Padre Pedro de Assunção Sevo Agostinho, conhecido como Padre Sevo, há quatro anos a estudar em Madrid, teve de se deslocar com urgência a Cabinda devido ao agravamento do estado de saúde do seu pai.

Uma vez em Cabinda, apresenta-se de imediato ao bispo, D. Filomeno Vieira Dias, para cumprimentar e justificar da sua viagem. Terminada a visita pessoal no território, Padre Sevo parte para Luanda a fim de regressar a Espanha.

No aeroporto, 15 de Outubro, pelas 19 horas, depois de ter efectuado o «check-in», avançou para o controlo dos passaportes. Aí os homens da DNFA confiscam-lhe o passaporte e dizendo «que fosse ter com o chefe.» O responsável coloca então Padre Sevo numa salinha, sentado com uma zairense, onde ficou durante uma hora.

Preocupado com o aproximar da hora do embarque, o clerigo foi ter com os homens que estavam no controlo. Forçado por estes, o chefe acabou por aceitar o receber. Este, no entanto, não soube explicar-lhe quem emitira a ordem de interdição de saída do país. Alegando apenas «ordens superiores». Mandou-o, finalmente, ter com a Direcção Nacional. Mas também não puderam explicar os motivos não só da interdição, como a retenção do passaporte. Disseram-lhe que voltasse ao aeroporto contactar o chefe máximo da DNFA. Este, também, nada pôde explicar ao sacerdote. Na troca de informações, pelo telemóvel, o sacerdote ainda ouviu uma referência ao ano de 2006 como o ano em que, supostamente, Padre Sevo tivesse cometido um pretenso crime.

A ser verdade, este crime deveria ter ocorrido em Espanha, já que o clérigo se encontra fora de Cabinda desde há quatro anos, 2004, quando D. Paulino Madeca ainda era o bispo de Cabinda. O referido chefe ficou profundamente confuso. Pediu-lhe que voltasse a contactá-lo na segunda-feira, dia 20 de Outubro.

Padre Sevo ainda tentou encontrar o bispo de Cabinda, Filomeno Vieira Dias. Em vão. Disseram-lhe que tinha regressado a Cabinda. Uma vez em Cabinda, dia 17 de Outubro, foi até ao Paço. Qual não foi o seu espanto, quando lhe foi comunicado que o bispo ainda estava em Luanda. Face a todo este imbróglio Padre Sevo é obrigado a permanecer todo o fim-de-semana, profundamente doente, numa clínica da urbe.

A notícia espalhou rapidamente pela cidade. Muitos não queriam acreditar no sucedido. Parecia um autêntico melodrama ou algo surrealista visto que, este ano, quase todos os padres de Cabinda que estão no estrangeiro, muitos deles perfazendo já uma década de expatriação, vieram passar férias e voltaram para as suas paróquias em Portugal. Itália etc… sem que nada lhes acontecesse.

Esta situação fez levantar outra vez a névoa de uma suspeição que gira nas cabeças dos cabindas: a Igreja angolana e o MPLA têm em mira alguns padres, mesmo que estes estejam fora de Cabinda. Padre Sevo nunca viveu nem participou no «conflito» da nomeação de D. Filomeno. Todos, no entanto, especulam que Padre Sevo ter caído na desgraça depois de celebrar uma liturgia da palavra, não missa, apoiado pela Fraternidade do Lubundunu, à noite, durante as cerimónias fúnebres do seu tio Domingos António, ocorrido no dia 11 de Outubro na cidade de Cabinda.

Este gesto deverá ter sido comunicado ao palácio e ao paço. Aqui decidiram, à margem da lei, impor à DNFA barrar ao Padre Sevo o regresso a Espanha. Deixaram-no ir até Luanda, porque se o tivessem feito na fronteira de Cabinda a reacção seria maior e as ilações seriam muito mais evidentes. «No entanto, ninguém tem dúvidas donde veio esta «ordem superior» e comentam que «mais uma vez a comunidade Lubundunu encontra a sua razão de existir e o horizonte do fim da dita crise da Igreja de Cabinda reenviada para as calendas gregas».

«Observadores em Cabinda aguardam o epílogo de mais esta odisseia de um «filho-cabinda.» A partir daí já se vai poder confirmar o que muitos temem: «que muitos cabindas estão condenados a padecer até que o MPLA for poder e a presença angolana for colonial.» A história «prova que todos os colonialismos sempre viveram e sobreviveram apoiados por um poder eclesiástico mais ou menos oculto que justifica as suas guerras contra os inimigos da pátria e abençoa os seus algozes» comentou um religioso em Cabinda.
 
Fonte: PNN Portuguese News Network