Em declarações à Agência Lusa em Luanda, o director da Divisão  África e Médio Oriente do MIREX, Mário Feliz, disse não ter a “mínima informação” sobre a viagem do navio chinês para Angola.

A informação de que Angola é o destino do navio de pavilhão chinês foi dada domingo pelo ministro dos Transportes e Comunicações moçambicano, Paulo Zucula, à agência noticiosa Reuters, depois de Moçambique e a África do Sul terem impedido a embarcação de atracar em portos nacionais.

“Sabemos que o registo do seu próximo destino explicita Luanda porque não permitimos que penetrasse em águas moçambicanas sem diligências prévias”, disse Paulo Zucula.

A cadeia televisiva norte-americana CNN avançou por seu lado que, segundo o Departamento Sul-africano de Transportes, o navio tem como destino o porto de Luanda.

A embarcação abandonou águas sul-africanas na sexta-feira, depois de um tribunal de Durban ter recusado que as armas fossem transportadas através do país para o Zimbabué.

Entre as armas transportadas em seis contentores, encontram-se milhões de munições de vários calibres, com predominância do utilizado nas espingardas automáticas AK-47, RPG (morteiros com autopropulsão) e granadas de morteiro.

No entanto, o responsável pela Divisão África e Médio Oriente do MIREX, afirmou não ter “a mínima informação” sobre a viagem do navio para portos angolanos.

Justino Pinto de Andrade, um dos mais respeitados analistas políticos em Angola, alertou entretanto, em declarações à Lusa, que Luanda “correria sérios riscos” de ver a sua reputação “muito beliscada” ao envolver-se num processo de “previsível violência” no Zimbabué, tendo em conta a crise política desencadeada com as eleições gerais de 29 de Março.

Justino Pinto de Andrade recordou que Angola “não pode deixar, apesar das relações que tem com Harare e com Pequim, colocar sob suspeita o seu próprio processo de reconciliação interna por causa desta questão”.

“Mas isso não significa que o barco chinês não se possa dirigir a Luanda para, por exemplo, abastecer ou outro tipo de apoio relativo à sua navegação. Coisa diferente seria descarregar o armamento”, sublinhou.

A ocorrer o descarregamento do navio chinês em Luanda, a viagem para o Zimbabué implicaria atravessar todo o território angolano, cerca de 2000 quilómetros, via Malange, Saurimo, na Lunda Sul, Luena (Moxico) e depois entrar na Zâmbia pelo Alto Zambese, próximo de Cazondo, ou, mais a sul, via Luvuei e Ninda.

A partir daqui, já em território da Zâmbia e utilizando a via mais curta, a carga passaria pela cidade de Mongu e depois, até à fronteira com o Zimbabué, por Livingstone.

Tendo em conta o mau estado de grande parte destas vias em Angola e a época das chuvas, que deixa alguns destes troços praticamente intransitáveis, só para chegar à fronteira com a Zâmbia, na província do Moxico, os camiões com os contentores poderiam necessitar de duas semanas de viagem.

Fonte: Lusa