“Perder um amor não é perder tudo”

Ainda, para não ficar sozinha nessa luta, a pastora teria convidado uma irmã que vive em Malange para convencer a sobrinha a desistir do rapaz.  Já que a nossa sociedade encontra explicações no feitiço, Adão, segundo ele, está sendo acusado de ser feiticeiro, porque é a única forma que as duas irmãs encontraram para explicar o amor, não de Julieta e Romeu, mas da Adão por Tunicha ou de ambos. A história é enorme. Paro por aqui.

Eu o não elogio e também não o critico por expor publicamente cenas de vida particular, porque deve ter agido, conforme dizem os advogados, “sob forte emoção”. Nessa situação, cada um age de forma diferente.

Por exemplo, recentemente, no Brasil, o Jovem Lindemberg (21) fez da sua ex-namorada Eloá (15), por quem esteve estupidamente apaixonado, uma refém durante 100 horas, mantendo-a sob mira de um revolver. O fim foi trágico. A amiga da ex-namorada foi baleada, a Eloá morta e o Lindemberg na prisão.

Ainda, tive um amigo, filho de empresário de sucesso, que tinha tudo na vida no local e na hora que quisesse. Depois de cansar de aventuras, resolveu arrumar uma namorada séria para constituir a família. Foi até o local certo: igreja. Apaixonou-se por uma jovem pobre, mas rica em educação. Recebeu o primeiro não da vida. No dia seguinte chegou para jovem e disse:
- você sabe que hoje há mais mulheres que homens. Você não vê que eu tenho muito dinheiro e muitos bens?  Você é pobre. Eu te proporcionarei uma vida melhor. Tenho carro importado. Tenho um apartamento luxuoso no melhor bairo da cidae. Uso roupa de marcas famosas como Versacce Colection, Giorgio Armani, Lacoste etc. Muitas mulheres choram por mim. Me querem a qualquer custo. Sou lindo. O que você mais quer? Você tem que me aceitar.

Levou o segundo e último não da vida. Certo dia foi encontrado em seu luxuoso apartamento com malas prontas para estudar geologia em terras profundas.

Não apenas os homens reagem de formas estranhas. Neste momento, uma colega de faculdade, a Rosana, está em estado de coma no Hospital universitário por ter tomado inúmeros comprimidos anti-depressivos. Tudo porque o homem, que é casado, resolveu dar basta ao relacionamento. Todo mundo sabe disso. Ele faz-me lembrar o “Zito Mabanga” aquele personagem que aparecia na revista Novembro (Não sei se ainda continua sendo publicada), nos velhos tempos em que o árbitro internacional angolano de futebol era o João Madeira.

Perder um amor não é perder tudo. Certo dia um especialista afirmou que não existe uma única mulher capaz de fazer feliz a um homem. Existe um grupo de mulheres que reúnem certas qualidades; qualquer delas que case com esse homem, o fará feliz do mesmo jeito. Isso vale também para as mulheres.

Mas, não é assim que pensam as pessoas apaixonadas. Todas as pessoas que já passamos por paixões loucas sabemos bem o gosto desse fel. O coração fica apertado; surge uma dor na garganta que dificulta a passagem do ar e de saliva; a pessoa não consegue mais dormir nem comer. É muito sofrimento. Agonia. Por que aconteceu comigo?

A primeira reação que passa pela cabeça é a de revolta, desconfiar do amor, sentimento de insignificância, injustiça, impotência, burrice, vontade de largar tudo, desistir e fugir e, principalmente, rogar “urucubaca” para a outra pessoa causadora de tanto sofrimento, ou seja, que ela se envolva num acidente e perca uma perna; que ela seja infeliz nos próximos relacionamentos, de preferência que não consiga encontrar mais ninguém e se encontrar, que encontre uma pessoa muito feia e miserável.

No entanto, uma história verídica mostra o que é amor, que coloca o outro em primeiro lugar, e não a paixão coloca o “eu” em primeiro lugar.  Dois jovens pobres estudavam num colégio interno no Brasil. Com muitas dificuldades eles pagavam suas propinas (mensalidades). Certo dia o João pediu namoro à jovem Maria (nomes fictícios). Recebeu inúmeros “nãos”.  Para complicar ainda mais a situação, depois de algum tempo, a Maria começou a namorar outro menino. Não foi por isso que João deixou de amá-la, nem escreveu cartas através da internet. João deve ter sofrido muito. Porém, ele estava sendo o barro nas mãos de um oleiro.  Algumas vezes, para obter a forma correta, o barro precisa receber alguns tapas. 

