Lisboa – O Presidente da República, José Eduardo dos Santos passou a dispor de um correio eletrônico que usa exclusivamente para se comunicar com um núcleo restrito da sua confiança com destaque para os familiares mais próximos.
Fonte: Club-k.net
JES: Um estadista de acesso restrito
É através, desta via que agora lhe chegam algumas informações sobre o que acontece nos escalões das mais variadas estruturas do Estado tal como atropelos de membros do seu executivo. No passado, algumas reclamações ou queixas não lhe chegavam por culpa de um bloqueio por parte dos seus colaboradores.
Para além do seu email, o líder angolano ganhou o habito de acessar alguns sites de noticias sobre Angola e acompanha os comentários que nele fazem. Certa vez, reagiu publicamente e solicitou provas a um comentário que insinuava que ele era detentor de uma conta bancaria no exterior, com certa de 20 bilhões de dólares.
A iniciativa de passar a usar o correio electronico privado para se comunicar especialmente com os familiares atenuam antigas lamentações dos mesmos que identificavam o general Manuel Vieira Dias “Kopelipa” como a entidade que estaria a “privatizar” o acesso ao PR.
Até meados de 2010, a restrição ao acesso a figura do Presidente estava a estender-se para escalões que atingiam o seu próprio circulo familiar mais directo. O seu telemóvel pessoal usado para falar com familiares da linha de Marta dos Santos, ficava nas mãos do general Manuel Helder Vieira Dias “Kopelipa”. Quando os familiares ligassem para o PR, o general atendia e mediante a disponibilidade do estadista re-encaminha a chamada.
Nos anos anteriores, o acesso ao Chefe de Estado angolano teve duas fases. Na primeira os familiares que desejassem algum apoio ou tratar questões com o mesmo, faziam por intermédio de um sobrinho, Catarino Escorcio dos Santos, que chegava a ser uma espécie de “Director do gabinete para os assuntos familiares”.
A segundo fase (de acesso ao PR) envolve, Fernando Garcia Miala, ex-DG do Serviço de Inteligência Externa (SIE). Era por via de Miala a quem os familiares de JES se dirigiam quando necessitassem de apoio. Ajudou Isabel dos Santos a erguer o seu patrimônio econômico e prestou assistência crucial a irmã do PR, Marta dos Santos.
Contactos a nível das instituições
JES, por exemplo, não se comunica regularmente com os chefes dos órgãos de Segurança de Estado que passaram a despachar com o general “Kopelipa”. Aquela direcção (segurança de Estado) deixou de ter contacto físico ou directo com o Chefe de Estado como acontecia ao tempo do general Fernando Miala. “Kopelipa” é quem liga o telefone para transmitir as instruções do PR. Em meios competentes, entendem ser desaconselhável esta forma de contacto tendo em conta o antecedente de Agostinho Neto e do seu Ministro da Defesa “Iko” Carreira a quem a Inteligência Militar e a DISA respondiam directamente.
Recentemente o general “Kopelipa” teria criado barreiras ao Tenente-general Alfredo Tyaunda, comandante da Unidade da Guarda Presidencial, em ter acesso ao PR. O mesmo terá ocorrido com o comandante da Unidade de Segurança Pessoal, general José João “Maua” (responsável pela segurança do palácio) que terá revertido o quadro por intervenção da primeira dama, Ana Paula dos Santos.
A restrição aos contactos do PR é também uma acção reflectida no seu estilo de liderança. Há casos de ministros que nunca se comunicaram directamente com o mesmo (encontram-se apenas nas reuniões de conselho de Ministros).
Esta ausência de contacto, estende-se também para com os seus adversários políticos. Já em Agosto de 1996, apartir do Andulo, o falecido líder fundador da UNITA, Jonas Malheiro Savimbi, lamentou que JES não lhe telefornava e que tinha de ser ele a pegar no telefone para falar com o Presidente da República.
“O que nós entendemos por Reconciliação Nacional não é apenas o encontro entre o Presidente da República e eu. Isso faz-se, já se fez e vai-se fazer. Mas já não resolve tudo. Eu pego num telefone, ligo, e ele nunca ligou. Não faz mal. Ligo sempre, isso não me humilha; eu ligo, mas não passa par ali, não basta. Para nós, da UNITA, Reconciliação Nacional, por causa do nosso passado pesado, mas completamente pesado, devia começar na família”, lamentou Savimbi, naquela altura.