Luanda - Lucas Ngonda é o presidente da FNLA e foi eleito deputado. Representa os angolanos na Assembleia Nacional. Isaías Chitombi é general das FAA na reserva e dirigente da UNITA. Representa ou representou o seu partido na Comissão Nacional Eleitoral. Ambos servem o país como podem e sabem. Quanto mais não seja por isso, merecem respeito e consideração. Mas como qualquer outro cidadão angolano, eles têm o direito à honra, ao bom-nome e à consideração social.

Fonte: JA

Os assassinatos anunciados

Apesar de estarem protegidos pela Constituição da República, Isaías e Lucas estão a ser assassinados nas páginas de alguns jornais, useiros e vezeiros nos crimes de abuso de liberdade de imprensa.

Pela milésima vez vou escrever que os crimes de abuso de liberdade de imprensa são, antes de tudo, crimes gravíssimos contra o jornalismo e os jornalistas. Mais uma vez vou protestar publicamente contra um jornalismo que adopta, despudoradamente, a lógica das associações de malfeitores.

O general Isaías Chitombi está a ser assassinado por jornalistas que se julgam ao mesmo tempo investigadores, titulares da acção penal e magistrados judiciais. O seu nome é trucidado em jornais arvorados em Tribunais.

Com base em fontes anónimas, acusam-no de homicídio! Os jornalistas dignos desse nome sabem que quando está em causa a honra, o bom-nome e a consideração social de uma pessoa, qualquer notícia que ponha em causa estes valores, tem de ser confirmada e reconfirmada por três fontes independentes umas das outras. Mas disparam contra Isaías Chitombi apenas com alegações anónimas. Num país onde é premiado quem escreve páginas inteiras com a “chancela” de fontes anónimas, também é possível, com o mesmo método, afirmar ou insinuar que uma figura pública cometeu o crime de homicídio.

As fontes anónimas dão cobertura às mais repugnantes intrigas e aldrabices. Até aqui, a principal vítima era o MPLA e os seus dirigentes. Ou os ministros do seu Executivo. Mais ainda: o Presidente da República. Agora também são vítimas da calúnia, da mentira e da intriga, magistrados do Ministério Público e Judiciais, oficiais das FAA, dirigentes de partidos da oposição.

Uma vez aberta a caixa de Pandora, dificilmente alguém vai conseguir travar aqueles que se servem do jornalismo para assassinar moralmente qualquer cidadão na praça pública, na maior das impunidades.

Em Angola os jornalistas não têm um título profissional, mas alguns servem-se da profissão como se ela seja uma licença para roubar a honra alheia e assassinar moralmente quem se atravessa no seu caminho.

Lucas Ngonda, líder de um partido histórico e deputado eleito à Assembleia Nacional, está a ser vítima de um jornalismo de sarjeta. É notícia de capa pelo menos num jornal que se diz de referência. Depois de assassiná-lo na praça pública, o jornal (?) diz que não publica a sua versão porque não conseguiu contactá-lo. Um deputado da Nação não vive na clandestinidade. Vive na Casa da Democracia. O líder da FNLA não anda está em “parte incerta”. O seu partido tem uma sede central e um gabinete onde ele trabalha quotidianamente.

A notícia é um autêntico assassinato de carácter. Mas também está ferida de parcialidade, o que contraria frontalmente o código de conduta dos jornalistas, aprovado pelas associações patronais e instituições profissionais, entre as quais o Sindicato dos Jornalistas Angolanos.

A notícia onde Lucas Ngonda é assassinado viola grosseiramente a reserva da intimidade da vida privada. Revela claramente que existe um conflito familiar que não pode ser dirimido nas páginas dos jornais. Mas foi. E as provas estão nas primeiras páginas de jornais que se dizem de referência e reclamam para si o estatuto de paladinos da liberdade de imprensa.

Os cidadãos Lucas Ngonda e Isaías Chitombi foram vítimas de assassinatos de carácter nas páginas de alguns jornais. O Procurador-Geral Adjunto da República, Adão Adriano António, o Procurador-Geral, João Maria de Sousa, e a Procuradoria-Geral da República enquanto instituição do Estado Democrático e de Direito, foram gravemente ofendidos nas páginas de outro jornal.

Acabar com estes crimes graves, autênticos atentados à democracia e ao Estado de Direito é dever, em primeira linha, dos jornalistas. Até aqui o bombo da festa era o MPLA, o Executivo, o Presidente da República e seus familiares ou colaboradores mais próximos. Agora é quem estiver à mão. Se não houver uma reacção das instituições profissionais dos jornalistas, em breve não fica pedra sobre pedra.

É preciso ter em atenção esta realidade: quem nos rouba a honra e o bom-nome não fica mais rico. Mas os roubados ficam irremediavelmente mais pobres. Isaías Chitombi e Lucas Ngonda que o digam!

Os jornalistas profissionais não podem pactuar com um jornalismo especializado em assassinatos de carácter nem podem consentir que a lógica das associações de malfeitores determine a evolução e a prática da Imprensa angolana.