Luanda – O líder da UNITA, Isaías Samakuva, apelou nesta segunda-feira, 25, em Luanda, às autoridades angolanas à abertura de um inquérito para apurar por que a sua delegação foi impedida, no sábado, pela polícia de visitar populações desalojadas de Cacuaco.

Fonte: Lusa

Isaías Samakuva, acompanhado de dois deputados e alguns membros da direcção do maior partido da oposição angolana, deslocou-se ao município de Cacuaco, cerca de 30 quilómetros a norte de Luanda, para visitar populares desalojados no início deste mês do bairro Maiombe.

Em conferência de imprensa, aquele político denunciou o tratamento que recebeu da polícia instalada no local, incluindo a presença de três helicópteros, bem como a agressão de que foi alvo um dos membros da delegação, o deputado José Pedro Kachiungo.

Segundo Isaías Samakuva, a intenção de visitar aquela área foi previamente comunicada às autoridades locais, que responderam não ver "nenhum inconveniente".

No local, contou Isaías Samakuva, estava já montado um aparato policial, constituído por polícias da ordem pública e antimotim, apoiados por três helicópteros, que impediam a aproximação ao local, por alegadas questões de segurança. "O objectivo da nossa deslocação era visitar os populares que estavam a mandar-me mensagens, pedindo a minha presença no local. Levei comigo três cisternas de água, alguns fardos, bens alimentares e alguns medicamentos", explicou Samakuva.

"Não é verdadeira a afirmação, segundo a qual a Polícia foi surpreendida com a minha presença ali", disse Sakamuka. "Também não é verdadeira a afirmação, segundo a qual, nós estávamos a perturbar o trabalho de alojamento que o executivo estaria a fazer naquela área. De igual modo, também é falsa a alegada motivação do executivo, de que queriam garantir a minha segurança", lamentou.

No final, aquele dirigente político lançou "um apelo veemente" à Assembleia Nacional, ao Ministério da Justiça, através da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, no sentido de criarem uma comissão de inquérito "para apurar exactamente o que está por detrás deste impedimento".

A 06 de Fevereiro, a Amnistia Internacional denunciou que a "01 de Fevereiro, militares, a Polícia de Intervenção Rápida e seguranças privados começaram a demolir casas e a expulsar à força milhares de famílias do bairro Maiombe, no município de Cacuaco", sem aviso prévio dos despejos.

O documento daquela organização de direitos humanos referia ainda que as demolições foram realizadas com helicópteros a sobrevoar o bairro, bem como relatava a agressão e detenção de algumas pessoas que resistiram às demolições.

Na altura, o porta-voz do Governo Provincial de Luanda, Carlos Gonçalves, disse que a administradora municipal de Cacuaco, Rosa João Janota Dias dos Santos, confirmou a prisão de seis pessoas. "(A administradora) confirma que foram detidas seis pessoas, que constituem um núcleo de angariadores para terrenos ilegais, ou seja, faziam inicialmente a ocupação dos terrenos e depois construíam barracas de chapa e angariam pessoas para as ocupar", afirmou Carlos Gonçalves.

Junto anexamos o texto da conferência de imprensa do presidente da UNITA, sobre o que se passou na área de Maiombe, no dia 23 de Fevereiro de 2013:

Senhores jornalistas:

Em resposta às inúmeras chamadas e mensagens que os populares me fizeram, desloquei-me no Sábado passado, dia 23 do corrente mês, à área conhecida pelo nome de Maiombe, no Município do Cacuaco, acompanhado de vários colegas da Direcção do nosso partido, alguns deles deputados à Assembleia Nacional.

O objectivo da nossa deslocação era visitar os populares que estavam a mandar-me mensagens, pedindo a minha presença no local. Levamos três cisternas de água, alguns fardos, bens alimentares e alguns medicamentos.

Era a nossa expressão de solidariedade, a mesma solidariedade de que o Senhor Presidente da República tanto falou na sua mensagem de fim de ano.

Tendo tomado conhecimento desta visita atempadamente, as nossas estruturas locais no Cacuaco, avisaram a Administração Municipal, por carta, cuja cópia também foi remetida ao Comando Municipal da Polícia.

