Luanda – A transmissão vertical do VIH de mãe para filho é um problema de saúde pública a nível mundial e de África, em particular. Dulcelina Serrano, directora do Instituto Nacional de Luta Contra o Sida, disse à reportagem do Jornal de Angola que, a cobertura em África é de apenas 50 por cento. Muitas mulheres com conhecimento recusam-se a fazer o teste. Há um programa nacional que tem como objectivo oferecer às mulheres grávidas a possibilidade de fazer o teste.
Fonte: JA
Catarina da Silva vive no município de Viana, não sabe ler nem escrever. Ocasionalmente escuta rádio e assiste canais de televisão, principalmente a pública. Analfabeta, Catarina nunca tinha ouvido falar detalhadamente sobre as doenças sexualmente transmissíveis. De 37 anos de idade, teve uma relação desprotegida porque se sentia segura ao lado do seu parceiro. Hoje, mãe de três filhos, Catarina descobriu que é seropositiva, quando o seu último filho começou a perder peso. A criança contraiu o vírus HIV durante ou depois do parto.
Catarina da Silva disse ainda que só agora está informada sobre o corte de transmissão vertical, uma vez que só descobriu o seu estado serológico depois do nascimento do seu filho cassule, através da informação da equipa médica. “Agora que já estou informada, caso engravidar vou dar todas as informações às enfermeiras e médicos, para que eles façam o corte de transmissão vertical para que a criança nasça saudável e livre do Sida”, frisou com uma certa tristeza.
O analfabetismo não é a única causa da contaminação do Sida. Domingas Sebastião sabe ler e escrever. Tem quatro filhos e descobriu que é seropositiva no primeiro mês de gravidez do seu quarto filho.
De 25 anos de idade, reconheceu que caso o seu filho venha a ser infectado não será por falta de conhecimento, mas sim por negligência. “Outras vezes vou à consulta, outras não. Mas como quero manter o meu filho saudável, juro fazer tudo para ele estar livre dessa infecção, isto é não amamentar”, referiu.
Diferente da realidade da maioria das mães seropositivas, está a funcionária pública, Cipriana Manuel. Ela contou à reportagem do Jornal de Angola que tem todo o apoio do marido e nunca foi menosprezada por familiares, colegas e vizinhos. “Nestes casos não adianta ter vergonha. É bom dar a cara e cumprir rigorosamente com as prescrições médicas, porque hoje no mundo há doenças que matam mais que o Sida”, disse.
Plano Nacional
A transmissão vertical do VIH de mãe para filho é um problema de saúde pública a nível mundial e de África, em particular. A directora do Instituto Nacional de Luta Conta o Sida, Dulcelina Serrano, disse que estima-se que cerca de 1.360.000 mulheres que estão infectadas necessitam de tratamento antiretroviral para a prevenção da transmissão do VIH de mãe para o filho.
Dulcelina Serrano reconheceu que a cobertura total em África é de apenas 50 por cento. “Em Angola pelo menos centenas de mulheres grávidas estão infectadas com VIH e a cobertura para a prevenção da não transmissão da doença de mãe para filho é apenas de 20 por cento”, explicou a directora.
Há indicações de que as altas taxas de mortalidade materna, neonatal e infantil estão ligadas à falta de interacção entre os vários sectores de saúde, garantiu a directora. “Caso haja interacção dos diferentes sectores, há um papel fundamental na oferta dos serviços de prevenção e transmissão vertical”, alertou.
O Instituto Nacional de Luta Conta o Sida apresentou, recentemente, o Plano Nacional de Eliminação da Transmissão do VIH de mãe para filho 2012 até 2015. Este programa, explica Dulcelina Serrano, tem como objectivo oferecer à mulher grávida a possibilidade de fazer o teste do VIH e, dependendo do resultado, ser acompanhada para prevenir a transmissão do vírus à criança caso o teste seja positivo.
“Pretende-se com esse plano uma abordagem que começa a partir do planeamento familiar, onde será transmitida toda a informação sobre a transmissão e a prevenção e o teste de VIH que é rápido, onde o resultado é obtido em alguns minutos, para que elas fiquem já a saber da sua condição serológica relativamente à infecção”, disse.
Se no planeamento familiar o teste for negativo ela, referiu, é orientada de forma a manter-se sempre negativa. Se for positiva, é também aconselhada das vantagens e desvantagens de engravidar e do período mais adequado caso ela opte por engravidar. O plano visa, também, fazer com que a oferta destes serviços esteja acessível a nível comunitário. Por isso “é que eles são integrados na abordagem dos cuidados de saúde primário no âmbito da municipalização dos serviços de saúde”, acrescentou.
Questionada sobre a possibilidade de se abrir outras unidades hospitalares de referência como o Hospital Esperança, Dulcelina Serrano disse que essa unidade é especificamente para atender pacientes infectados com VIH.
“Com os recursos humanos que temos, não podemos chegar aí, porque o paciente com VIH não apresenta uma infecção específica pelo facto de ele estar infectado. Normalmente apresenta um conjunto de infecções que precisam da intervenção de profissionais de várias especialidades. Logo, para se criar este tipo de hospital verticalizado é necessário ter vários especialistas a funcionarem, o que de momento não é possível”, frisou.
Adiantou que “para se minimizar esta situação o que se orienta a nível internacional é o acompanhamento às pessoas infectadas onde são avaliados e medicados com especialista para a patologia que o paciente apresentar”.
No Hospital Esperança sempre que o paciente apresenta uma patologia cujos médicos presentes não estejam especializados para prestar assistência médico-medicamentosa, é evacuado para outras unidades de saúde especializada como os serviços de oncologia, oftalmologia, dermatologia, cardiologia, etc.
A falta de antiretrovirais
Questionada sobre a falta de antiretrovirais que se registou no mês de Outubro, a directora do Instituto respondeu que “nunca houve falta, mas sim alguns constituintes que devem ser ingeridos com antiretrovirais”. O conjunto de medicamentos que o paciente que padece de VIH deve utilizar, frisou, são ziduvudina a lamivudina e a nevirapina. “A utilização errada pode provocar outras sequelas”, garantiu.
Abandono do tratamento
Estar aparentemente saudável e não reconhecer a importância da infecção pelo vírus e não considerar o seu estado de saúde preocupante é, segundo a directora do Instituto, uma das causas que leva muitas mulheres grávidas infectadas pelo VIH a desistirem do tratamento.
“Se a mulher não estiver suficientemente informada sobre a importância de tomar os antiretrovirais, ela pode parecer saudável. E como parece saudável, não cumpre com rigor as orientações médicas. Às vezes é nossa falha. Nós devemos passar a informação, a sensibilização a partir das consultas pré-natal e de planeamento familiar.
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