Alemanha - Em comum José Eduardo dos Santos e Wen Jiabao têm o facto de ambos serem homens de poder. Mas também há diferenças: é mais fácil um poderoso enriquecer em Angola do que na China. Em especial se tiver o apelido certo. Na semana passada, o jornal “New York Times” revelou que a família do primeiro-ministro chinês Wen Jiabao acumulou uma fortuna de pelo menos de 2,7 mil milhões de dólares" . Em Angola, a riqueza do presidente José Eduardo dos Santos está avaliada em 20 mil milhões de dólares.

Fonte: DW

Será, então, possível estabelecer um paralelismo entre as riquezas da família de Jiabao e a família de dos Santos? A Rádio DW África conversou sobre o tema com o analista e economista angolano Justino Pinto de Andrade.

DW: Há semelhanças entre a acumulação de fortuna de Wen Jiabao e a de Eduardo dos Santos?

JPA: O mecanismo através do qual ambos conseguiram a riqueza é o poder político e por isso há esse paralelismo. Em comum há também o facto de ambas as riquezas serem riquezas escondidas, embora no caso de José Eduardo dos Santos alguma da riqueza é assumida pela sua filha Isabel dos Santos.

Agora em termos de dimensão a fortuna do primeiro-ministro chinês, avaliada em 2,7 mil milhões de dólares é dez vezes inferior à de José Eduardo dos Santos que se estima seja de mais 20 mil milhões dólares. Há outra diferença que é preciso levar em comparação, um é "apenas" o primeiro-ministro, o outro é o presidente, o chefe do executivo, o senhor absoluto do poder em Angola, o que não acontece necessariamente na China na medida em que a China é uma oligarquia e em Angola o poder é autocrático. Normalmente os ditadores autocratas têm mais possibilidades de acumulação de riqueza e de forma mais rápida do que um elemento da oligarquia chinesa.

DW: Têm sido tecidas algumas críticas à falta de transparência nos negócios entre a China e Angola considera que também neste ponto pode ser estabelecido algum paralelismo?

JPA: É difícil se há um ponto em comum em relação à apropriação de valores que resulta da política de empréstimos entre os dois países. Em relação ao dinheiro público que é emprestado Estado a Estado não há muito campo para apropriação na medida em que os chineses controlam esse tipo de situação. O que acontece é no nosso caso além de empréstimos de Estado a Estado temos empréstimos com instituições financeiras que sendo do Estado chinês não são o Estado chinês. É através dessas instituições que é drenada alguma riqueza para contas privadas quer de um outro ou do outro.

DW: Quando saiu a notícia no New York Times o regime chinês bloqueou as pesquisas na internet, em Angola o Semanário Angolense foi censurado por ter um discurso do líder da UNITA critico a José Eduardo dos Santos. Existe aqui um modelo de censura idêntico?

JPA: Não o modelo de censura não é idêntico. O modelo de censura angolano é mais sofisticado do que o chinês. O modelo de censura chinês é assumido como um dos mecanismos do partido, em Angola não, o discurso de legitimação passa pela ideia de democracia pela ideia de pluralismo. Não é um órgão exterior que impede o jornal de circular é o próprio dono do jornal que decide que desta vez não circula. Só que o dono do jornal faz parte do grupo do poder e por isso é evidentemente um mecanismo de censura e de controlo da opinião pública nacional.