Luanda – Tal como se registou em todo país, a UNITA da província da Huíla também realizou – no passado dia 22 de Fevereiro – uma palestra onde o pensamento estratégico do seu líder fundador, Jonas Malheiro Savimbi, foi abordado de forma simples e objectivo. O acto que foi presidido pela sua secretária provincial, Amélia Judith, contou com a presença, não somente dos militantes deste partido, com também da população em geral e mais convidados.

Fonte: Club-k.net

Por fim, este portal publica na íntegra a mensagem proferida pela Amélia Judith aos presentes.

Excelências Senhores Membros da Comissão Política do nosso Partido presentes nessa sala;
Senhores Membros do Comité Provincial do nosso Partido nesta Província da Huíla;
Senhores Membros dos Executivos Provincial e Municipal do Lubango;
Senhores Membros do Comité Municipal do Partido do Lubango;
Companheiras da LIMA;
Companheiros da JURA;
Minhas Senhoras;
Meus Senhores;

O calendário indica-nos que são passados 11 anos desde aquele fatídico dia em que um dos melhores filhos de Angola tombou, em combate libertador na localidade de Lucusse, na província do Moxico. Refiro-me do dia 22 de Fevereiro de 2002, esta memorável data da história de Angola dos nossos dias. Refiro-me, claramente, a morte do Dr. Jonas Malheiro Savimbi.

Este heróico filho de Angola e de África nasceu na localidade do Munhango, uma vila situada ao longo do Caminho de Ferro de Benguela (CFB), no dia 3 de Agosto de 1934. Era filho de Loth Malheiro Savimbi e de Helena Mbundu Sakato Savimbi, ambos devotados cristãos e notáveis educadores não só de seus filhos como de toda a gente em seu redor.

Desde muito cedo e graças a educação que recebia de seus pais, despertou em Jonas Savimbi o espírito patriótico-nacionalista que viria marcar de forma indelével não só o percurso de toda a sua vida totalmente dedicada a pátria, mas também e como consequência o percurso de Angola e de África cujos feitos, a história jamais se olvidará.

Perdem tempo todos aqueles que a todo custo procuram apagar dos anais da história de Angola, de África e do mundo o nome desta resplendente figura do nacionalismo angolano.

Caros Compatriotas,

Terminado o ensino secundário no então Liceu Diogo Cão, nesta cidade do Lubango e porque na altura não havia em Angola instituições do ensino superior, Jonas Malheiro Savimbi parte para Portugal para fazer os estudos universitários.

No discurso de despedida que fez por ocasião da sua partida na Igreja Congregacional da Canata, no Lobito, ante a admiração dos presentes, Jonas Malheiro Savimbi, deixou claro que partia para Portugal em busca da liberdade dos angolanos e da Independência de Angola.
Por isso mesmo, a sua passagem por Portugal foi muito breve, devido a perseguição da polícia política portuguesa, a PIDE-DGS, exilando-se na Suíça onde se formou em Ciências Políticas e Jurídicas, com distinção, na Universidade de Lousane.

Inconformado com a realidade política do seu país, caracterizada pelo colonialismo português e pela brutal exploração do angolano, o Dr. Jonas Savimbi ingressa na UPA (União das Populações de Angola) em 1961. A sua capacidade intelectual associado a uma invulgar destreza política fizeram-se sentir no seio de UPA que de seguida o nomeia Secretário-geral. Sob a sua influência muitos jovens intelectuais angolanos aderiram a UPA dando um novo dinamismo e vigor a este Movimento de Libertação.

Em 1962, correspondendo à necessidade de unidade de todos angolanos no combate contra o colonialismo, o Dr. Jonas Savimbi conseguiu a fusão da UPA e do PDA (Partido Democrático Angolano) de que resultou a FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola). Com o seu contributo neste mesmo ano, foi constituído o GRAE (Governo Revolucionário de Angola no Exílio), primeiro instrumento jurídico-político nacional que teve como Ministro dos Negócios Estrangeiros, exactamente o Dr. Jonas Malheiro Savimbi.

Graças a sua habilidade política/diplomática e apesar da obstacularização do Governo Português e mesmo de alguns sectores nacionalistas angolanos, o GRAE obteve reconhecimento imediato por parte de instituições regionais e internacionais.

O Dr. Jonas Savimbi participou da Fundação da OUA (Organização da Unidade Africana) predecessora da actual UA (União Africana) como Presidente da Comissão de todos os Movimentos de Libertação de África.

