Segundo disse à Lusa o líder do partido do "Galo Negro", no encontro desta manhã com o cardeal patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, "não veio à baila" a situação em Cabinda - "infelizmente", acrescentou - , na qual a Igreja do enclave tem sido um dos principais actores.

"Há relatos constantes de cidadãos que são presos sem culpa formada, submetidos a actos de violência física", afirma Samakuva, contrariando a versão do Governo angolano, que reclama que o território se encontra pacificado, depois da assinatura há dois anos do Memorando de Entendimento com o Fórum Cabindês para o Diálogo (FCD), da FLEC de António Bento Bembe, organizações não-governamentais locais e Igreja.

O encontro à porta fechada com D. José Policarpo durou perto de 45 minutos, e decorreu na casa patriarcal, na zona oriental de Lisboa.

Uma análise da relatora especial da ONU, Asma Jahangir, recentemente apresentado na Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDHNU) em Genebra, defende que Cabinda continua a ser palco de "violações dos direitos humanos" pelas forças de segurança angolanas, nomeadamente contra responsáveis da Igreja cabindense.

O conflito é considerado "de baixa intensidade", mas a presença militar no território continua a ser forte, refere.

Existe, refere o documento, "um número significativo de relatos de violência, intimidação, assédio e detenções por agentes do Estado de indivíduos alegadamente envolvidos na disputa da liderança da Igreja Católica em Cabinda", o que o Governo de Luanda rejeita liminarmente.

Samakuva lembra as recentes vítimas de ataques - um jovem brasileiro morto e um trabalhador português ferido - e afirma que a solução para o enclave é "um diálogo abrangente", que inclua também a facção da Frente de Libertação de Cabinda (FLEC) afecta a N´Zita Tiago, que rejeitou o memorando de 2006.

"É preciso que todas as sensibilidades sejam tidas em conta, um diálogo sem tabus, sério, que vise uma solução efectiva e não apenas a acomodação de certos interesses", como o do próprio Bento Bembe, acusa.

"Nós pensamos que Cabinda deveria ter uma autonomia, mais ou menos do tipo que [as regiões autónomas] Madeira e Açores têm aqui em Portugal", defendeu o líder da UNITA.

Sobre a alegação da FLEC de que o encerramento do escritório da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas em Luanda foi encerrado como represália pela publicação do relatório de Asma Jahangir, Samakuva afirma que "é uma possibilidade".

O Governo, que alega o escritório nunca teve existência legal, "escolheu uma má altura para encerrar", uma vez que o país se prepara para eleições em Setembro, defendeu ainda o líder da UNITA.

A Alta Comissária da ONU, Louise Arbour, afirmou hoje que a comunicação do encerramento da representação foi feita "depois de as autoridades [angolanas] terem decidido não prosseguir com as negociações" de um memorando de entendimento idêntico aos que regem a actividade do Alto Comissariado noutros países.

Segundo Samakuva, a conversa de hoje com o cardeal patriarca serviu sobretudo para falar sobre o processo eleitoral, do papel da Igreja na Educação e pacificação em África, e também no "paradoxo da abundância" do continente, "de crescimento económico que implica desigualdades" entre a população.

Samakuva dirigiu-se depois para um encontro com Luís Filipe Menezes, para uma "visita de cortesia" ao líder (demissionário) do PSD, parceiro da UNITA na Internacional Democrática do Centro.

Do líder social-democrata, Samakuva diz ter recebido conselhos sobre a "consolidação do processo democrático" e a necessidade de "trabalhar para a estabilidade" política.

"O PSD é um partido que esteve no Governo várias vezes, tem uma experiência de dirigir [Portugal] várias vezes. No nosso caso, que nos preparamos para eleições em Setembro, precisamos de ouvir conselhos e experiências para podermos orientar-nos depois das eleições", afirmou o líder da UNITA aos jornalistas após a audiência.

Samakuva esteve reunido na quarta-feira à noite com o líder do CDS-PP, Paulo Portas, depois de encontros com associações empresariais e com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, segundo a UNITA.

Tem ainda previsto um encontro com Almeida Santos, presidente do Partido Socialista, e outro com a comunidade angolana em Lisboa, antes de partir para França e Inglaterra.

O regresso a Luanda está previsto para o final da próxima semana.

Fonte: NL