Lisboa  - A corrupção continua a ser um problema em Angola, mas não se veem provas do combate a esse fenómeno, disse hoje à Lusa em Luanda o economista angolano Manuel Alves da Rocha.

Fonte: Lusa

"Nós continuamos a ter este problema em Angola o problema da corrupção. E eu acho que toda a gente tem uma memória presente relativamente à promessa do senhor Presidente (José Eduardo dos Santos), há quatro anos, em que ele decretou tolerância zero relativamente à corrupção e desde aí, até agora ninguém sabe de um caso que tenha sido identificado, que tenha sido julgado, que tenha sido divulgado", disse.

Diretor do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC), da Universidade Católica de Angola, Manuel Alves da Rocha falava à Lusa à margem da conferência sobre a fuga de capitais e a política de desenvolvimento a favor dos mais pobres em Angola, organizada por aquele instituição e a Ajuda da Igreja Norueguesa.


"O que se costuma dizer é que tem de se provar que existe corrupção em Angola, que existem casos de corrupção, mas o que é facto é que a gente sente", frisou.


Instado a comentar por que razão disse, depois de ouvir o conferencista português Paulo de Morais abordar os efeitos da corrupção, que lhe parecia estar-se a falar de Angola, Alves da Rocha respondeu que não foi só ele que o sentiu.


"Acho que não fui eu apenas que me devo ter revisto na intervenção do professor Paulo de Morais. Acho que muita gente se reviu, porque nós continuamos a ter este problema em Angola, o problema da corrupção", respondeu.


Alves da Rocha reconheceu, e louvou, as realizações que Angola tem vindo a alcançar ao nível político e económico, mas salientou tratar-se de uma inevitabilidade.


"É incontestável. E tinha que ser assim. Nós temos que tender para um país moderno e organizado, e não o contrário, porque já não temos fatores e justificações que o impeçam", frisou, referindo-se à guerra civil que impediu o desenvolvimento de Angola.


No entanto, as realizações alcançadas não devem distrair do que ainda está por fazer, sustentou, considerando que no domínio da corrupção o país "continua à espera de que as coisas de facto melhorem, que a transparência melhore".

As estatísticas e os indicadores internacionais, criticadas por setores próximos do regime sempre que não situam Angola ao nível dos países mais avançados, foram também referidos por Alves da Rocha.


"Não vale a pena culpar as estatísticas internacionais de que encaram mal Angola e estão de má vontade contra Angola, porque os indicadores, como o professor Paulo de morais referiu, são perfeitamente objetivos e são uma gama variada de indicadores através dos quais, por exemplo, o índice de corrupção é elaborado", defendeu.


Socorrendo-se da expressão "Crescer mais para distribuir melhor", com que o MPLA, partido que governa Angola desde a independência, em 1975, baseou a campanha para as eleições gerais de agosto de 2013 e que venceu com maioria qualificada, Alves da Rocha questionou onde se vai buscar o dinheiro para a redistribuição.

"Vamos ver de onde a gente vai tirar o dinheiro para distribuir melhor. Porque, sem crescimento económico a gente não pode ter o bolo para distribuir mais ou melhor, e portanto tem de mexer com o atual modelo de repartição de rendimentos e agora aqui a questão é política", vincou.

A concluir a ideia, questionou: "Até que ponto, de facto, teremos capacidade para fazer, para alterar os atuais mecanismos, através dos quais se acede ao rendimento nacional".