Nelo, Kabazuka e Dino só viram os pássaros a voar

Portanto, hoje vamos colocar o Nelo de Carvalho e seus pares na balança e veremos quanto pesam e qual é o valor deles.  Como vemos, não é possível fazer isso num artigo padrão, com introdução, desenvolvimento e conclusão; aquilo que muitos chamam de cabeça, tronco e pés. Hoje vou me colocar no lugar de um observador e analisar friamente o comportamento dúbio dessa rapaziada.

Todas as pessoas que acompanham o portal de notícias democrático “Club-k” presenciaram verdadeiras batalhas campais entre intelectuais que pregavam mudanças do sistema político vigente em Angola contra aqueles que acastelavam a continuidade. Essas batalhas tiveram seu auge às vésperas das eleições legislativas. Entre os defensores da continuidade destacam-se: Nelo de Carvalho, João Melo, José Ribeiro, Dino Cassule e o explosivo Kabazuka. Vimos a barulheira que fizeram. A cada membro da UNITA que desertava para o MPLA, eles comemoravam como se fosse um “gol” de vitória feito aos 45 minutos de jogo. Muita gente começou a se gabar de que nenhum membro do MPLA fez o caminho inverso. Só a partir desse momento que se teve a real importância desses dissidentes, que o MPLA fingia não ter.  Foi tanta gente que entrou no MPLA que se temia que o este se diluísse e se transformasse numa quase UNITA.

Vou dividir essas batalhas em dois momentos. No primeiro, Nelo de Carvalho e João Melo, para além de criticarem a oposição, em alguns momentos criticavam também o próprio sistema, principalmente a corrupção e as extravagâncias da burguesia. Até ai, tudo bem. Porém, a partir do momento em que o presidente do MPLA afirmou que afastaria os corruptos e, também, alguns (intelectuais) “infiltrados” no partido, o que vimos foi esse quinteto “bater” pra valer, com unhas e dentes, na oposição. Aliás na UNITA, essencialmente. Passaram também a exaltar, exacerbadamente, os feitos do partido no poder.

Um pouco antes das eleições, saiu a tão esperada lista (fechada) dos candidatos do MPLA a deputados. Imediatamente comecei a dar aquele golpe de vista para ver se encontrava algum nome terminado em “Carvalho”. Apareceu um “Carvalho”. Deu um susto, um frio na barriga. Será que é o Nelo?  Dei uma recuada, era Adélia de Carvalho. Essa bateu na trave. Prosseguindo. Apareceu mais outro Carvalho. Recuando... é Maria Fernando de Carvalho. Estava difícil. Opa! Apareceu outro Carvalho. Para esquerda... é o Adriano Mendes de Carvalho. Será que é filho do mais velho Mendes de Carvalho, figura histórica do MPLA? Isso foi assim até o último nome. Se, por ventura, se ele chamasse Nelo dos “Santos”, talvez aumentasse suas chances. Dessa vez não deu. Imaginei que algo melhor estivesse lhe aguardando. Mesmo assim, comecei a me indagar: qual é o familiar mais famoso do Nelo de Carvalho no MPLA? Será que ele é um simples coitado como nós os outros?

Cinco de setembro chegou. As eleições ocorreram e o MPLA, como vimos, obteve uma maioria (82%) ensurdecedora. O novo governo começou a ser montado. Os governadores, ministros, vice-ministros foram nomeados. Imaginar Nelo governador ai também seria demais.

Até onde sei, pelo menos, dos cinco, apenas dois que se deram bem. Melo garantiu seu emprego nos próximos 4 anos como deputado e como sobremesa ganhou o prêmio Maboque de jornalismo (contestado por alguns) e Ribeiro continuou Diretor do Jornal de Angola.  Só o fato de não ter sido demitido, principalmente depois daquele abaixo-assinado feito pelos angolanos da diáspora solicitando a sua saída imediata, já pode ser comemorado. Isso é que chamaríamos de “nascer de novo”. Já os três (Nelo, Kabazuka e Dino Cassule) só viram os pássaros a voar. Ficaram a chupar os dedos até hoje. Precisei pesquisar muito para entender por que Nelo foi deixado de fora.