Esta Comissão, cujo Secretário era o também nacionalista angolano Mário Pinto de Andrade elaborou um Memorando aos Chefes de Estado Africanos que foi lido na magna Assembleia da OUA pelo veterano político do Quénia, Onginga Ondinga.

O método de trabalho político da direcção da FNLA e principalmente o facto de não se estabelecer no interior de Angola não agradava o revolucionário coerente e dinâmico como era o Dr. Jonas Malheiro Savimbi.

Neste sentido o Dr. Savimbi abandona a UPA para fundar a União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA). Assim, a UNITA tornou-se em mais um espaço de luta onde os angolanos de todas latitudes podiam desenvolver as suas actividades anti-coloniais.

A UNITA foi fundada aos 13 de Março de 1966, no Muangai, província do Moxico para levar a cabo a luta de libertação nacional baseando-se em três elementos fundamentais, a saber:

Direcção do Partido no interior do país;
Contar essencialmente com as nossas próprias forças;
Consciencializar o povo e uni-lo na luta pelos seus direitos inalienáveis; 

Nessa altura esses princípios contrastavam com os dois anteriores movimentos, FNLA e MPLA, que tinham as suas direcções em Kinshasa (ex-Zaire) e Brazaville (Congo), respectivamente.

A 4 de Dezembro de 1966, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi auto-baptiza-se no fogo ao comandar um grupo de homens que ataca o posto administrativo colonial da Kassamba. No entanto, é o dia 25 de Dezembro com o ataque a Teixeira de Sousa que marca o início da luta armada da UNITA contra o regime colonial português e é a partir daí que o mundo confere personalidade política e reconhecimento como movimento de Libertação de Angola.

O Dr. Jonas Savimbi viria no entanto a ser preso no dia 1 de Julho de 1967, por 6 dias na Zâmbia, devido aos ataques da UNITA ao CFB, importante via de escoamento de produtos para aquele país a partir do Porto do Lobito.

A sua libertação ocorreu graças a intervenção do Presidente Nasser, do Egipto, junto do Presidente da Zâmbia, Keneth Kaunda, que acto contínuo, o envia para o Egipto de onde o Dr. Savimbi regressa um ano depois, passando novamente pela Zâmbia mas, desta feita, clandestinamente.

Por ocasião do 25 de Abril de 1974, o Dr. Jonas Savimbi era o único dos dirigentes dos três movimentos de Libertação que se encontrava no interior do país.

Caros Compatriotas e Companheiros

Até aqui estive a falar-vos de um jovem que muito cedo abdicou dos caprichos da juventude e dedicou-se à luta libertadora do seu povo e da terra que o viu nascer. Mas, na verdade do que vos quero falar hoje e porque o contexto político actual do nosso país assim o exige, é das ideias políticas do Dr. Jonas Malheiro Savimbi.

Genuinamente africano, as ideias políticas do Dr. Jonas Malheiro Savimbi emanam do pensamento filosófico Bantu que se fundamentam na solidariedade impregnada na interdependência dos seres humanos.

Por isso ao criar a UNITA no longínquo ano de 1966, estabeleceu cinco princípios básicos cujos fundamentos para além de inquestionáveis provam, hoje, a visão estratégica de um líder preocupado com a construção de uma nação una na diversidade étnica e cultural e na igualdade dos homens.

Esses princípios são:

1 - Liberdade e Independência Total para os homens e para a Pátria mãe;

Este princípio coloca a nu aquilo que hoje ocorre na maioria dos países africanos e no nosso também em que se fala de liberdade de expressão. Por exemplo, mas que o que se fala não pode ser divulgado porque se pensa que alguns povos são propriedades de alguns partidos políticos; onde está a imprensa livre em Angola para difundir livremente as ideias políticas, económicas, sociais e culturais dos angolanos?

O que é que representa hoje a nossa independência, se todos nós dependemos do exterior?

Não são os estrangeiros que nos dão comida como troco das nossas riquezas que pilham diariamente?

Não são os estrangeiros que dominam as actividades económicas em Angola?

Os angolanos não estão remetidos à pobreza?

Não é por causa da pobreza que os menores são explorados nas fazendas na Huíla, Namibe e outras paragens do nosso País?

Estas mesmas crianças vendem bolinhos nas ruas que nem se quer tem direito de os saborear porque a patroa já os contabilizou. Sobre o olhar impávido das entidades competentes todos os dias no Jardim da Céas adolescentes vulgo “catorzinhas” são levadas a prostituir-se em troca das sandálias plásticas “chupas” entre várias situações que em nada dignificam o Angolano, violando todos os dias os propalados direitos das Crianças;

E de abuso os autores da nossa pobreza nos vêem dizer que as algumas crianças vão para essas fazendas com o consentimento dos pais. É claro sem comida em casa como os pais travariam estás crianças? Sem políticas claras para o combate a pobreza, somente se combate os pobres o que os cidadãos fariam?

