Windhoek – No seu livro intitulado “A Insegurança da Liberdade” o Pastor Abraham Heschel escreve que “o homem não é homem por causa daquilo que tem em comum com a terra, mas por causa daquilo que tem em comum com Deus. Os pensadores gregos tentaram entender o homem como parte do universo; os profetas tentaram entender o homem como um parceiro de Deus... Nenhum pastor ou leigo tem o direito de questionar o princípio de que a reverência para Deus é demonstrada na própria reverência ao homem, e o medo que devemos sentir é de magoarmos e humilharmos o ser humano que será o mesmo com Deus”.

Fonte: Club-k.net

Numa sociedade como Angola, cujo o sistema político e de governação foram alicerçados e estão sendo alimentados por preconceitos sociais, políticos e religiosos, e cujas atitudes, políticas e práticas são a repressão, perseguição e exclusão do diferente e a identificação e eliminação do inimigo;

Numa sociedade onde a repressão política, intimidação e a violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais perduram subtilmente e são sistematicamente usadas para manutenção do poder político, económico e social;

Numa sociedade onde a corrupção endémica abunda; o clientelismo, nepotismo e a bajulação transformaram-se em requisitos e padrões da genuína “cidadania” com direitos e privilégios;

Numa sociedade onde os poderes políticos e económicos são os mentores e promotores principais da injustiça social, discriminação, exclusão e do empobrecimento do povo de Deus que na sua maioria são membros das Igrejas tradicionais e legalizadas pelo Governo;

Numa sociedade onde não existe a santidade nem o respeito pela vida e dignidade humana e as leis são sempre usadas para amordaçar os pobres e fracos; Num contexto como este a Verdadeira Igreja de Jesus Cristo não pode esconder a sua indignação moral e espiritual, e muito menos calar-se e pretender que não vêm nada de mal porque tudo esta a melhorar para o povo em 10 anos de paz.

A essência da nossa própria fé em Jesus Cristo é o Amor. Deus não só nos ama, mas Ele é Amor. È este Amor de Deus que chama cada um de Nós à existência e a felicidade. A essência da natureza de Deus é Amor e é neste Amor que todos as pessoas, e repito todas as pessoas sem excepção, até o maluco que come no tambor de lixo, foram criadas: Imagem e Semelhança de Deus – Amor.

A Bíblia exorta-nos que quando aceitamos e recebemos o Amor e a Graça de Deus em Jesus Cristo, assumimos a grande responsabilidade de vivermos não somente como recipientes, mas acima de tudo como canais e instrumentos dos mesmos. Este é o peso que tomamos quando aceitamos Jesus Cristo como Salvador e Mestre.

Contudo, sempre entendi que nem todos os que vão para os seminários são chamados para serem pastores e muito menos profetas. E também acredito não ser necessário. Mas, como pessoas que imitam Jesus Cristo, somos chamados a sermos proféticos e a responder favoravelmente ao chamado de Deus e sermos suas testemunhas a favor dos mais desfavorecidos e injustiçados. Somos chamados a sermos corajosos em exibirmos a ira sagrada no meio de tanta repressão, humilhação, corrupção, injustiça, pobreza, discriminação, exclusão e desgraça humana.

Estou ciente de que não podemos ser todos Arcebispo Desmond Tutu, Rev. Allan Boesak, Rev. Jessé Chiúla Chipenda, Arcebispo Emmanuel Milingo, Bispo Zephaniah  Kameeta ou o Frei João Domingos...Mas por causa do Amor de Deus em nós devemos sim, assumir sériamente o espírito dos profetas do século XIII antes de Cristo e a vida e os ensinamentos do próprio Jesus Cristo.

Como seres humanos, todos temos as mesmas experiências emocionais, incluindo o medo. E é importante relembrar que os profetas nunca foram homens sobrenaturais mas sim seres humanos normais como nós mas que contaram sempre e somente com os recursos do próprio Deus para cumprirem com a sua missão divina.