Devemos separar as coisas: não creio que Nelo tenha defendido o MPLA para conseguir uma indicação, quem sabe, como Deputado ou outro cargo. Para uma pessoa de seu nível, que faz o Doutorado, e pelo estilo que todos conhecemos convenço-me de que ele fez o exercício de militância, de contribuir para o debate, o de mostrar os setores que precisam avançar mais, assim como todos nós o fizemos.

Entretanto, devemos reconhecer o tamanho do estrago que fez a artilharia pesada de Nelo (digo Nelo porque ele não se escondeu no anonimato. Todos vimos as fotos dele, ficamos sabendo o que faz, o que fez etc.). Se somarmos todos os esforços dos cinco, talvez ele tenha contribuído com 82% das baixas das hostes adversárias.

Por isso, acho que o MPLA poderia reconhecer esse esforço isolado, principalmente quando vemos o currículo de pessoas que foram conduzidas ou reconduzidas a certos cargos ou como deputados.

Aliás, tem gente que não faz nada, nem pelo menos puxar-saco e foi premiada nessa lista. É verdade que alguns estão lá para fazer a alegria dos compadres. Entendo que o MPLA deveria ter o compromisso moral de acolhê-lo, nem que fosse para colocá-lo na posição 200 dos deputados, que naquele momento teria chances remotas de ser eleito. Pelo menos isso o colocaria num patamar diferenciado. Se sentiria que ele é alguém que tem lugar na sombra do MPLA. O respeito e o tratamento que ele receberia no nosso meio seria outro. Ele foi um pequeno obreiro, porque sozinho agüentou o mundo todo. As grandes vitórias se fazem de pequenas batalhas, como as que ele travou aqui. Devem existir por aí outros Nelos também. A propósito, qual é o critério utilizado na escolha de pessoas?

Vale aqui salientar que a militância de Nelo é diferente do oportunismo de Tito Chingunji, Valentim e Fátima Roque, os ex-militantes da UNITA que resolveram abraçar as cores do MPLA depois que a vitória já estava desenhada, talvez por questões econômicas ou “status” social, quem sabe na expectativa de ser um ministro ou governador, ou outros motivos.

Vou resumir a prosa, para que assim passemos a analisar os motivos do divisor de águas, devido à arrogância, o ensurdecimento dos vencedores, com o foguetório da vitória. Aliás, ficaram “mudos, cegos e surdos”, como diria o nosso PGarcia.

O trio Nelo, Kabazuka, e Dino agora baixaram a guarda. Entrincheirados no “a pátria” (www.a-patria.net), a “bandear para esse lado da barricada”, como disse um comentarista, para refletir sobre tudo que aquilo os articulistas da mudança procuraram mostrar durante muitos meses.  Agora eles perceberam que o sol nasce para todos, mas sombra do MPLA, infelizmente só para os mesmos.  Para refrescarmos as nossas memórias rememoremos algumas falas deles que, com certeza, marcaram a virada de 180 graus.

Em seu artigo intitulado “Um Ministro ladrão ou um ladrão Ministro” Nelo começa parabenizando o combatido Jornal privado “angolense”, que, provavelmente, seja o maior e melhor jornal do país. Em seguida, defende que se acabe com a velha e arcaica mania de que tudo é “segredo de estado”, como se o povo não fizesse parte desse estado. Depois questiona como o governo irá combater a corrupção se não há nenhuma estratégia das pessoas que ocupam o aparelho do estado, que lá estão com objetivo de alcançarem lucros que tanto ambicionam em suas vidas? Mostrou-se também preocupado com o cinismo de um estado incapaz de prestar contas e pela sua (magnífica) capacidade de virar as costas para a sociedade. Finalmente, condenou a atitude do agora ex-Ministro José Pedro de Morais, cujo nome algumas vezes foi associado com o maior esquema de corrupção do Brasil, conhecido como “esquema do mensalão”, por ter “subornado ou comprado o jurado” para ganhar o prêmio de melhor Ministro de Economia (ou Finanças) de África.