O BUÉ nos seus objectivos parecia ser uma saída para os pobres a nossa constatação é a credencial dos poucos que conseguiram são, o compadrio, o amiguismo e a militância no partido da situação.

Para outros somente lhes foi extorquido o dinheiro para juntarem documentos destinados ao esquecimento e em alguns casos na nossa província sobre o olhar impávido da guarnição todo sistema de apoio informático foi roubado. Esses são somente alguns exemplos. Alguém, aqui, acredita na independência dum pobre? O pobre pode ser independente?

2 - Democracia assegurada pelo voto do povo através de vários Partidos políticos.

Com muita tristeza temos ouvido alguns dirigentes de partidos políticos, talvez a troco de algumas míseras patacas a desvalorizarem o papel do Dr. Savimbi e da UNITA na sociedade angolana.

Eu quero aqui assegurar-vos, caros companheiros, que foi graças a fidelidade do Dr. Savimbi aos princípios do Muangai que ele empreendeu a longa marcha em busca da liberdade e do multipartidarismo que temos hoje em Angola. Pois, no entender de muitos, Angola tinha um único representante do seu povo.

Graças ao combate pela democracia e pelo multipartidarismo levado a cabo por este revolucionário de “Princípios” temos hoje a realidade de uma democracia, ainda tímida, mas que permite a liberdade de culto religioso, a existência de vários partidos, de associações socioprofissionais etc. etc.

Se o Dr. Savimbi não fosse fiel aos princípios de Muangai teria aceite a integração, o exílio dourado, a amnistia e outras formas de humilhação e por conseguinte não haveria aqui igrejas, nem partidos políticos, nem associações, nem comércio livre. Muitos dirigentes que vemos hoje nas igrejas participaram, eles próprios, na destruição das igrejas. Não é verdade?

3 - Soberania expressa e impregnada na vontade do povo de ter amigos e aliados primando sempre pelos interesses dos angolanos;

O Dr. Savimbi era por uma política de soberania baseada na dinâmica dos factores internos do povo angolano alicerçado nas suas próprias realizações, elementos básicos que permitem estabelecer e reforçar relações de amizade e cooperação com outros povos e nações em igualdade de circunstâncias.

A subalternização de uns povos por outros em face de ajudas como o que se assiste hoje em Angola não encontraria espaço na alma do Dr. Savimbi. Hoje em Angola tudo é determinado pelos estrangeiros. Eles decidem onde exploram o petróleo e os diamantes e depois decidem quanto pagam.

Decidem quando vão reparar as linhas férreas e depois decidem como vão reparar e ainda decidem com quantos estrangeiros vão reparar; Por esta via estão a entrar diversos estrangeiros a pretexto de relacionamentos privilegiados que estão a minar a estrutura social e cultural do povo angolano ao qual tudo falta: emprego, a educação, a saúde e até o direito de viver num ambiente não poluído, os angolanos não têm.

4 - Igualdade de todos os angolanos na Pátria do seu nascimento.


O Dr. Jonas Savimbi defendia para Angola uma sociedade com um quadro jurídico que tenha capacidade e grandeza moral de proteger e dignificar os angolanos na sua multiplicidade étnica, racial, cultural, de classe, da língua, etc. etc.

Defendia que o angolano, pobre ou rico, letrado ou analfabeto, rural ou citadino, branco, mestiço, ou preto, Cokwe ou Bakongo, Kimbundu ou Vassekele, Umbundu ou Kuanhama, sejam iguais perante a lei, tenham as mesmas oportunidades para se superarem da pesada herança colonial de angolano de 1ª, de 2ª ou de 3ª classe.

Infelizmente, hoje em Angola, volvidos 37 anos de independência, o angolano não só não tem dignidade como ficou dividido em apenas duas classes: os ricos que são os governantes e seus parentes próximos e os excluídos das oportunidades e esses abrangem todas as etnias, todas as raças e são de todo o país.

5 - Na busca de soluções económicas, priorizar o campo para beneficiar a cidade.

Conhecedor dos hábitos, costumes e tradições do seu povo, o Dr. Savimbi tinha consciência de que a maioria do povo angolano vive no campo onde pratica a agricultura. As cidades, menos desenvolvidas e inadequadas às tradições africanas não podem acomodar muita gente pois colocar-se-ia o problema do emprego.

