Lisboa - Meios próximos de Manuel Vicente notam uma erosão da sua convicção de vir no  futuro a substituir José Eduardo dos Santos (JES) como Presidente da República. A constatação tem por base discretas manifestações do próprio, consubstanciadas em desabafos/gestos, geralmente em ambientes recatados.

Fonte: África Monitor

No desempenho do cargo de Vice Presidente, que exerce formalmente desde Set.2012, M Vicente tem estado confinado a um “obscurecimento duplo” (AM 709), conforme apreciação generalizada do assunto. Raramente participa em actos oficiais públicos; aqueles em que a sua presença foi registada tinham “importância menor”.

A secundarização político-institucional da figura do Vice Presidente, que no círculo presidencial é dada como inspirada na realidade similar dos EUA, tem antecedentes no anterior titular do cargo, Fernando da Piedade Dias dos Santos (não dispunha de protocolo próprio e a escala de precedências colocava-o ao nível dos ministros).

As razões aparentes pelas quais FP Dias dos Santos foi sujeito a um apagado exercício do cargo (JES nunca o viu como seu substituto, não sendo por isso era conveniente promovê-lo), em teoria não se reproduziriam em M Vicente – inicialmente visto como “preferido” de JES como seu sucessor.

O factor que se julga ter contribuído em maior escala para o “desalento” que M Vicente revela, decorre, porém, do papel chave que José Filomeno dos Santos “Zenu”, filho de JES, passou a ter no regime – uma realidade indutora de antigos rumores, agora avolumados, de que é ele o “eleito” de JES para o substituir.

O reforço da importância de JF dos Santos “Zenu” e uma eventual articulação do facto com planos para o posicionar como “sucessor” de JES, está intimamente relacionado com o recém-criado FSDEA-Fundo Soberano de Angola (AM 723), que ele de facto “comanda”, apesar de ter apenas o cargo de administrador.


Na organização e funcionamento do FSDEA, ficaram confiadas a JF dos Santos “Zenu” competências exclusivas no plano das relações internacionais. O exercício da função implica contactos de alto nível no mundo da política e dos negócios – uma actividade geradora de visibilidade, influências e mesmo apoios.

JF dos Santos “Zenu” é vice-presidente do BKI-Banco Kwanza Invest (o presidente, Ernest Weltek, é considerado figura decorativa); a actividade do BKI, como “hedge fund” do BNA e de outras instituições angolanas para aplicações externas, já assegurava projecção externa a JF dos Santos “Zenu” – agora acrescentada. Mas já antes do lançamento do BKI (antes, Banco Quantum), JF dos Santos “Zenu” era referenciado em missões consideradas informais, na China, p ex, que pela sua natureza lhe propiciaram um ciírculo de relações internacionais. Faz-se geralmente acompanhar de um suiço-angolano, Jean Claude de Morais Bastos.

A ideia instalada é a de que o FSDEA, na sua construção, também foi calculado para alargar o campo de afirmação externa de JF dos Santos “Zenu”. Tendo em conta o método presente na própria acção política de JES, de se projectar externamente como forma de afirmação política, conjectura-se não é “inocente” o papel atribuído ao filho.

O FSDEA é alimentado com dinheiros provenientes do petróleo, antes geridos ou sob controlo da Sonangol – uma realidade que permitia a M Vicente, como PCA da Sonangol, visibilidade internacional e influências de que agora não só não dispõe como foram, num novo quadro, transferidas para JF dos Santos “Zenu”.

Os rumores internos, a que M Vicente não parece insensível, segundo os quais é JF dos Santos “Zenu” que JES tem em mente promover como seu substituto, foram empolados por factos como uma entrevista deste em que se refere de forma considerada anódina à questão da sucessão de seu pai.

Também há conhecimento de afirmações consideradas evasivas do próprio JES em relação ao tema. Ao encarregado de negócios da Rússia, p ex, terá dito, quando o mesmo introdziu o assunto, que “várias pessoas estão a ser experimentadas” para lhe suceder no cargo.

A escolha de M Vicente como candidato a Vice Presidente foi objecto de rejeições (AM 694) em sectores da direcção do MPLA. O distanciamento que JES denota em relação a M Vicente também é visto como um artifício destinado a aquietar os seus adversários e/ou como um elemento de pressão sobre o próprio Vice Presidente.