O Profeta está preocupado com o estabelecimento da justiça social e do temor do povo à fazer a vontade de Deus e exigir que as instituições e os poderes políticos e económicos sejam os veículos e espaços de justiça e solidariedade humana, e caso façam o contrário as mesmas são confrontadas e desafiadas em nome de Deus.

Por seu lado, o Sacerdote está muito mais preocupado com questões de perdão e reconciliação da alma entre as pessoas e Deus.

Isto não significa que o Profeta perde em vista a questão do perdão e da reconciliação. O Pr. Mahefh Chavda no seu livro intitulado “O Poder da Oração e do Jejum” diz que: “a graça de Deus é grátis mas não é barata”. O verdadeiro perdão e a verdadeira reconciliação nunca virão sem a cruz do calvário e da dor.

È um sofrimento que tem de ser partilhado. Uma simples confissão ou admissão do poder político que “os que têm mais devem partilhar com os que têm menos ou nada” não é suficiente. Todos terão de se prostrar perante a cruz do perdão e da reconciliação, e confessarem “porquê que uns poucos têm muito e senão mesmo tudo, e outros que são a esmagadora maioria não tem absolutamente nada”.

A vida dum profeta, moldada segundo a vocação dos profetas do século XIII e dos ensinamentos de Jesus Cristo não leva a nenhuma popularidade. Ser profeta nestes moldes não produz fama nem reconhecimento político ou social e muito menos uma longa vida, mas sim ódio, inveja, calúnia, difamação, perseguição e “ostracismo” mesmo dentro da própria igreja. É um contra senso, não é?

Mas foi assim que aconteceu com os verdadeiros profetas do Deus Vivo e Verdadeiro; foi assim que aconteceu com o Mestre e é assim que acontecerá com todos aqueles que quererão seguir e servir Jesus Cristo em Espírito em espírito e em verdade e carregar a cruz.

Todo o profeta genuíno encontra “uma resistência massiva” não só por parte dos poderes políticos e económicos mas acima de tudo das próprias instituições religiosas tradicionais e caducas; muitas simplesmente clamando e proclamando a sua história passada, mas sem legitimidade nenhuma de representarem ou falarem em nome e do poder de Deus. Muitas delas já deixaram de escutar a voz de Deus à muito tempo e agora só escutam e obedecem a idolatria e o paganismo das tradições e práticas humanas.

Deus é que dá a mensagem ao profeta e este Deus Vivo está presente na vida do profeta; Este Deus não pode ser contido nem controlado por um humano; Ele é Soberano, Supremo e Todo-Poderoso e não precisa de conselhos dos filhos dos homens para agir.

Deus chama o profeta para levar a palavra que está incorporada na vida do profeta. Se Deus estiver na palavra absorvida pela vida do profeta significa que a resistência, o sofrimento, a perseguição e as frustrações do profeta também são de Deus. Quando o profeta é perseguido, discriminado, injuriado, odiado, difamado e caluniado, Deus também sofre.

Em Angola a igreja preferiu ser parceira do poder político e económico e não de Deus. Por causa do medo e interesses financeiros a noiva do Cordeiro casou-se e tomou como parceiro os poderes políticos e económicos e escolheu ser infiel à Deus. A igreja institucional escolheu temer de César porque mata do que a Deus que salva.

PROFETA E SACERDOTE

Gostaria de realçar aqui a diferença entre o Profeta e o Sacerdote na Igreja de Cristo. Na história da fé cristã Jesus Cristo é o expoente máximo desta dualidade Sacerdote e Profeta. Não existem muitas evidências bíblicas de pessoas que tenham assumido esta dupla missão. Muitos pastores hoje, veêm a sua missão como dar somente conforto e protecção espiritual aos seus membros e tudo que tem a haver com problemas sociais, políticos e económicos são áreas proibidas, pertença de César como se César fosse algum pequeno deus. Esquecem-se que ele também é criatura que está sob o olhar de Deus estará perante o julgamento de Deus.

Se eu hoje no meio das turbulências e injustiças políticas, sociais e económicas de Angola tivesse de escolher entre a função do Sacerdote e a do Profeta, escolheria sem dúvida a do Profeta, porque não vejo, nem sinto o que é que o Sacerdote está a fazer para denunciar as injustiças políticas, o empobrecimento do povo de Deus, as violações dos direitos humanos e das liberdades. Não vejo e não sinto nada e é bem possível que eu esteja totalmente errado.

