Luanda  - Finais da década de 70 em Luanda, eu, meus vizinhos e amigos arranjávamos sempre tempo para bater nossas peladas ali no largo Teixeira de Pascoais na Vila Alice. O espaço que circundava o largo incluía: o pavimento asfáltico, os passeios e o relvado que cuidávamos com muito esmero e carinho.

Fonte: Club-k.net

Na altura meu pai e alguns vizinhos já possuíam viaturas que bem chegavam para acomodar e transportar suas famílias nos passeios de Domingo a Ilha do Cabo e outros pontos recônditos da cidade de Luanda. O parqueamento das viaturas era feito nos espaços reservados a cada residência e o qual denominamos de garagem, desimpedindo assim o espaço para a pratica da modalidade.

Crescemos e connosco Luanda cresceu ao ponto de hoje nos ser difícil ou quase impossível parquear a viatura no Largo Teixeira de Pascoais e muitos outros locais na cidade de Luanda. Das vezes que visitei meus contemporâneos, tive de planear a rota a utilizar e o local de estacionamento porque raras foram as vezes que consegui parquear sem aborrecimentos ou constrangimentos.

Dos vários problemas existentes em Luanda, a par da falta cronica de agua e luz, o congestionamento de tráfego e’ dos mais agonizantes da atualidade, afetando negativamente a saúde e bem estar social dos cidadãos, da economia e do meio ambiente. O congestionamento de tráfego na perceção e realidade tem um profundo e negativo impacto na mobilidade dos cidadãos e no transporte de mercadorias; desperdiça tempo e energia, polui o ambiente através de emissões de dióxido de carbono (CO2) e outros elementos nocivos, cria aborrecimentos e frustrações, diminui a produtividade afetando a economia e impondo custos a sociedade.

O congestionamento de tráfego e’ uma condição nas redes rodoviárias que ocorre com o incremento do volume de veículos motorizados nas vias e caracteriza-se pela diminuição de velocidade do fluxo de tráfego, densidade acrescida, filas longas, trajetos demorados; e acontece geralmente quando a demanda de veículos e’ superior a capacidade das vias estruturantes.

Na nossa Luanda, os congestionamentos de tráfego, vulgo engarrafamentos, são derivados principalmente do elevado volume de tráfego em relação a capacidade das vias estruturantes e comummente denominado por saturação, da desorganização e violação cronica das regras de transito (em alguns casos com culpas atribuídas aos agentes reguladores de tráfego), do parqueamento indevido e obstrução das vias por obras, pelos candongueiros, acidentes de viação, condições climatéricas, entre outros factores.

Pese os esforços desenvolvidos por pessoas singulares da nossa sociedade e de algumas instituições de direito, os engarrafamentos tornaram-se numa praga de difícil erradicação e nos asfixiam dia a dia.

Ora, somos todos culpados porque participamos direta ou indiretamente na degradação das vias estruturantes e respetiva sinalização horizontal e vertical.

Urbanizamos a cidade desrespeitando os parâmetros arquitetónicos e urbanísticos na corrida desenfreada ao lucro fácil. Olvidamos considerar o crescimento demográfico, a dinâmica económica, os fluxos de tráfego, a rede de circulação e de transportes públicos, os danos ambientais e todas as infra-estruturas, nomeadamente as redes de esgotos, de agua, de energia, de iluminação, e respetiva manutenção, na promoção de um crescimento e revitalização equilibrada e harmoniosa das áreas urbanas e suburbanas da cidade Luanda.

Migramos para a capital com hábitos e culturas que não se coadunam com a decência urbana, e nem pelos anos de vivência no casco urbano e experiências vividas no exterior conseguimos implantar uma conduta e convivência salutar e propicia de um mundo civilizado.

Transformamos as garagens de nossas residências em estabelecimentos comercias e consequentemente parquear as viaturas ao longo das vias adjacentes, reduzindo assim suas capacidades.

Parqueamos em locais impróprios e proibidos, e quando chamados a razão, tornamo-nos arrogantes, com faltas de respeito e ameaças a mistura devido a posição social a que nos identificamos, e da impunidade a que estamos sujeitos.