Não passou muito tempo, o colégio decidiu expulsar a Maria por estar inadimplente. Devia muitas mensalidades. Quando o João soube, decidiu ele abandonar o Colégio para poder trabalhar e pagar as mensalidades dela, mesmo namorando o outro. Pediu o anonimato. O Colégio avisou a Maria de que ela continuaria como aluna porque alguém, que pediu anonimato, pagaria suas propinas. A Maria ficou muito feliz com esse empresário. Depois de passar muito tempo a Maria acabou sabendo tudo. Resumindo a história, que é conhecida por muitas pessoas: até hoje, eles vivem juntos, casados e felizes para sempre. Recentemente soube que Maria repete sempre as palavras de Winnie Pooh a João: “Se você viver cem anos, eu quero viver cem anos menos um dia, assim nunca terei de viver sem você”.

Eu faço da geração que acreditava que “coração de mãe não se engana”. Normalmente os pais querem o bem de seus filhos. Todo ser humano nasce livre, mas as escolhas que faz fazem diferença. Quando a pessoa faz uma decisão certa, vive mais. Em casos ideais, erra-se menos seguindo os conselhos dos mais velhos. Eles já vivenciaram muitas situações. Na vida muitas situações se repetem.

Algumas vezes, no entanto, podem também errar, mas em muitos casos acertam. Ainda, é melhor errar por ouvir os pais que arrepender-se por não tê-los ouvido. Normalmente o arrependimento chega muito tarde, depois que a dignidade foi enxovalhada e valores deteriorados. Chega quando se está no local onde os ventos fazem as curvas, bem lá onde Judas perdeu as botas, ou seja, depois que a menina já é mãe de três filhos e, pior, de quatros pais (diferentes), no caso de mulheres.

Cada pai ou família tem seu critério para aceitar alguém como membro da família. Muitos levam em consideração a questão religiosa (não ajuntar em jugos desiguais), racial, financeira (casar para somar fortunas), regional, nacional, “tribal”, caráter da pessoa, física (modelo), partidária, educacional ou história familiar etc.

O meu sogro (agora meu pai), por exemplo, só perguntou: “qual é a sua família? - filho do mais velho Kangue. – então pode casar a nossa a nossa filha. Só depois de muito tempo é que deve ter procurado, se é que procurou, saber o que eu fazia e a minha formação, se era “deficiente” ou não. Nunca perguntou o que eu tinha, em termos de bens materiais. Só o fato de ser filho do mais velho Kangue isso é atestado de que o indivíduo é pobre (Todos que me acompanham a mais tempo já tiver a oportunidade de saber toda história do velho guerreiro).

No campo do amor, tudo é muito relativo. Conheço uma amiga que passou sobre todos os preconceitos, tudo em nome do amor. Amava um careca, baixinho, gordinho e portador de deficiência física, verdadeiro irmão de Beethoven, mas ele sabe falar. Fala aquelas palavras (elogios, principalmente) que as mulheres gostam de ouvir e nós homens achamos que são insignificantes. Não houve feitiço nem conselho de nenhuma tia que a fizesse desistir desse amor. Fui um de poucos que a apoiou. É fácil perceber quando uma mulher está amando. Os olhos dela brilham sempre que se fala no nome da pessoa amada. Hoje são felizes. Se ela se casasse apenas por dinheiro, ou por dotes físicos, talvez fosse uma pessoa abastada, mas frustrada e infeliz. Ninguém nasceu para ser infeliz. A pessoa infeliz vive mas não existe.

Qual é então o critério correto a ser levado em conta para se descartar um candidato? Cada um tem os seus, contudo, alguns são abomináveis, como os baseados em raça, questões físicas, principalmente. Ninguém pede para ser acidentado e ser deficiente ou nascer com deficiências e também ninguém pede para nascer negro, misto ou branco (no nosso caso).

Os estudiosos do assunto dividem o amor em: i) amor ágape, o incondicional, de pais para filho; as igrejas o atribuem esse amor àquele que Deus tem pela humanidade; ii) amor Fileo, entre verdadeiros amigos (por que também não falar de um verdadeiro amigo político), amigo que aparece quando o resto do mundo desapareceu, aquele que presta atenção ao que o amigo não diz, aquele que, conforme diz um pensamento “sabe a canção de seu coração e pode cantá-la quando todos tiverem esquecido a letra” e, iii) amor eros que envolve atração física. Seja qual for a definição desses amores, uma coisa em comum têm: para amar alguém, esse alguém não precisa ser uma pessoa perfeita. Apesar de suas imperfeições devem-se reconhecer as suas virtudes.

 

Ainda sobre a Denúncia de discriminação - Adão Ramos
http://club-k.net/index.php?option=com_content&task=view&id=1422#comment18693


* Feliciano J. R. Cangüe
Fonte:
http://cangue.blogspot.com