As igrejas em Angola que se identificam com Jesus Cristo, na sua maioria não estão preparadas para abraçarem seriamente o ministério profético porque é polémico e de sofrimento; Umas nem admitem a possibilidade da existência deste ministério; outras preferem exageradamente enaltecer o sacerdotal porque é o mais conveniente, confortável, pacífico e sem riscos ou problemas com e não provoca a ira do poder político e de indivíduos da oligarquia.

As Igrejas hoje se transformaram num refúgio da mediocridade e da bajulação, do fracasso social e da procura pela importância e respeito. A pergunta é: “qual é a vara de medição da nossa vocação ministerial”? São os cultos aos domingos e as “maratonas” ecuménicas no estádio da Cidadela? São as propagandas e publicidades comerciais dos milagres e curas nas rádios, televisões e jornais? Qual é a vara de medição da vocação ministerial das igrejas em Angola hoje?

A Igreja de Cristo em Angola, está a viver a era do Rei Acab, que depois de se casar com uma idólatra e pagã de nome Jezabel, perseguiu e matou os profetas de Deus. O que está acontecer hoje nas Igrejas em Angola não é diferente; elas estão cheias de idolatria e paganismo de tradições e já não existe fé e esperança no único Deus Vivo, Verdadeiro que transforma, cura e renova a vida e as sociedades. Já não existe fé em Deus, mas sim acredita-se muito mais naquilo que já conhecem, que já viram e já sentiram. O Pr. Abraham Heschel dizia: “O princípio que devemos sempre preservar é o de saber o que vemos em vez de ver o que sabemos”.

Que ninguém me entenda mal e afirmo, que há necessidade de existirem sim sacerdotes , mas por causa da urgência e da calamidade política, social e económica de Angola; por causa da corrupção sistémica descontrolada e do enriquecimento ilícito duma minoria e seus familiares; por causa do empobrecimento, discriminação e exclusão da grande maioria do povo de Deus, existe o imperativo da importância da voz profética soar e fazer-se ouvir em Angola e já.

A TAREFA URGENTE DO PROFETA

Existe uma necessidade urgente do surgimento das vozes proféticas em Angola que falam sem medo contra a corrupção e as injustiças e que não se comprometem passiva ou activamente com nenhum sistema político ou partidário preconceituoso, corrupto, opressivo, violento e discriminatório.

Mas como podemos ter profetas nas Igrejas quando os próprios líderes religiosos optaram, por causa do conforto social e económico e medo em sentarem-se nas assembleias dos poderes políticos e económicos corruptos e repressivos? Que reinos estão a servir?
Mas como é que podemos ter profetas nas igrejas quando são os próprios líderes religiosos que exprimem sentimentos e expressões preconceituosas e tribalistas, actos de discriminação e exclusão do povo de Deus e fomentam a divisão, o ódio e apoiando a perseguição e humilhação de outras pessoas mesmo dentro das suas próprias igrejas? 
Que reino estão a servir? Tenho toda a certeza de que não estão a servir o reino de Deus, o Criador e Salvador de toda humanidade.

É urgente o aparecimento de homens e mulheres com autonomia de pensamentos, princípios e valores íntegros alicerçados no amor de Deus, despidos de qualquer preconceito e que não estão preocupados com o que lhes vai acontecer porque acreditam somente em Deus, Criador e Salvador e nada mais.

Os riscos de sermos profetas não estão somente ligados a morte física, mas sim a morte psicológica, social e económica. Mas aqueles que foram chamados, aqueles que acreditam na necessidade da profecia, têm de falar a verdade e não importa quais são as consequências. Temos de falar a verdade mesmo que ela custe a nossa vida, o nosso emprego ou a comunidade religiosa que servimos.

Rev. Allan Boesak no seu escrito entitulado “Walking on Thorns” diz: “O constrangimento de falarmos a verdade sobre Jeova mesmo no meio de tantos riscos, mesmo contra o teu próprio interesse, tentando fazer o que é certo, confiando somente em Deus cuja a voz você escutou, é a distinta marca da profecia”.

