Jiang Yu, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que o navio An Yue Jiang desistiu de entregar sua carga de seis contêineres de munições ao Zimbábue, optando por regressar à China.

"Quanto à recusa dos países em receber o cargueiro, a minha explicação é clara. Esperamos que os países envolvidos compreendam que se trata de uma transação comercial normal", disse a porta-voz da diplomacia chinesa, Jiang Yu, respondendo a uma pergunta da Agência Lusa sobre a recusa de Moçambique e Angola em deixar aportar o An Yue Jiang.

"Uma vez que o Zimbábue não recebeu o carregamento a tempo, a empresa transportadora vai trazer a carga de volta para a China", garantiu Jiang.

A porta-voz insistiu também que a China espera ver o assunto tratado como uma "transação normal de produtos militares" e que Pequim "espera que as partes envolvidas não tentem politizar o caso ou usá-lo para fins sensacionalistas".

O cargueiro An Yue Jiang, da empresa estatal chinesa de navegação Cosco, abandonou na sexta-feira as águas sul-africanas depois de um tribunal de Durban, África do Sul, ter impedido que as munições fossem transportadas através do país para o Zimbábue.

O navio partiu depois em direção a Angola, onde esperava aportar, segundo disse à Reuters Paulo Zucula, ministro dos Transportes e Comunicações de Moçambique, país que recusou a entrada da embarcação.

No entanto, Luanda também não deu autorização para o An Yue Jiang aportar em Angola, afirmou à rádio angolana LAC o diretor do Instituto dos Portos do país,
Filomeno Mendonça.

"Esse navio não pediu autorização para entrar em águas territoriais angolanas e não está autorizado a entrar em portos angolanos. Avisamos os nossos portos que o navio não tem autorização para entrar em Angola e por isso não receberá assistência em Angola", afirmou Filomeno Mendonça.

O navio transportava três milhões de munições para espingardas automáticas AK-47, 1.500 RPG (morteiros com autopropulsão) e mais de três mil granadas de morteiro.

O supremo tribunal de Durban não deu permissão para o transporte do armamento para o Zimbábue, que não tem acesso ao mar, por recear que a carga do An Yue Jiang pudesse alimentar a tensão política no país, cuja comissão eleitoral ainda não divulgou os resultados das eleições presidenciais de 29 de março.

Jiang Yu, no entanto, se esforçou nesta terça-feira para desvincular o envio de munições da crise no país africano, afirmando que "o contrato foi assinado no ano passado e não tem nada a ver com a situação atual no Zimbábue".

"O governo chinês mantém uma atitude de prudência e precaução quanto à venda de material militar. Um dos princípios mais importantes é o de não interferir nos assuntos internos de outros países, e esperamos que as partes envolvidas não politizem a questão", disse a porta-voz.

A oposição no Zimbábue afirma que pelo menos dez pessoas foram mortas desde 29 de março, 400 militantes detidos, três mil pessoas obrigadas a abandonar suas casas e mais de 500 estão hospitalizadas.

Em fevereiro, um relatório da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Europeu apelou à União Européia para que pressione a China a deixar de vender armas aos países africanos e, em particular, ao Zimbábue.


Fonte: Lusa