exclamou FEITICEIROS! Disse; “ah! Papá a velhota seria espancada, esmagada, despelada e chamariam a Policia Anti-terror para prender a coitada da velha, sob acusação de fazer o jogo dos inimigos e invejosos do poder instituído, estamos ‘mbora Malé-Malé’ papá, estamos paiados!” – Apesar do exagero do anonimo, uma ‘pitada’ de verdade-verdadinha tinha na sua ‘sentença’

NA BARBEARIA - NINJA

Não sei, se por modismo ou por comodismo (deve ser ‘mbora’ pelas duas coisas), gosto de exibir a minha cabecinha estilo escovinha, talvez para empurrar para o ‘lixo’, as neves que teimam todas as semanas despontar entre os fios ‘saudáveis’ que assomam na cabecinha. Quem disse que as cãs embelezam a cabeça do homem?!.. (OK! Não é por aí, passemos adiante!).

Dirigi-me a uma barbearia, destas que agora preenchem e ‘embelezam’ as ruas e as esquinas - algumas até com ‘musicaria’ tão alta que mais parece estarem a publicitar a Coca-cola - para “encomendar” mais uma escovinha. Claro é sabido que tais “estabelecimentos” são dirigidos pelos nossos “jovens vigorosos”, os tais a quem pertence o “futuro da nação”.

Dois jovens encontravam-se no interior da ‘loja’ improvisado numa roulotte; um muito ocupado a fazer a escovinha a um individuo (com o semblante subjugado, o que me intrigou) e outro muito ocupado a ver um filme ninja de um dvd. Perguntei se podia ‘encomendar’  o serviço, o que estava a ‘ninjar’ apontou negligente o dedo ao companheiro, sem desgrudar os olhos e a atenção da mágica telinha; “Este aí é que te vai cortar ‘spera’ só um ‘coxi’ PAPOID!”, Perguntei se eles eram donos do negócio ou se empregados, e se o ‘outro’ tinha a habilidade de “cortar” dois clientes em simultâneo. Comecei involuntariamente a ficar desassossegado, sem ainda enxergar o porque do semblante atarracado do ‘colega’ sob o ‘ataque’ da tesoura.

Graças a voluntaria e solidaria intervenção do ‘colega’ – mas sem este, abrir totalmente o ‘jogo’ - que estava a ser ‘escovadinho’; muito relutantemente o “futuro ninja” decidiu levantar-se e aprestar-se a fazer o serviço, mas fez questão de posicionar a cadeira, para que ele não perdesse ‘pitada’ do filme (dvd, que ele poderia ver a qualquer altura e momento) o dito: “Juntar o útil ao agradável” estava materializado diante de mim, para o mal dos meus pecados.

“Mós Cambas” nunca fui tão barbara e literalmente ‘escovado’ numa barbaria aliás barbearia, foi um “xofrimento” (empurrões, cocoricos, a máquina mais parecia um trator atrelado a uma charrua, a passar pelas cicatrizes e curvas da cabecinha – já faço constar 55 cacimbos) enxerguei finalmente e com muita dor, o porque do semblante carregado do ‘colega’ que naquela ‘fase do processo’ já se tinha posto em “fuga”, os jovens dizem,- “tirou o pé”, levando o resto do corpo com o pé, principalmente a cabecinha. “Espertinho” lamuriei triste, com os meus botões. 

Foi com alívio que sai disparado daquela roulotte ‘tipo penitenciaria’, até hoje quando passo nas proximidades da mesma e vejo os ninjas a “massacrar” uma vítima, ou quais ‘cobras’ no exterior da “caixa metálica” a banhar-se ao sol a espera de outras vítimas inocentes, estremeço de assombramento e indignação. Foi num desses dias que prestei a devida atenção a leitura ao ‘reclame’ incutido na parte exterior da roulotte; “Salão de Beleza e Barbaria”, estava tudo explicado, a culpa foi minha, penitenciei-me.- “Cambas um aviso aliás conselho; prestem atenção a ‘coisa’ escrita”.

“Voltando a vaca fria” - No final do dito acontecimento, não deixei de entre as lagrimas, observar aos jovens aprendizes-ninjas o seguinte; “Olha! Vocês deviam desistir deste negócio e abrirem uma ‘videoteca’. Daqui a bocado, veremos os Senegaleses e Malianos abrirem barbearias!” Claro, os tais (barbeiros ninjas) não compreenderam a tirada. “Barbeiros Bárbaros!” Motejei em segredo, efectuando uma bem-sucedida manobra de retirada total, seguindo fielmente os ensinamentos do meu saudoso e já finado Comandante “Não Recua” (nos tempos das gloriosas FAPLA).

“Que Fazer?...”

Benção ou Maldição? Cada um pode tirar ou fazer a sua conclusão. Parafraseando a célebre retórica de Lenine (ou Marx?!); “Que fazer?” Os pais, as famílias, o Governo sobretudo o Ministério da Educação (Ensino de base) sob o auxilio indispensável das igrejas têm (TEMOS) muito que fazer, senão o futuro estará hipotecado e aí sim, cairá a Maldição sobre nós, pondo em serio risco o conceito e a sobrevivência da Nação.

Os exemplos mencionados, suscitou outros “mambos e quejandos” mas, quase todos e fundamentalmente os Jovens estudantes, entenderam o ‘ponto’ do “negócio”. O machimbombo parou no meu ‘ponto’, solicitando “mi dá licença” esgueirei-me por entre a mescla de pessoas, “desinfiltrei-me” da ‘lata’ quero dizer do machimbombo, no Zango III. Uma interior e agradável sensação encheu-me o espirito, o sentimento de ter sido ÚTIL. Porem proveniente do interior da ‘Lata’, uma voz (a tal) ansiosa ainda se fez ouvir estridente com metálica intonação;

“Cota e os Chineses?”

“Vamos fazer mais como então!”- ‘Atirei’ preocupado para os meus botões.

Lembrei-me com nostalgia o judicioso proverbio; “ A abundante educação (não confundir com Instrução) de berço, conjugada com abundante instrução (não confundir com educação) é que, resulta em BENÇÃO, para as Famílias e consequente ESTABILIDADE de qualquer Nação.

O “DISTRIBUIR MELHOR” deveria ter essa aspiração como principal objectivo aí sim; “crescíamos mais e com segurança” para a felicidade de TODA a Nação.


Isomar Pedro Gomes