A Igreja nunca poderá manter o seu espaço profético se continuar a procurar a aprovação e agradar as oligarquias políticas e económicas que dominam, escravizam e empobrecem o povo de Deus. Esta aprovação e o agradar só faz com que a Igreja perca o seu sentido de autonomia, autoridade e sua razão de existir e falar em nome de Deus. A Igreja de Cristo existe somente para fazer a vontade de Deus agradando o seu Salvador e Mestre, mais nada.

O verdadeiro profeta tem coragem suficiente de fazer saber os seus protestos contra as injustiças e violações perpetradas pelos poderes políticos e económicos sobre o povo de Deus. Ele não se esconde debaixo da batina nem por detrás do clerical e muito menos em lugares climatizados e fechados ao povo; ele fala abertamente contra as violações dos direitos humanos e das liberdades fundamentais; contra a corrupção e a pobreza; o profeta fala contra os abusos e a violência policial sobre os jovens e as mulheres zungueiras; ele fala publicamente sobre a santidade de toda e qualquer vida humana e condena desaparecimentos e assassinatos “levianos” de pessoas (como Ricardo de Melo, Mfulupinga Landu Victor, Kassule, Kamulingue e outros); ele fala, mesmo que isto lhe custe  a sua própria vida ou o lugar que ocupa na igreja; o verdadeiro profeta tem de falar.

O verdadeiro profeta de Deus sabe que a sua vida não é mais valiosa que o Chamamento do Senhor Jesus Cristo! Rev. Martin Luther King Jr. no seu livro intitulado “O Testamento da Esperança” diz: “A cruz que carregamos antecede a coroa que vestimos. Ser cristão, significa tomar e carregar a sua cruz com todas as suas dificuldades, agonias e tensão e carregá-la até que esta mesma cruz deixa as suas marcas sobre nós e salva-nos para um caminho mais excelente que só pode surgir através deste sofrimento”.

A Igreja de Jesus Cristo em Angola está paralítica ou a andar de muletas que são alheias; estão mudas e surdas e perderam toda ligação á tradição profética bíblica; e a pior tragédia é que incorporaram e contaminaram-se com tradições idólatras e pagãs opressivas e impotentes.

UMA NOVA ORDEM SOCIAL, POLÍTICA E ECONÓMICA E MESMO ESPIRITUAL

O Arcebispo Desmond Tutu no seu livro intitulado ‘Crying in the Wilderness “ diz: “Temos de declarar que este mundo (Angola) é um mundo de Deus; e Deus está do lado dos oprimidos, pobres e excluídos. Temos de dizer estas coisas mesmo que tenhamos de sofrer. Isto não é político. Isto é o Evangelho de Jesus Cristo o libertador que nos salvou e ´servimos’. Não podemos ficar calados, porque se ficarmos calados as pedras gritarão bem alto. Vamos ser a Igreja de Cristo que sem medo proclama o Evangelho de Jesus Cristo”.

A responsabilidade social cristã não é fazer com que as coisas sejam fáceis para qualquer grupo de pessoas. Mas sim, melhor para todos por causa do Amor e da Vontade de Deus que liga todas as pessoas. Embora sejamos de diferente origens, regiões, tamanhos e complexidades estamos todos ligados pelo mesmo fio; existe um só Deus, Criador e Pai de Todos; Um Só Salvador e Senhor Jesus Cristo, Um só Espírito Santo que está em todos, ou pelo menos que devia estar.

Fazer com que as coisas sejam fáceis para algumas pessoas é como colocar uma curita numa ferida que na verdade precisa duma cirurgia. Não se pode apaziguar os espíritos/demónios da idolatria, corrupção, pobreza, opressão, sofrimento e dor quando o povo de Deus sofre discriminação, exclusão e extrema indigência. Não faz parte da agenda de Deus promover e praticar a assistência social, mas sim justiça social. As igrejas estão confusas e confundidas pelo evangelho do bálsamo e da curita em vez da cirurgia da renovação e transformação social, política, económica e mesmo espiritual.