Bloqueamos as vias com obras sem a devida autorização, sinalização, e pre-aviso.

Imobilizamo-as com veículos inoperantes e outros equipamentos, muitos dos quais autorizados pelas entidades municipais e daqueles que se intitulam como os donos do pais.

Desrespeitamos as regras de transito e nos tornamos insensíveis, arrogantes, intimidadores, agressivos, mal educados e desumanos na partilha de um bem publico; e assistimos passivamente ao colapso moral e ético da nossa sociedade.

Marginalizamos os agentes reguladores de tráfego e outros utentes da via publica e aceitamos com normalidade a aberração de tráfego na cidade de Luanda.

Ajudamos no crescimento da desorganização e desrespeito as normas de condução e regulamentos de transito.

Institucionalizamos a gasosa como forma rápida e fácil de nos libertarmos das ofensas cometidas, criando assim o habito de fugirmos as nossas responsabilidades, deveres e obrigações. E como se não bastasse aplicamos o slogan “Isto e Angola, não liga”. Como não ligar? Se não formos nos a envidar esforços na melhoria de nosso comportamento moral e cívico, e de convivência salutar; como podera Luanda se desasfixiar do tão caótico tráfego?

Pagamos as taxas de circulação, impostos de combustível, e outras taxas de utilização de automóvel e não sentimos os benefícios destas obrigações.

Culpados somos, por não exigirmos o que nos e’ de direito. Por não chamarmos a razão as instituições de direito e os respetivos servidores públicos. Por não cobrarmos as contas aquem de direito e por isso ludibriados por estas mesmas instituições e servidores.

Somos todos culpados, sim, desta bênção de tráfego na capital do pais.

Uma solução completa para os engarrafamentos na cidade de Luanda passaria por uma participação e aderência massiva de todas as forcas intervenientes nas vias publicas, e muito particularmente das instituições de direito.

Reestruturarmos, reajustarmos, melhorarmos e expandirmos as vias estruturantes e sua respetiva sinalização. Como de conhecimento de todos, o crescimento desenfreado do congestionamento de tráfego em Luanda, clama por uma necessidade extrema de mais investimentos nas infra-estruturas e gestão de tráfego.

Criarmos parques de estacionamento multi andares, zonas pedonais e removermos todos os obstáculos ao longo das vias para melhor fluidez do tráfego.

Desenvolvermos quantitativa e qualitativamente um sistema de transporte publico com serviços integrados – rodoviário, ferroviário e cabotagem; capaz de atrair, reter e aumentar a afluência de passageiros na utilização destes meios de transportes em detrimento aos veículos particulares.

Continua sensibilização e incentivacão aos utilizadores das vias publicas na obediência as normas de condução e regras de transito.

Abolição por parte do governo de todos os subsídios de automóveis (diretos e indiretos).

Exigirmos dos investidores e proprietários de imóveis ao cumprimento integro das regras arquitetónicas e urbanísticas, e particularmente na apresentação de espaços de estacionamento de acordo aos regulamentos e  demanda.

Somos todos culpados e estamos todos juntos neste congestionamento de tráfego.

Se porventura não estiver familiarizado com os efeitos do congestionamento de tráfego, saiba então que a mesma tem um tremendo impacto sobre a sua/nossa vida pessoal, profissional, do futuro e ate mesmo da nossa segurança. Dai a necessidade extrema de juntos encontrarmos soluções plausíveis a curto, médio e longo prazo na minimização dos problemas existentes e consequentemente melhorias na qualidade de vida dos cidadãos.

Da próxima vez que estiver preso no engarrafamento e antes de amaldiçoar todos os outros ao seu redor como os causadores desta desgraça, reflita, e contribua você também na busca de soluções ao tráfego da nossa cidade. Faca por favor a sua parte.

“Não estamos presos no congestionamento de tráfego, nos somos o congestionamento”. Roberto L. Bertini


Rodrigo Da Cunha