Brasil  - A profissão de professor nos dias de hoje é um factor que assume grande importância no modo de ser e de existir do ser humano. Neste sentido, os modos de ser, de agir e de pensar do indivíduo têm íntima relação com o seu exercício profissional, não sendo possível, portanto, separar a sua linda profissão da sua vida pessoal e social, mesmo quando omitimos opiniões contrárias ou de aceitação da estreita relação existente entre essas áreas da vida. De qualquer forma, separar tais áreas representa uma tentativa de negação do ser humano que somente se realiza se atinge suas metas no desenvolvimento das acções advindas da atividade produtiva.


Fonte: Club-k.net


 A profissão professor, entendida por Paviani (1988, p.107) ”[...] como o acto de professorar, de exercer publicamente uma função ou modo de ser habitual”, torna transparente a condição social do indivíduo, uma vez que ser profissional implica um compromisso social, estabelecer vínculos tanto no aspecto jurídico como no aspecto existencial do ser humano. Neste contexto, questões referentes à prática profissional são de extrema importância. A questão ética profissional, partindo de pressupostos éticos básicos como as virtudes práticas pertencentes ao comportamento do homem, estabelece uma moral universal, validada como bem comum, a qual todos os homens devem seguir.


A ética profissional, de cada carreira ou profissão está organizada em manuais orientadores, em forma de regulamentos com os códigos específicos de cada área de aplicação, entretanto, o comportamento ético do professor nem sempre é objecto de estudo, devido provavelmente à ausência de manuais orientadores, com o código ético que regulamente as atividades do professor.


Todavia, não é a ausência de um código ético que impede a reflexão sobre o comportamento ético do professor, pois o professor, enquanto aquele que professa, enquanto profissional da educação, não apenas acrescenta a dimensão ética em suas acções cotidianas como também realiza, por excelência, uma atividade essencialmente ética. O professor, enquanto professor e profissional enfrenta a questão ética no que concerne ao acto humano de ensinar e orientar o educando e também no que se refere às normas específicas do exercício da profissão.


Vivemos hoje uma situação caótica, de desordem, em que a hipocrisia tem dado o tom de uma perversão hedionda e cruel tanto no plano da realidade como no plano dos discursos? Vivemos uma crise ética?, ou melhor, a ética está em crise? Os paradigmas que norteiam a sociedade capitalista transformam valores consagrados que paulatinamente foram superados por interesses de mercado que contradizem os direitos fundamentais do ser humano e do bem comum.


A situação é contraditória, pois se por um lado ainda não se tem uma resposta definitiva ao melhor e mais adequado modo de agir e nem tão pouco sobre os valores que devem determinar um padrão de comportamento que deve ser seguido por todos os seres humanos, por outro lado, mesmo com a consciência dessa ambiguidade, há sempre uma tentativa de se resolver os problemas éticos, que atinge uma voracidade incontrolável na sociedade da qual fazemos parte.

Neste contexto, vale ressaltar que a crise ética é universal, ou seja, atinge a todos os homens, uma vez que a ético é inerente à vida humana. Nenhum ser humano pode ver-se livre da necessidade constante de escolher, de decidir, de agir de forma prudente no contexto social em que vive.

Neste sentido, ao realizar estas escolhas e agir de forma prudente é no discurso racional que aparentemente a crise ética encontra solução. Todavia, por mais que se fale sobre os valores éticos, estes se encontram muito aquém e bem além do conhecimento do bem e do mal, do valor e do não valor, do dever e do não dever. Entretanto, a impossibilidade de definir a ética em uma linguagem científica e objectiva não exime-nos da aceitação de sua existência.

O ethos, no sentido grego, como a casa do homem, como conjunto de costumes e padrões de comportamentos é anterior à explicação racional. Tendo a sua existência assegurada, é neste momento que a razão aparece e que surge a crise ética, pois do ponto de vista histórico a ética seguiu o destino da razão. A razão determinou o que é ético e não ético.

O conflito ético então se realiza nas acções cotidianas, em que o ético se impõe como normativo e não por argumentos racionais, concretizando-se apenas como força e virtude e não como conhecimento, como discurso reflexivo. A ética é muito mais do que normas práticas: é a origem da norma, que supõe a boa conduta das acções. A ética está naturalmente presente nas condutas humanas, entretanto, não pode ser reduzido a normas que se destinam a adequar a acção humana ao contexto, à situação.


Assim, em se tratando do professor, podemos estabelecer dois níveis de postura ética: enquanto professor, cuja função é conduzir, influênciar, e decidir sobre a conduta do outro e enquanto profissional que tem por tarefa ensinar, treinar e habilitar outros a exercerem determinadas profissões. Entretanto, de um modo ou de outro, seja na dimensão política, ou pedagógica, por ser acção e processo antes de resultado, a prática docente inevitavelmente está implicada em uma dimensão ética.


No campo científico, o professor, ao buscar os fundamentos de sua prática profissional nas metodologias, enfrenta o problema das relações entre a ciência e a ética, pois todo o fazer científico, o processo de ensino e aprendizagem do fazer científico apresenta uma dimensão ética, uma vez que o ensino não envolve apenas conhecimentos acumulados ao longo das gerações, envolve também a aplicação desse conhecimento, implicando em valorização e em decisão.


Assim, o comportamento científico do professor requer maneiras de agir, regras e costumes que refletem ou colidem com a moral e a ideologia dominante.


Neste sentido, é possível considerar alguns aspectos, como não haver diferenças entre teoria e acção, ou seja, com as questões científicas e as metodologias que o orienta a ensinar. O agir do professor deve ser coerente com o seu falar, com o seu discursar. Tal defesa está alicerçada no pressuposto de que deve haver na prática do professor uma coerência entre teoria e acção, entre o discurso e o fazer, não podendo haver contradições, sob pena de falsificar o que se pretende ensinar, como certamente vem acontecendo em nossas escolas.


Conclui-se então que a formação ética é um elemento imprescindível quando se fala em qualidade das relações na escola, e neste sentido devemos privilegiar na formação profissional discussões sobre o comportamento do profissional docente, pois o comportamento ético é a condição essencial para a construção de um bom profissional que vai relacionar-se com o outro homem em seu oficio de professor.