Os verdadeiros seguidores de Jesus Cristo têm de adoptar uma ética e atitude permanente  de transformação e renovação radical da nossa sociedade e das próprias igrejas. Deus não faz reformas, Deus transforma, Ele faz tudo novo. E isto, admito, não é uma tarefa fácil. Exige grandes riscos e sacrifício, solidão e desprezo, incluindo a nossa própria vida. E poucos estão preparados e disponíveis para tão grande e sagrada vocação.

Niccolo Maquiavel (1469-1527) conhecido como pai da “política do poder” escreveu: “ Deve ser considerado que não existe nada mais difícil em realizar, nem mais duvidoso de sucesso, nem mais perigoso de gerir, do que iniciar uma nova ordem das coisas. Porque o reformador tem inimigos e adversários em todos aqueles que beneficiam da ordem velha (antiga) e de defensores mornos e indiferentes que beneficiarão da nova ordem. Esta indiferença e o ser morno advém principalmente do medo na perca de privilégios e dos adversários que detêm as leis e as tradições e usam-nas à seu favor; e parcialmente da incredulidade da humanidade que verdadeiramente já não acredita em nada novo até que eles passem pela experiência” –

Infelizmente a fé da Igreja de hoje em Angola é mesmo de “Ver para Crer” e tudo aquilo que não vimos e não sabemos, não cremos e não aceitamos”. “Bem aventurados são aqueles que creram mas não viram”.

Eu disse que Deus não faz reforma as coisas; Deus não reforma os sistemas políticos opressores e corruptos nem as instituições religiosas caducas, repressivas e impotentes; Ele transforma e renova; Ele faz coisas novas: São os homens e as mulheres que pensam e acreditam em reformas, Deus não;  O plano e o propósito de Deus é sempre de transformar, e criar tudo novo. O Apóstolo João encarcerado e exilado na ilha de Patmos chama a isto “Um novo Céu e uma nova Terra”. Uma Nova Ordem!

È muito preocupante ver que os líderes religiosas das igrejas que reclamam e reivindicam serem as “verdadeiras e legalizadas” se alarmam e entram em pânico total sempre quando alguém das suas fileiras decide responder à Deus “eis-me aqui, usa-me Senhor como Lhe apraz”, e novas coisas começam a acontecer.

Quando Jesus Cristo diz que “O tempo está cumprido, e o reino dos céus está próximo, arrependeis e credes no evangelho”, Ele está anunciar uma nova ordem divina para o mundo que Ele próprio criou”; e não as próximas eleições gerais fraudulentas nem a formação do próximo governo corrupto; e muito menos é a próxima eleição farsa do Secretário-geral, Presidente ou fabricação dum Bispo. Não!

O reino dos céus está próximo, e agora! Um teólogo dizia que “este anúncio urgente do reino de Deus nunca vai ser tolerado por aqueles que supra-investiram-se nesta presente era”.

Os verdadeiros servos de Jesus Cristo precisam de fazer ressuscitar o ministério profético em Angola custe o que custar, mesmo que o preço a pagar sejam as suas próprias vidas.

Nunca será fácil estabelecer uma nova ordem; mas também o destino do profeta que procura estabelecer esta nova ordem será sempre incerto e de muita dôr e sofrimento. Se reflectirmos sobre o destino dos profetas dos tempos antigos e recentes, compreendemos claramente o porquê que muitas pessoas trabalham diligentemente a evitarem e a reprimirem o ministério profético nas suas igrejas.
O Rev. Martin Luther King Jr. dizia o seguinte: ”Qualquer discussão sobre a missão do ministério cristão hoje, tem de enfatizar definitivamente a necessidade da profecia. Nem todos os ministros podem ser profetas, mas alguns terão de estar preparados para os desafios deste supremo chamamento e disposto a sofrer corajosamente pela justiça... e que os profetas se levantem e gritem bem alto, assim diz o Senhor e com Amós digam “deixem correr o juízo como as águas, e a justiça como o ribeiro perene”.