Não se sabe o real motivo para essa compra. Esse ministro calculou mal isso. Ser melhor ministro isso é desafiar o presidente em exercício do país. Isso é mostrar que há outras pessoas capazes. Isso pode levar as pessoas a estabelecerem comparações.

Kabazuaka publicou o seu artigo “Estado angolano propício a corrupção”. Ele prega a “ruptura total, completa, pública e assumida de certos comportamentos, certas práticas, no relacionamento entre os angolanos sob pena, de estarmos a tentar construir um ´castelo de naipes´”. Ele acredita que a justiça corrupta não pode combater a corrupção (patrocínio, subornos, extorsões, influências, fraudes, malversação e o nepotismo). Ele aponta a educação como um caminho seguro de mudanças, que deve moldar uma nova atitude. Aqui surge uma pergunta: O MPLA apostaria mais em construir escolas ou casas populares? Notem que num dos artigos que fiz solicitando investimentos maciços em educação, Kabazuka comentou que “não adiantava escolas se as pessoas não tinham onde morar”.  Hoje sabe-se que o MPLA prometeu construir 1 milhão de casas. Isso equivale à construção de 684 residências ao dia. Por ventura alguém sabe informar quantas escolas o MPLA construirá nos próximos 4 anos?

Num outro artigo “Condenado a morte, por corrupto” Kabazuka assume a missão de insistir em denunciar aqueles que andam a roubar o dinheiro do povo até que um deles seja julgado. Kabazuka apresenta a história de Liu Zhihua que, de um simples comuna chegou a ser supervisor de obras no valor de 40 mil milhões de dólares, na China. Fazendo tráfego de influencias “maracutaias ou trambiques” recebeu algumas “gasosas” ou “luvas”. Por isso  foi condenado à prisão perpétua (à morte).

Assim, Kabazuka, conclui que a corrupção, que é reconhecida pelo presidente em exercício de Angola, não se resolverá através de discursos, mas alguém “tem que ser sacrificado”. Como arremate final escreve: “Não podemos aceitar, tolerar nem consentir, que funcionários públicos, servidores públicos, que têm um salário definido, apareçam com fortunas, se exibem publicamente, humilhem por um comportamento indecoroso, muito boa gente que deu e dá “o litro” com honestidade, humildade, honradez, virtude e missão...”.
 
Dino Cassulo, não deixou por menos. Em seu artigo “velha política do troca-troca, sai daqui vai para ali” (22/10/2008), começou evocando Agostinho Neto, o pai do MPLA: “fazer a revolução é informar com a verdade”.  Em seguida questiona o fato de Angola ter investido rios de dinheiros com formação de quadros em diversos países como Cuba, Portugal, Brasil, ex-União Soviética, se na hora de nomeações só ocorre apenas danças de cadeiras (colocação de amigos e parentes, muitos deles já caducados, ultrapassados, já exprimidos até a exaustão)? “sai daqui vai ali”, aquilo que PGarcia chamou de “mesmos jogadores em posições diferentes” ou como diria o caro Pedro Veloso “Muxima Wami” “trocar seis por meia dúzia”.

Isso, segundo Dino, leva a uma acomodação geral porque “ao não cumprirem (os programas) serão exonerados e logo a seguir nomeados para outros lugares ainda melhor que o anterior”. Não fazer nada e ainda ser promovido, até eu não faria nada elevado a dez. Ele fez uma pergunta interessante: “será que o MPLA se transformou num clube de amigos que só eles é que têm o direito de estarem no poder? Isso deve ser uma pergunta ao Ministro das Forças Armadas que, recentemente, afirmou que o MPLA era uma sombra onde cabiam todos (os amigos).

Dino não consegue encontrar explicação ao fato do Senhor Mulongo, que foi “enxovalhado pelo abuso das funções que lhe foram confiadas no governo, foi exilado ao Japão (para ser embaixador)” e agora foi nomeado Governador do Huambo. Dino afirma que em Angola se faz o uso distorcido de exoneração e demissão, que não passa de  “enganar as populações, agradar o compadrio, ou até mesmo os antigos camaradas”.  Só para mostrar que esse modelo está exaurido, cita o recente fato ocorrido em Luanda. Durante o período eleitoral a capital estava iluminada, com água, a cidade estava limpa e, passando um mês depois, tudo voltou à estaca zero. Por outro lado não consegue entender a corrida para os cargos governamentais. Ele cita o fato de todos os empresários de sucesso serem ou já foram governantes ou os seus sócios. Ou seja, nada, nada mudou. É a isso que o MPLA chamou de mudar com segurança?

