Cacuaco - Venho nos últimos tempos me dedicado à análise comparativa ainda que de forma empírica, da relação entre a comunicação social e os jovens quadros angolanos. Várias são as questões que se levantam em torno do assunto em epígrafe.


Fonte: Club-k.net

Considero-me ser de uma geração que ainda teve a felicidade de ver e ouvir programas de TV e Rádio de qualidade, pese embora a realidade socio-política do momento e as etapas subsequentes da transição por que passamos até à data presente serem muito díspares. Em tempos não muito recuados assistir tv, ler uma notícia e ouvir rádio era um autêntico privilégio e principalmente em Luanda com a entrada em cena no panorama da radiodifusão local de novas estações e a consequente alteração de períodos de emissão das rádios que ainda não operavam ininterruptamente (Canal C, LAC, Ecclésia encerravam por volta da meia noite).
            

Apesar da situação que o país ia atravessando, salvo as raras interpretações e o entendimento que eu tinha naquele momento, manifesto minha imensurável saudade principalmente da radiodifusão dessa época! Por ser o meio que mais facilmente alcançava seu público-alvo. Até o mais pacato cidadão dispunha de um receptor a pilhas para se manter informado sobre o que se passava ao redor do globo. Neste passado recente a rádio informava, formava e recreava.


Em relação ao momento actual, em que dispomos de muitos meios, mais ferramentas e novas tecnologias que deveriam beneficiar mais e melhor o trabalho destes meios e ajudar o cidadão a tornar-se cada vez mais educado, civilizado, informado, formado e actualizado isso não acontece. Sinto um inverter da pirâmide (tenho a sensação de que os mais inteligentes ficaram atrás e o que avança é a prepotência e a ignorância). Faço um aparte para dizer que a titulo de exemplo; até agora sou admirador da brilhante caligrafia e a eloquência apresentada por meu progenitor que só fez a 4ª classe daquele tempo! Mesmo estando no ensino superior não tem sido fácil superá-lo…

             
Entrando propriamente na questão de fundo, que é a juventude (quadros e estudantes, desportistas etc), e a comunicação social. É facto que me preocupa a ausência de espaços de interacção dos jovens com os meios de comunicação (não me refiro aos programas da TPA1 e TPA2, TV Zimbo, os caldos e as festas realizadas nas ilhas de Luanda e Mussulo). Refiro-me àqueles espaços mais reservados onde os jovens que têm seus pontos de vista sobre determinadas matérias fora do campo lúdico e despidos de paixões ideológicas e partidárias, pudessem apresentar-se e debater ou dar seu contributo para o país. É deveras passante num universo de pessoas e culturas, termos pessoas que parecem ser os únicos que dominam o saber e os únicos que podem aparecer num painel de debates sobre determinado assunto. Quando é que os jovens formados e em formação aprenderão a interagir com os órgãos de imprensa? Não será esta fraca relação cultivada que cria este afastamento que mais empobrece a sociedade e os meios?

                 
Há matéria humana excelente e quadros jovens também, mas a comunicação social acredito não estar a dar a devida atenção e relevo à dita “força motriz”, contam-se aos dedos os jovens que conseguem manter uma conversa fluida, um diálogo linguisticamente correcto e perceptível, por não terem sido devidamente orientados ou habituados. O tempo da leitura individual e em tom alto está a fazer muita falta.

Por isso sou a lançar um desafio aos órgãos de comunicação social, caso tenham coragem em desafiar esta camada de jovens quadros, artistas, desportistas, actores etc. a criarmos uma cultura de diálogo, debates e discussão de vários temas de modos a aprendermos e reaprendermos a cultura democrática e liberdade de expressão e pensamentos.
 

Senão estaremos a construir uma sociedade de seres acéfalos e não dialogantes. Já se tentou passar a ideia que os angolanos só entendem-se com pancadaria, que ridículo!

 
Tenho esperança que serei tido, num futuro próximo e na perspectiva de “Diálogo com a juventude e entre a juventude”. Meu apelo vai directamente aos ministérios: da Comunicação Social, Secretaria de Estado para a Juventude; porque não o da Cultura e o da Educação? Em suma meu apelo vai aos dirigentes deste país.