A MISSÃO DA IGREJA

A Igreja de Jesus Cristo tem missão de desafiar os sistemas políticos, económicos e religiosos alicerçados no preconceito, na discriminação e exclusão do povo, na injustiça, corrupção e o empobrecimento do povo de Deus. Mas só uma Igreja renovada e transformada; só uma Igreja que já se tenha libertado e purificado da idolatria e paganismo das tradições, dos demónios internos do medo e da bajulação poderá enfaticamente dizer ‘Não’ à todos os sistemas, estruturas e instituições que negam  a justiça social,  as liberdades e os direitos dos cidadãos.

A Igreja de Jesus Cristo que diz ‘Não’ a adoração idólatra e pagã das tradições e que trocam e levam a deformação da imagem de Deus nas pessoas; a Igreja que diz ‘Não’ a Acab e a Jezabel e o seu deus Baal, esta Igreja mobiliza todos os seus recursos espirituais, humanos e materiais e presta testemunho contra todas as práticas que rebaixam e humilham a dignidade humana do povo de Deus; Esta é na verdade a Igreja que se renova e transforma todos os tempos e vive o plano e o propósito do Deus transformador, aquele que faz tudo novo em todos os tempos.

Quando um Pastor aos domingos preocupa-se mais a cobrar dos crentes as ofertas e os dízimos para garantir o seu salário,  mas na realidade é espiritualmente incapaz de condenar os sistemas que produzem o desemprego e atrasam o pagamento dos salários das pessoas; que negam a água, a energia, o emprego, alimentação, saúde e educação para o povo de Deus,  isto significa claramente que o mesmo com o seu silêncio concorda e colabora com os sistemas que empobrecem, escravizam  e humilham o povo de Deus. 

Todos conhecemos a famosa frase do Rev. Martin Luther King Jr. “Deus não irá somente condenar os malfeitores pelas maldades que cometeram, mas também as boas pessoas pelo seu silêncio e por não fazerem aquilo que deviam fazer”.

O Amor de Deus em nós implica uma concentração deliberada sobre as vítimas que os sistemas de corrupção, opressão e exclusão produzem. Nunca foi a escolha e nem é culpa dos pobres em Angola viverem na desgraça e indigência em que se encontram; A realidade que todos sabemos é que muitos gestores do erário público e suas famílias assustadoramente e sem pestanajarem enriquecem-se todos os dia sem deixarem nenhuma migalha para a grande maioria.

E a verdade é que as Igrejas institucionais preferem calar, abandonar o povo a sua sorte e estarem bem  e em paz com os poderes políticos e económicos. E com Deus como é que elas estão? Falamos em nome de Deus e do povo mas não estamos nem com o povo e muito menos com Deus. Somos pastores que amamos mais as nossas vidas do que o Mestre.

É importante lembrarmos que Deus é parcial, assim como foram os profetas e o próprio Senhor Jesus Cristo. O teólogo Karl Barth nos diz que: “Deus sempre toma uma posição apaixonadamente incondicional neste lado contra os arrogantes a favor dos humildes; contra aqueles que já gozam de demasiados direitos e privilégios a favor daqueles cujos direitos são negados e reprimidos”.

Deus é um Deus de preferência e parcialidade, e não de exclusividade e monopólio de preconceituosos e muito menos dos poderes políticos e religiosos que são corruptos e opressores; a sua opção e preferência é sempre pelos pobres, marginalizados e excluídos de Angola e do mundo.

A IGREJA RENOVADA É PROFÉTICA

A Igreja Renovada tem de dizer clara e enfaticamente  que embora Deus ama todas as pessoas, Ele detesta  as artimanhas e mentiras que os políticos usam para causar o empobrecimento e a indigência da maioria do povo. Não podemos aceitar, mesmo que motivados por interesses financeiros ou medo que o que está acontecer em Angola está a agradar a Deus. 