Num outro artigo “O governo já nasceu desgastado” (16/10/2008), Dino parece ter descoberto a “jogada que política precisa aprender”. Depois afirma que o MPLA não ganhou a eleições devido ao programa que apresentou, mas recebeu uma ajudinha dos meios de difusão (Jornal, rádio e TV). Dino adverte que o que aconteceu com a oposição deverá ocorrer também com o MPLA nas próximas eleições (se continuarem nessa mesmice).

Em função de tudo que foi exposto, alguns questionamentos passaram pela minha cabeça: Nelo e seus companheiros abandonaram o MPLA? É hora da UNITA fazer seu congresso e convidar Nelo para lá estar, trajado com as cores da bandeira da UNITA e sentar na tribuna de honra? Ninguém se engane. Nelo é mesmo do MPLA. Então, Freud explicaria essa aparente mudança de posição?

Descobri como foi arquitetada a queda dele. E caiu “de maduro”. Agora acompanhe todos os passos.

Nelo Carvalho foi uma estrela que estava em ascensão. Chegou a ganhar admiração, respeito e prestígio no meio ligado ao poder. Alguns de seus artigos foram publicados, até mesmo, no “Jornal de Angola”. Houve, inclusive, um pré-contrato para que ele fosse colunista desse Jornal e, naturalmente, receberia um cachê por isso. Ele dividiria assim o espaço como José Ribeiro e João Melo.

No entanto, quando houve a derrocada do prédio da DNiC, lembram, aquele prédio de sete andares, em 29 de março, que ceifou a vida algumas dezenas de almas viventes, Nelo teria criticado a negligência e irresponsabilidade de autoridades. Isso é a visão de engenheiro. Com essa crítica, Nelo colocou um pé na cova e outra na casca de banana.. O MPLA ainda não sabe conviver com pessoas que o criticam.

Para evitar problemas, o contrato foi jogado ao lixo, ou seja, na cova e, juntamente, foi enterrada toda possibilidade de aproveitamento de seu talento. A queda da DNIC determinou também a queda dele. José Ribeiro ou seus comandados, quem sabe, aproveitou a oportunidade para tirar da reta o seu principal concorrente, que, naturalmente, possui muito mais “ginga” política, mais difícil de ser domado, e tem mais bala no calibre, ou então para não se complicar com seus superiores.

É fácil perceber que aquele que pode mais chora menos. Quando analiso os escritos de Nelo, João Melo e José Ribeiro é fácil intuir que os dois primeiros são seguem, apesar dos pesares, modelos previamente estabelecidos. Eles têm mais liberdade; mais autonomia em desenvolver seus pensamentos e em determinados momentos fazem incursões de assuntos que são “segredo de estado”.  A única explicação que encontrei para explicar esse comportamento se deve ao fato de Nelo ser um Doutorando, que a natureza do ofício o obriga a questionar e não aceitar passivamente imposições e João Melo Jornalista, formado em Comunicação e Marketing, professor universitário. É outro nível.

Alguém pode perguntar: a formação superior faz diferença? Depende. Para a forma de pensar e agir de Lula, não. No entanto, há atividades que realmente faz diferença.  Eu não aceitaria, por exemplo, ser operado por uma auxiliar de enfermagem. Hoje, para se dirigir um órgão tão importante como o Jornal de Angola, é fundamental sim.

Para tirar minhas dúvidas, certo dia, escrevi ao Jornal de Angola para solicitar a formação de José Ribeiro, seu Diretor. Não me retornaram a informação. Não ficando satisfeito, dias depois telefonei para lá. A pessoa que me atendeu disse-me que não tinha conhecimento de que seu chefe possuía curso superior. Apenas adiantou-me que ele ocupou cargo de assessor (adido) de imprensa na embaixada de Angola na Suíça de lá para Diretor do Jornal.Quem cala consente.