Neste sentido, o Dr. Savimbi entendia que uma boa governação angolana deve priorizar o apoio ao campo evitando o êxodo rural para a cidade e a consequente criação de exército de vadios urbanos como se verifica hoje.

Ao ignorar este princípio do Dr. Savimbi o governo actual está a votar a maioria do povo angolano à pobreza com o falso comércio de zungueiro que não passa de uma escravatura patriarcal moderna.

O zungueiro passa o dia nas ruas para vender as mercadorias dos estrangeiros acomodados em sumptuosos armazéns. Do resultado das vendas o zungueiro não ganha dinheiro para a sua alimentação diária e, como que tudo lhe parece difícil resvala-se para a embriagues. Depois o governo, abusivamente, vem lhe oferecer casas para comprar nas novas centralidades ao custo acima dos 150 mil dólares dos EUA. Isto em Luanda que é país, pois noutras províncias que são paisagens, nem podemos falar disso.

Em resultado disso estamos a assistir centralidades vazias que só servem para fazer o ‘’Show’’ às visitas estrangeiras.

Para consubstanciar esta constatação e como sempre o OGE continua apresentar uma excessiva concentração das despesas nos órgãos centrais, em detrimento dos governos provinciais e das administrações municipais. Por exemplo 99% cabimentado à administração central 85% ficou nas estruturas centrais e para as 18 províncias coube somente 14%.

Nesses moldes aqui alguém acredita na máxima de “Angola a crescer mais e distribuir melhor?”.

Era esse o pensamento político do Dr. Jonas Savimbi e será sempre, para os excluídos, a fonte de inspiração na luta pela justiça social e pela dignidade da alma angolana. Para estes, os excluídos, o Projecto de Jonas Savimbi continua vivo, válido e actual.

Por isso mesmo, quando comemoramos o 11º aniversário de sua morte heróica em combate, apenas se nos oferece fazer um apelo a todos os angolanos os e Huilanos, em particular, para se unirem em torno dos objectivos do Muangai como única forma de honrar a sua memória e como único caminho para a conquista da dignidade e da felicidade.

Não gostaria de terminar sem antes fazer lembrar algumas passagens de uma entrevista do saudoso Presidente Fundador Dr. Savimbi a respeito da luta pela dignidade e felicidade do angolano, pela paz e Reconciliação Nacional.

Para todos angolanos: “A UNITA é o único instrumento realmente apetrechado para provocar mudanças políticas qualitativas que garantam a paz, a Reconciliação Nacional, uma vida política plural e uma democracia de partidos.”

Penso que, apesar das fraudes eleitorais levadas a cabo pelo regime as duas eleições já havidas depois da sua morte confirmaram isto mesmo. Os partidos que o regime vai fabricando desaparecem da cena política como as ventanias que nunca se sabe para onde vão.

Para a Mulher Angolana: “A mulher como nossa mãe tem consigo a responsabilidade do pelotão. Os homens actuam muitas vezes com demasiada frieza. Ao contrário, as mulheres revelam equilíbrio.”

Para os Sindicatos: “Os sindicatos devem distanciar-se dos partidos políticos para que a sua missão passe a ser a defesa de todos os trabalhadores”.

Para a Juventude: “É mesmo a juventude que é a alavanca principal. A juventude em todos momentos críticos da vida do país esteve na linha da frente. Na luta contra o colonialismo foi a juventude; na resistência contra russos e cubanos foi a juventude…a juventude tem de ser a alavanca. É preciso encoraja-la para o debate contraditório.”

Minhas senhoras,
Meus senhores,


De forma profética o Dr. Savimbi, a mais de 20 anos, indicava as tarefas de cada um de nós. O momento é este. A exclusão social já está aí; a falta de oportunidades já está aí; as assimetrias regionais já estão com os investimentos num só lugar. A seguir pode vir o chicote. Os fascismos e as ditaduras não têm, cor nem épocas.

Como sabiamente orientou o Presidente do Partido Dr. Isaías Samakuca “partamos, então, organizados, destemidos e disciplinados para esta nova etapa de luta contra a exclusão social e contra todos esses males de que o regime teima introduzir na sociedade Angola. A nossa missão é consciencializar o povo e uni-lo na luta pelos seus direitos inalienáveis. Para isso, como nos ensinou o Líder Maior, devemos contar essencialmente com as nossas próprias forças.”

Bem-haja!

Muito Obrigada

Lubango 22 de Fevereiro de 2013