Deus sabe e está a ver tudo. Deus não está cego às injustiças e violações dos governantes contra o seu povo. Nós os pastores é que estamos cegos mesmo tendo olhos. O testemunho que temos de muitas gerações fiéis é que Deus está preocupado com todas pessoas em particular os mais fracos e os pobres, enquanto que o governo e a Igreja em Angola estão mais preocupados com os fortes e os ricos. A igreja institucional tornou-se cúmplice da pobreza, do sofrimento  e da indigência do povo. O seu silêncio é uma traição á missão que lhe foi incumbida.

A Igreja de Cristo tem de se definir de que lado se encontra; não sómente com bonitos comunicados e cartas pastorais mas com a sua própria vida e testemunho; com a vida e o testemunho individual  dos seus pastores e colectiva dos seus membros. Mas a Igreja institucional tem um grande problema, o medo! Por causa do medo os pastores hoje preferem falar da injustiça política, social e económica duma forma generalizada e não temos a coragem de chamarmos os nomes das coisas tais como elas são; Medo que é sinónimo de que amamos mais as nossas vidas do o Salvador e Mestre Jesus Cristo!

Walter Muelder na sua abordagem sobre “o Princípio da Especificção” dizia: “Todas as pessoas devem, numa dada situação desenvolver o valor ou valores específicamente relevantes áquela situação”. Muelder queria esclarecer que nunca é suficiente estarmos meramente cientes dos problemas e da situação em geral, temos de ser mais específicos na nossa abordagem.

Temos de ser específicos e tomar decisões específicas para cada situação. Não é suficiente estarmos a reclamar defender um ideal ou valor; temos de agir para alcançá-lo. Temos de saber o que está certo e o que está errado e não sermos vítimas e cúmplices das circunstâncias. E quando fizermos a distinção do certo e errado, então é necessário fazermos a coisa certa nem que isto custe a nossa posição social, ou mesmo a própria vida.

Que ninguém cometa erro sobre isto: Se você verdadeiramente escolher ser um carregador da cruz de Cristo, tu tens a maior possibilidade de acabares sendo crucificado nela precisamente como Jesus Cristo foi crucificado. Isto não é uma brincadeira, mas um negócio sério. O Rev. Martin Luther king Jr. dizia que “é importante que um homem (mulher) tenha algo de valor que vale a pena morrer por ela”.

Walter Muelder continua e diz que: “a lei da especificação proíbe-nos escapar da decisão existencial. Muitas vezes a teoria ética é ‘idealista’ no sentido de lidar com o bom no geral. Muitas vezes os ideais de serviço parecem muito abstractos e as virtudes morais perfeccionistas, sem relação suficiente aos problemas concretos da consciência ou aos predicamentos das circunstâncias do indivíduo ou do grupo. Ideais arrogantes podem distrair os homens da tarefa presente. Sem conhecimento de particulares o moralista pode ser irresponsável e utópico”

Normalmente as vítimas da opressão, violência e corrupção e do empobrecimento querem discutir um problema político ou social muito particular e pedem uma resposta teológica e éticamente correcta e apropriada. Infelizmente sempre são rápida e violentamente postos de parte com generalidades nas respostas que recebem e que não ajudam resolver os problemas que vivem.

O ministério profético trabalha em questões específicas e para se eliminar a pobreza e indigência, o preconceito, a discriminação e exclusão em Angola e não é necessário esperarmos por “mais produção para se distribuir melhor”. Se tivermos que esperars acreditando nest promessa sem acção então teremos de esperar até a segunda vinda de Jesus Cristo e o povo já não precisará demais nada.

Se pensarmos abordar o problema do empobrecimento das famílias Angolanas; as elevadas taxas de mortalidade materno-infantil, mortes por causa da malaria e diarreias, falta de água, energia, emprego, alimentação, vestuário, saúde e educação na generalidade, nunca se resolverão os problemas do povo como indivíduos ou grupos; Caíremos no fatalismo do não fazer nada porque os “problemas são demasiados grandes” e “o dinheiro não chega para todos mas sim só para alguns” e ultrapassam as nossas capacidades como  executivo e não é do fôro da igreja tratar destes problemas. Esta é a desculpa mais barata, conveniente e confortável que sempre se dá ao povo empobrecido que sofre.

