Não importa quem  está em volta delas , desde o homem mais poderoso e vitalício, até para quem se encontra na turma dos inconformados e assustado, o objetivo é só um: agradar  o gênero e bajular o mesmo. Em volta da mesma, hoje, até instituições  criam-se. Homens rendem-se aos caprichos do Gênero, a corrupção em nome delas transforma-se num fenômeno assanhado e necessário. Virou instrumento de conquista para elevar  e enaltecer  o Gênero. –Viva o Gênero!

O Gênero hoje tem tanto poder que jamais  mulher alguma nestas terras conquistou. A Rainha Ginga N’Bandi  com todos os seus escravos, todo o seu Reino e súditos invejaria o Gênero. Que hoje, quando quer se divertir, comanda simplesmente um club de futebol.  Ou ainda, que é simplesmente deputada quando acha que deve brincar de fazer política, e se quiser dona de empresas de petróleo, dona da TPA2, dona de Empresas de comunicação e de empresas de petróleo. O Gênero aparenta ser simples, tão simples como uma flor, mas que nunca teve o preço  e valor de uma flor.O Gênero  passou a ser a flor mais cara e merecida. É uma flor  que jardim nenhum suporta, talvez de tanta inveja; e qual jardineiro, ou jardineiros para paparicar a mesma?

Ela  deixou de ser cobiçada por ser tão importante e estar a cima de  todos, estar além  da possibilidade  dos mortais dessa terra; passou a ser algo impossível, nem os sonhos podem alcançar o Gênero. O Gênero tem êxito conquistado  em situações que ninguém  pode contestar, pelo menos assim fingimos. O  Gênero pode mais que todos os gêneros!

Que  bom que os tempos mudaram. Hoje o Gênero, mesmo de pano, de saia ou de calças pode mandar  e desmandar. O Gênero de tanto poder e ambição,  rodeado de tantos  privilégios difusos, tornou-se inconquistável para um mortal comum, e que diria para um Mwangolé! Só resta a este venerar, até onde não poder mais, venerar e glorificar o Gênero. Venerar como um escravo e não como um homem!

O  Gênero hoje deixou de ser poetisa  ou mesmo aquela lutadora incansável, aquela brava mulher, que durante muitos anos e até séculos caracterizou a força implacável com que minha avó resistiu a agressão e a violência colonial. O Gênero hoje está  na apoteose! Talvez precisando mais  e mais, e mais, e mais de luzes! Talvez das luzes que vêm dos nossos olhares. O Gênero não precisa das luzes das estrelas ou mesmo dos deuses, são poucas para ela! Ela, ou  o  Gênero,  precisa da luz a que sai de cada um de nós, daquela luz que sai dos nossos olhares famintos,  triste e suplicadores.

O Gênero  também pode ser visto como o sacrifício dos 500 anos de luta contra o colonialismo português, que ainda tenta gravitar em volta de uma tradição, mas seu  êxito é tão estrondoso que segue a trajetória de uma parábola que está longe de ser definida pela transparência. E pela vida comum que qualquer um dos mortais pediria como mínimo  para poder continuar a sonhar com as estrelas.Ou mesmo poder levantar o rosto e ainda ver as estrelas, se elas não forem ofuscadas pela  imensa  radiação que o Gênero  emite  e reflete.

Quem diria que depois de tantos sacrifícios e promessas hoje continuamos a sonhar, tanto quanto no passado ou no antigamente!? Quem diria que mesmo depois de  Ginga N’Bandi hoje continuamos súditos e servos!? Em determinadas circunstâncias, por tanta bajulação e submissão, chegamos a ser igual que aquela turma de escravos que  acompanhava à corte.

Está parecendo um discurso antiquado? Mas quem sabe daqui a  cem anos agente aprende  a reivindicar  um pouco mais sobre a distribuição de riquezas  e poderes. Esse poder e riqueza que se acumulou tanto em nome de poucas pessoas, em nome de poucas entidades, para o benefício de poucas pessoas. Esse poder e riqueza usurpado  de todos nós e que hoje  já não respeita: o delírio, os sonhos, as visões, as crenças  e a fé que minha avó tinha para com um possível futuro que hoje transformou-se em presente. Esse  poder que se afasta  de todas essas  crenças e visões  seguindo uma trajetória parabólica;  está cada vez mais longe de todos nós!  


Costuma se  dizer  que no mundo animal, o ser humano é o único que tem capacidade de  compartir aquilo que tem com os outros. Essa capacidade de repartir, distribuir  e compartir,  longe de ser altruísmo,  é também produto   de milhões de anos de evolução. Principalmente,  quando o produto ( a riqueza, o poder ou a influência) da distribuição  é totalmente social.

Meu destino e existência estarão  condenados  a qualquer sacrifício  se alguém me provar que tudo isso aí é obra individual.


Nelo de Carvalho, WWW.a-patria.net
Fonte: Club-k.net