Não adianta dizer que feitiçaria é coisa de africano, de preto subdesenvolvido. A feitiçaria está retratada de maneira convicta em todos os aspetos religiosos. O cristianismo é a maior doutrina difusora da feitiçaria. Feitiçaria também é acreditar que Jesus Cristo ressuscitou no décimo terceiro dia e fazendo todo tipo de milagres. Feitiçaria é a própria cruz que se leva em todos os lugares, como símbolo divino ou sagrado para venerar quem, possivelmente, nunca existiu, e com certeza não existe!
Feitiçaria é, também, e com toda certeza, aquela crença estúpida de que Nossa Senhora de Fátima numa bela manhã apareceu para prever o desaparecimento do Comunismo deixando o recado, supostamente, a três crianças. Com certeza desequilibradas mentais. Vítimas igualmente da feitiçaria. Feitiçaria é supor e acreditar que as igrejas devem ter autoridade para resolver problemas sociais, quando na verdade essa é a função do Estado e que nunca deveria abrir mãos da mesma.
Ás vezes, pergunto-me: será que o Capitalismo e a economia de mercado não podem sobreviver sem religião, sem crença, sem oração, sem reza, sem o inferno? Precisamos mesmo disso para livrarmo-nos da pobreza e alcançar a felicidade? Ou atrás de tudo isso tem alguém querendo sempre tirar proveito?
Pelo que temos visto, o direito à ignorância também é um fruto e conquista da Democracia. Assim, não faltam, por exemplo, rádios, televisões , jornais professando esse direito e até chamando e convidando a milhões de seres humanos para que exerçam os mesmos direitos. Como conseqüência as emissoras religiosas e até as televisões tem espaços privilegiados para difundir o que melhor entenderem. Que tal numa sociedade democrática termos a possibilidade de contra-restar isso usando os mesmos canais, com o objetivo de educar melhor a esse povo. Que de tanta cultura sentem falta, mas cultura de verdade, e não a pseudo-cultura. Que tal darmos mais opção ao ouvinte com a rádio, a televisão e programas que dessem o direito de contrariar o lixo que diariamente se tem lançada nas cabeças e ouvidos de milhões de cidadãos nesse país.
Vou dar, um exemplo, para ser mais explícito e até mesmo evitar feitiçaria e para não ficar no mal entendido. Vamos supor que numa tal emissora “A “ existe alguém falando de Deus, há um horário determinado. O ideal é que numa sociedade verdadeiramente democrática, existisse também uma emissora “B” negando e provando o inverso, o que a Emissora “A” está dizendo ou vem dizendo. Acho que democracia é assim, é a liberdade de todos os tipos de escolhas, e não só o da burrice e o da ignorância.
O que ainda nos irrita é que alguém com o título de Papa, sua Santidade o Papa, que agora esqueci o nome, e segundo uns é o deus na Terra - só faltava essa mais- virá em Angola. Um dos motivos segundo os sequazes ou os subordinados é a reclamação que se fará ao mesmo devido a feitiçaria em Angola. Minha pergunta é; será que o Papa tem moral de combater a feitiçaria, quando ele exerce a mesma atividade? Por que quê a feitiçaria do Africano deve ser vista diferente que a do Europeu? Onde está escrita que a feitiçaria do europeu é menos criminosa e desumana que a do africano?
Se o problema é acabar com a feitiçaria, e com certeza esse é o problema, então devemos acabar com todas as formas de feitiçaria. Todas elas são prejudiciais a sociedade, não servem para nada, só aumentam ou ajudam o crescimento da desgraça humana. O que existe aí sobre religião, e o que se criou até hoje sobre religião é tudo mentira! E as provas disso são a miséria humana que até hoje na fase da terra não foi erradicada. E não será erradicada enquanto continuarmos a pensar da mesma forma: em feitiçaria, apropriação privada da riqueza social, e a distribuição dos prejuízos individuais de uma maneira social. Estas duas últimas corroboradas por praticas de feitiçarias.
Para terminar, uma proposta é endereçada aos Ministros Paulo Chipilica, ao Ministro(a) de Reinserção Social, à Assembléia Legislativa (ou aos Deputados que compõem a mesma casa). Que tal a proposta de um projeto de lei que viessem penalizar todas as formas de feitiçaria? Dando o mesmo direito aos ateus, aos anti-feitiçarias, aos anti-religiosos o direito de resposta nessa luta pela supremacia das idéias. A proposta está lançada, vamos ver se alguém por aí tem coragem!
Coragem, por exemplo, de dizer que qualquer forma de religião existente é uma pratica de feitiçaria que deve ser erradicada e combatida; que qualquer forma de feitiçaria é uma pratica religiosa, que igualmente deve ser erradicada e neutralizada. E que nenhuma delas deve ser privilegiada ou até assumida como cultura a ser preservada; as duas formas de superstição ( religião e feitiçaria) são imundices culturais criada ao longo da história e que muito bem podem e devem ser combatidas.
Na supremacia das idéias em busca da felicidade de um povo são as melhores idéias que devem prevalecer. E é o que falta nos meios de difusão da imprensa Angolana: a polêmica, o questionamento e a filosofia. O que falta é a proposta de que o errado está por aí e deve ser combatido, com força e espírito. Mas o espírito e a força da razão, da consciência, da inteligência e da ciência.
Alguém por aí se propõe oferecer algo melhor a esse povo, com espírito atrofiado, ou melhor, sem espírito. E que essa oferta não seja simplesmente religião e feitiçaria. Deve existir algo melhor!
*Nelo de Carvalho, WWW.a-patria.net, Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
Fonte: club-k.net