Esta abordagem representa uma clássica e desastrosa violação à nossa própria fé cristã segundo Hebreus 1:1 que nos ensina que “a fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção dos factos que se não vêem”.

A Igreja renovada e profética procura ser clara no tratamento dos assuntos políticos, sociais e económicos mesmo que se escamuteiem os religiosos. È bom falarmos sobre os assuntos gerais da irmandade, ou sobre o pecado, em especial quando é o pecado dos outros e das forças da maldade.

Contudo, existe uma urgência prática em falarmos das coisas mais específicas que hoje oprimem, empobrecem e violam as liberdades e os direitos do povo de Deus em Angola. E estas coisas específicas têm nome, cara, endereço, não são abstractas e nem existem no vazio; o que falta é só termos a coragem e uma fé ousada e firme para mencioná-las tais quais como elas são.

No meu entender a segunda maior ameaça para a Igreja de Cristo em Angola, depois de ‘satanás’, são na verdade os religiosos tradicionalistas que estão entrincheriados nas tradições caducas e impotentes que se perturbam e incomodam fácilmente com tudo e qualquer coisa que é novo e transformador. Foram também assim os sacerdotes, fariseus e escribas no tempo de Jesus Cristo e chegaram ao ponto de conspirarem e participarem no assassinato cruel do Filho de Deus.

Os tradicionalistas não acreditam que Deus é Todo Poderoso para fazer coisas novas em suas próprias vidas, na vida do povo, da Igreja e da sociadade. Eles não acreditam em nada que é novo e inovador; desconfiam de tudo até da própria Bíblia, e defendem a idolatria o paganismo das tradição em substituição à palavra Viva e Poderosa de Deus, só para não perderem o poder e os privilégios.

Os tradicionalistas endurecem os seus corações contra os ensinamentos de Jesus Cristo e insistem em acreditar que o vinho novo tem de ser depositado em “cabaças velhas” e o tecido novo tem de remendar a calça velha”.  Da mesma forma que acreditam que nada de novo pode acontecer na igreja, também não acreditam que os sistemas políticos e económicos têm de ser renovados, transformados e melhorados para servirem com justiça e solidariedade todo o povo de Deus em Angola e não sermos divididos e servidos por conveniências denominacionais e regionais.

James Cone no seu livro “A Teologia Negra de Libertação” diz o seguinte:  “Concretamente, temos de decidir entre o bem e o mal, certo e errado, mas também entre a antiga e a nova era; a antiga é representada pelos opressores, corruptos, exploradores e violência institucional, e a nova é representada pela luta dos mais pobres e dos jovens para serem livres.  Temos de fazer a pergunta: de quem são as acções, aquelas do opressor ou do oprimido estão consistentes com o trabalho de Deus na história da humanidade? Ou acreditamos na vontade de Deus sendo revelada no status quo ou nas acções daqueles que procuram mudar e transformar, mesmo considerados marginais e foras da lei. Não foi assim que chamaram e perseguiram os profetas e mataram Jesus Cristo”?

A Igreja de Cristo não foi chamada para carregar uma almofada e adormecer em templos encapsulados de ar condicionados, fugindo da realidade vivida cá fôra e desta forma pretender que está seguir, servir  e testemunhar Jesus Cristo; mas sim a Igreja é convidada a carregar a sua cruz e seguir as pegadas do Mestre até ao fim e um outro qualquer caminho é totalmente falso e perigoso.

O Afro-Americano James Baldwin no seu livro intitulado “Nobody Knows My Name” diz: “Este é o país (Angola) que terá de ser transformado ‘e renovado’. Não será transformado por qualquer acto de Deus, mas por todos nós, por você e eu. Não acredito mais que nos podemos dar ao luxo de dizer que tudo está fôra das nossas capacidades e das nossas mãos. Nós fizemos a terra em que vivemos e temos de fazê-la melhor. Ninguém mais poderá fazer isto. O mundo ‘Angola’ está diante de nós e precisamos não tomá-lo ou deixá-lo da maneira que o encontramos quando nascemos. Nunca existiu o tempo no futuro em que poderemos trabalhar a nossa salvação. O desafio está no momento, e o tempo é sempre agora!