Lisboa - Isabel dos Santos diz que a maior parte do que se diz sobre ela não são verdade. "Há muitas pessoas com ligações familiares, mas que hoje não são ninguém", afirmou Isabel dos Santos ao jornal britânico Financial Times.
Fonte: JN
“Eu vendia ovos quando tinha seis anos”
Isabel dos Santos, a mulher mais rica de África e com forte presença em empresas portuguesas que não dá entrevistas e raramente faz declarações, aceitou almoçar com o jornalista do Financial Times Tom Burgis, que há mais de um ano que tentava entrevistar a filha do presidente angolano.
O encontro foi em Londres, num restaurante habitualmente frequentado por Bill Clinton e Tom Cruise, e antes de Isabel dos Santos ter uma reunião com consultores sobre um novo projecto de supermercados.
A empresária falou sobre a situação de Angola, negou que a sua ascensão empresarial esteja relacionada com o facto de ser filha do Presidente de Angola, lembrou que nunca esteve no mundo da política, que desde nova demonstrou apetência para o mundo dos negócios e que o seu trabalho é “divertido” e “motivante”.
Veja em baixo as principais declarações de Isabel dos Santos ao Financial Times, na rubrica “Almoço com o FT”, que foi hoje publicada, e que pode ler aqui.
Sobre a situação de Angola:
“Lembro-me quando existiam 300 mil carros [em Luanda], quando existiam 600 mil carros, quando existia um milhão de carros e agora penso que existem 2 milhões de carros. Está relacionado com o crescimento do mercado de consumo. Apenas cresceu de forma muito mais rápida do que as infra-estruturas podiam acompanhar”.
“Como se consegue baixar a desigualdade em Angola? Criando oportunidades e criando cada vez mais desenvolvimento. Acordar de manhã e ir trabalhar, fazer alguma coisa. Vai demorar muito tempo, mas quanto mais coisas se fizer acontecer, mais coisas serão construídas”.
Sobre o pai:
“Duvido [que os meus pais tenham sido apresentados pela KGB, quando se conheceram na antiga União Soviética]. Demoraram sete anos a casar, a obter as autorizações. Não penso que tenha sido o KGB, pois nesse caso teriam obtido os papéis mais cedo.”
“O meu pai gosta de cozinhar. Gosta de Peixe. Nunca tivemos o sentido da grandiosidade. Eu ia a pé para a escola”.
“Imagino que seja muito difícil distinguir o pai da filha. Penso que essa dificuldade advenha de estar a fazer as minhas coisas e o meu pai ser uma figura política africana muito forte há tantos anos”
Ironia que uma filha de um comunista dos tempos da guerra fria emerja como uma capitalista africana? “Percebo o que quer dizer mas, como disse, não faço política. Faço negócios e não sou política. Tive sentido para os negócios desde muito nova. Vendia ovos quando tinha seis anos”.
Sobre a sua educação:
“[Os meus pais] foram muito exigentes comigo”
“Tinha cerca de 23 horas de aulas por semana, mais os laboratórios, mais os relatório, pelo que não havia tempo para divertimentos”
Sobre a sua ascensão no mundo dos negócios:
“Há muitas pessoas com ligações familiares, mas que hoje não são ninguém. Se for trabalhador e determinado vai ter sucesso e isso é o principal. Não acredito em caminhos fáceis”.
“Maior parte dos rumores que ouviu sobre mim não são verdade”.
“Não estou envolvida na política e nunca tive qualquer papel na política. Nunca tive um emprego na administração pública. Não trabalho com o Governo”.
Telefona para o governador do Banco central e diz o que ele tem que fazer? “De qual país? Não, não telefono para o banco central e com toda a certeza não lhe dou instruções”.
“Estou sempre a trabalhar, sete dias por semana”.
“O trabalho é divertido. Se faz alguma coisa que vai dar um emprego a alguém, e essa pessoa depois pode pagar a educação do seu filho, e depois o seu filho vai ser um médico, que provavelmente ajudará muitas outras pessoas, isso é muito motivante. Muito mais divertido do que ir para a praia”.