A se confirmar essas informações, Dino começa a ter razão. Com tantos rios que Angola gastou, será que Angola não possui nenhum jornalista com formação superior? Ser Diretor de um jornal de importância do Jornal de Angola exige equilíbrio, bom senso, e não radicalismo nem conservadorismo exacerbado.

Quando leio os artigos de José Ribeiro, facilmente identifico aquilo que outro dia chamei de “bode”. Exaltação à figura do presidente, como se estivesse querendo sinalizar: “Presidente, estou aqui. Quando precisar do algum ministro das comunicações, pode contar comigo”.

O jornal não existe para louvar o governante. Serve para apontar, alertar, informar os problemas sociais e não para bajular ou fazer fisiologismo. No seu recente artigo intitulado “Aí estão as soluções”, só para dar exemplo, ele, novamente, enaltece a figura do chefe.  Seria tão bom se o mérito fosse, pelo menos, ao partido e não à uma pessoa. Não me assustaria muito se, brevemente, vier a ganhar o prêmio de jornalismo “maboque”.

Com todas as rasteiras que passaram no Nelo, ainda acredito que Nelo será grande líder do MPLA, mas não este que está aí. Muito provavelmente venha a ser chefe de muitas pessoas que andam por aí se derretendo com atual situação... O mundo dá voltas.
 
Agora vamos concluir a nossa prosa.

As pessoas que dirigem o MPLA devem saber que não é possível construirmos uma sociedade verdadeiramente democrática se as pessoas que se intitulam “intelectuais” só elogiarem, cegamente, o governo. É fundamental haver coragem para elogiar e também para criticar, quando necessário.

Nelo e seus pares questionam o MPLA, muito provavelmente pelos seguintes motivos, 1) dirigentes do MPLA impõem modelos que não se coadunam mais com a realidade atual; modelos esses, de forma geral, ditatoriais e o mundo atual cobra por modelos mais democráticos e justos que privilegiem a criatividade, a intelectualidade, o profissionalismo, o diálogo, a alternância, com liberdade de escolher algo diferente;

2) as estruturas existentes não permitem mobilidade, nem renovação, haja vista que os comunas que assumiram o poder em 1975 ainda continuam nos mesmos lugares; a continuar assim, haverá gerações que serão sacrificadas, quebrando, dessa forma, o círculo natural das coisas; é imperativo que as mesmas oportunidades que lhes foram passadas, quando foram jovens, agora seja exercitada, sem egoísmo, com as atuais gerações, sem temor de falência ou quebra do “segredo do estado”. Se com 6 anos de Universidade, o indivíduo torna-se médico, independente da idade e exerce livremente a profissão; com 5 anos engenheiro; será que a política é algo que Nelo Carvalho não consegue aprender em poucos anos, se pessoas com baixa escolaridade, no passado, conseguiram? Será que se Nelo de Carvalho dedicasse seus artigos ao MPLA, digamos assim, ele saberia fazer política com isso?  Seria deputado?  Chego até a imaginar Nelo dando a entrevistas para o Jornal de Angola:
- O que é ser deputado?
- veja bem, nunca pensei ser deputado, mas como isso é um jogo de equipe, tiro de letra (Deve dar uma dor, no fundo).

3) o sistema está viciado e corrompido. A luxúria está à prova de qualquer crise econômica e não se vê  a luz no fim do túnel.

4) muitas intrigas, “cruz credo”! Os intelectuais têm muitas dificuldades de se enfiar nessas marolas. Preferem assistir ao jogo de camarotes, ou então fazer outras coisas.

Nelo de Carvalho será sempre aquilo que poder ser ou se preparou para ser. As pessoas não devem ser colocadas na balança sempre que questionam alguma coisa porque cada um se constitui de forma, potenciais e limitações diferentes.  Cada um é cada um e vice-versa. Se questionar é errar, isso é sinal de que quem errou inúmeras vezes teve inúmeras atitudes diferentes.

