Luanda  - Numa manhã de sexta-feira, um jovem pesquisador desperta do sono por volta das 6 horas. Arruma-se e pega numa mala de viagem e coloca-se na primeira ruela depois da sua casa.

Fonte: Club-k.net

Encontra muita gente na rua e pergunta: daqui posso pegar um carro que leva-me até ao aeroporto? Sim, respondeu uma jovem que parecia extremamente feliz, apesar de estar à duas horas no local, esperando um carro para colocá-la no destino desejado. Será que teremos a oportunidade de sair daqui a pouco? A jovem responde novamente de forma simpática: qual é o teu problema amigo? Eu estou a duas horas e trinta minutos e não estou preocupada qual é a tua? Relaxa! Seja feliz. Aqui na República Democrática de Matobu (RDM) é mesmo assim. Com fome, com falta de saneamento básico, falta de saúde, falta de segurança alimentar, com ditadura, com mortes encomendadas, falta de educação, percebemos, ao contrário doutros povos que é exactamente nestas privações e carências onde reside a felicidade suprema e nossa modernidade.


Ah, compreendi! Retorquiu o jovem espantado com esta nova visão revolucionária do mundo. Minha amiga, não me diga se esta vossa visão da vida se estendesse para outras partes do mundo, eu diria que o inferno não tem carácter escatológico mas é terreno. É aqui e agora.


Cala-te seu patético. Você é um ingénuo. Tu pensas que existe algum povo no mundo que atingiu níveis civilizacionais de tamanha extraordináriedade quanto nós? A República Democrática de Matobu (RDM) é um modelo em todos os campos: no desporto, na ciência, na liberdade de imprensa, na cultura em geral, na política, etc.


Porque deste espanto? Você não nasceu aqui? Você não vive aqui? Olha, nasci e vivo também aqui, mas eu sou daqueles indivíduos que desde cedo na minha família, na escola, na Igreja e na sociedade de uma forma geral sou chamado de anormal, porque não consigo incorporar a lógica da nossa Nação. Talvez seja alguma deficiência genética ou problema no meu processo educativo. Careço de ressocialização.


Ah, e agora diga lá onde vais afinal? Vou ao aeroporto. Ok, eu também passo em direcção ao aeroporto. Oh, o táxi chegou podemos subir.


Pu, puu. Ai. Aiiii. Aii. Entra pá, você é um burro. Se não fosse você esta hora já estaria muito longe. Tem de ser vijú. Deve lutar. Deve empurrar para entrar no táxi. Por tua culpa o táxi deixou-me. Moça, mas você não tinha dever nenhum de esperar por mim. Já estavas no candongueiro e deverias ir embora, e não descer. Porque desceu?

 

Olha, desci porque simpatizei-me contigo. Talvez pela tua profunda ingenuidade.


Tu disseste o que? Chamaste o táxi de candongueiro? Foi isso que entendi? Sim entendeste bem, porque na AFR um país que fica no extremo Sul, táxi deve tirar-nos do local onde estivermos e coloca-nos onde queremos ir. O preço é estabelecido por um aparelho chamado taxímetro de acordo com o percurso e tempo que levarmos.


Por isso eu disse que tu não passas de um anormal. Desde quando é que isto está certo. O que disseste não faz o mínimo de sentido. Taxi, são estes azuis e brancos. Dos mais sofisticados nunca antes vistos na história da humanidade.


Agora diga-me só o que é uma auto-estrada neste tal país chamado AFR? Olha, para aquele país uma auto-estrada deve ter oito fachas de rodagem. Os carros devem percorrer altas velocidades sob pena de serem multados os condutores.


Olha, disse a moça: meu amigo você diz tudo ao contrário do que é normal.


Retorquiu o jovem pesquisador: o normal é o que eu digo, ao contrário é uma autêntica estupidez, decorrente de um povo babaca, ignorante, ingénuo, inocente, primitivo! Depois de tudo que disseste agora consigo compreender porque é que aqui Pensão chama-se Hotel; Institutos Médio Superior chamam Universidade; um pavilhão onde é possível a prática de duas modalidades chamam multiuso; prédios de dez andares chamam torres; o sério chamam-lhe ingénuo; opinião contrária chamam inimigo; povo pobre diz que vive num país rico; basta estar matriculado num Instituto ou ter licenciatura para ser chamado Doutor; seitas chamam Igreja; a virtude chamam vício e vice-versa; o trapaceiro chamam-lhe inteligente; o ignorante chamam-lhe especialista porque fala na TV; a prostituta, o propagandista e o comediante chamam-lhes jornalistas e outros avessos incomensuráveis.


Desde já, atrevo-me em resumir este quadro da República Democrática de Matobu em: EXALTAÇÃO E ELOGIO DA ESTUPIDEZ!