A Administração do Cacuaco, na pessoa da vice-administradora que se ocupa da área política, telefonou ao nosso secretário municipal a dizer que tinha recebido a carta e que não via nenhum inconveniente.

Entretanto, na sua declaração à Televisão Pública de Angola, o 2º Comandante veio a público dizer que a Polícia não tinha tomado conhecimento. Isto é uma mentira grosseira, pois os nossos registos indicam que a carta foi por eles recebida, na sexta-feira, dia 22, pelas 14H40.

De igual modo, ao chegarmos ao local, verificamos que o Comandante da Polícia Municipal do Cacuaco, António Ribeiro, já estava à espera da nossa caravana a cerca de dois quilómetros da referida área.

Portanto, não é verdadeira a afirmação, segundo a qual, a Polícia foi surpreendida com a minha presença ali.

Ademais, nenhum político, nenhum cidadão, nenhum representante do povo, precisa de informar ao Executivo da sua intenção de visitar e conversar com outros cidadãos, salvo se pesam sobre nós limitações ao exercício das liberdades democráticas.

Também não é verdadeira a afirmação, segundo a qual, nós estávamos a perturbar o trabalho de alojamento que o Executivo estaria a fazer naquela área, porque a nossa viagem foi barrada a um quilómetro do local.

De igual modo, também é falsa a alegada motivação do Executivo, de que queriam garantir a minha segurança.

Minhas senhoras e meus senhores:

Eu não teria necessidade nem tinha a intenção de convocar a imprensa para falar sobre isso, pois as imagens e os relatos que circulam nas redes sociais, já falam por si.

Decidi convocar a imprensa por causa do que vi na Televisão sobre o assunto. Só convoquei esta conferência para exprimir a minha profunda tristeza pelo papel ignóbil e indigno a que se prestaram compatriotas que aparentam ser Homens que deviam ter alguma dignidade humana.

Refiro-me ao Segundo Comandante da Polícia na Província de Luanda, o comissário Dias do Nascimento e um dos secretários provinciais do MPLA, o nosso mais novo Norberto Garcia.

São jovens que aparentam possuir uma certa intelectualidade, mas que se prestaram a fazer um papel rasteiro, indigno e vil, ao vir a público mentir sobre o que realmente se passou no sábado na área do Maiombe, município do Cacuaco;

Sobre o facto de a TPA ter sido convidada e não ter aparecido e, ainda para noticiar o facto, não buscou o contraditório, nem comentário;

Sobre o facto de a TV Zimbo ter lá estado e não ter tirado imagens, porque, segundo alegou o seu repórter, não tinha orientação da sua Direcção.

Só convoquei esta conferência, repito, para manifestar a minha profunda preocupação pelo estado em que se encontra o país.

Afinal, se pessoas a este nível, se deixam instrumentalizar a ponto de servirem como farrapos para limpar o lixo de Eduardo dos Santos, então para onde vamos?

Se pessoas a este nível, se prestam a este tipo de baixeza, então, onde está a dignidade humana? Como podem esperar o respeito dos cidadãos?

Por outro lado, se um Chefe pede aos seus subordinados para vir a público mentir descaradamente como se de um serviço público se tratasse, então, temos um regime que atenta contra a dignidade humana, que é um dos fundamentos da República de Angola.

Aquilo que presenciei no Sábado; aquilo que ouvi e vi na Televisão Pública de Angola sobre o assunto; esta conduta do Executivo, reforça a minha convicção de que o país está refém de um homem e de que o povo angolano ainda não está livre. Afinal precisa mesmo de ser liberto do medo.

Lanço um apelo veemente às Instituições competentes, como a Assembleia Nacional, o Ministério da Justiça através do Secretaria de Estado de Direitos Humanos, para criarem uma comissão de Inquérito para apurar exactamente o que está por detrás deste comportamento. Por outro, também apelo ao Povo Angolano, às Forças Patrióticas de Angola para perderem o medo e não aceitarem tamanha humilhação.

Luanda, aos 25 de Fevereiro de 2013