Já passou da hora do MPLA ser um “pai” que gosta de punir seu filho por questionar. Os filhos não precisarão eternamente do acompanhamento de um pai. O pai não deve super-proteger seus filhos. A super-proteção é uma marca forte de injustiça.  O MPLA precisa refletir sobre os valores do partido, ver se são verdadeiramente angolanos ou não.

Os irmãos também não devem punir a seus irmãos. Na bíblia há um caso do “José”, menino dos sonhos, que questionava. Isso gerava raiva nos seus irmãos. Até que certo dia o venderam. Não demorou muito para que José se transformasse em um salvador da família toda, no Egito.

Devemos lembrar que os países que experimentaram grande crescimento nos últimos são aqueles estimulam as pessoas a falar do que sabem. Governos que aprenderam a ouvir. Governos que não usam óculos escuros, nem algodão nos ouvidos. Tudo porque a burguesia desses países, depois que se feriu em batalhas, descobriu que não possuía sangue azul. Para que o MPLA mude o país, primeiro precisa mudar a si mesmo. Para mudar a si mesmo é preciso perguntar aos outros o que deve ser mudado, como dizem os psicólogos.

O amor que Nelo tem pelo MPLA, penso eu, é o da mãe que ama seu filho que está no presídio. Embora saiba que é culpado pelo crime cometido não cansa de visitá-lo. E não esconde, publicamente o crime que cometeu. Não o faz pelo ódio, mas na esperança de ajudá-lo e ajudar a outras pessoas. O amor de Nelo tem pelo MPLA subsiste a qualquer intempérie da vida. Uma coisa que noto nele é que ele e sua turma são diferentes da multidão; da multidão que segue a moda. Mas alguém pode perguntar: como um indivíduo que ontem elogiava, não estava seguindo a multidão? Só que lê hoje critica. Diz o velho pensamento: “triste não é aquele que muda de idéias, mas aquele não tem idéias para mudar”.

Hoje já me convenço de que Nelo não é pessoa que concorda com a unanimidade. Como já dizia Nelson Rodrigues: “toda unanimidade é burra”. Quando uma decisão é tomada por unanimidade, dizia outro, é porque alguns pararam de pensar.

Pessoalmente, discordo de alguns pensamentos de Nelo.  Poderia festejar este momento em que as bandeiras do exercito dele estão caídas. Estão tão caídas que nem mesmo o “viagra” não resolve mais coisa alguma. Mas digo de público que o “amo de montão” porque é quadro angolano de excelência que temos, que precisa ser valorizado. É pena que o MPLA não enxergue assim. Ele é um lutador, a seu estilo. É uma das poucas pessoas que conheço que, ao invés de correr por aí, depois da graduação, e tentar “arrumar o seu”, apostou nos estudos.  Não é fácil. Respeito muito as pessoas que sofrem, conforme diz um ditado popular, porque elas sabem que podem sobreviver.

Há poucos dias soube de que Nelo sobrevive com recursos próprios e não com bolsa de estudos do MPLA, como muitos pensávamos. Ele sabe o que é não ter dinheiro para pagar a conta de luz. Como ser humano tem defeitos e virtude, naturalmente. Uma de suas virtudes é que se tiver que chamar o pau de pau, o faz. Muitas vezes machuca. Quem não se lembra das “kwacharadas” que ficava distribuindo a torto e a direito? Pelo menos não é papagaio, isso o diferencia de muita gente. Tenho certeza de que, se for convidado para assistir ao congresso da FNLA ou UNITA, o fará sem problemas, só não sei se irá uniformizado. 

Faço votos de que não deve demore muito para que as bandeiras de Nelo voltem a tremular. Enquanto isso não acontece, enquanto o mundo dele está na maré baixa, que se ajunte a nós, o povo. Seja bem vindo no lado real. No lado de pessoas que têm amor pelos seus semelhantes. Do lado de pessoas que entendem que tudo nesta vida é transitório. “não há bem que sempre dure nem mal que nunca acabe”. No lado de pessoas que apesar de tudo, ainda riem, ainda mantêm suas bandeiras de esperanças tremularem acima do firmamento.

* Feliciano J.R.Cangüe
Fonte:
http://cangue.blogspot.com