Luanda – A iniciativa do encontro do Presidente José Eduardo dos Santos (JES) com alguns jovens angolanos é louvável, mas peca pela organização e selecção dos convidados. Uma nota negativa à imprensa dita pública, nomeadamente a TPA (Televisão Publica ou Popular de Angola), TVZimbo e RNA (Rádio Nacional de Angola), que não transmitiram em directo o referido encontro, privando ao povo a oportunidade de acompanhar as declarações de cada um dos participantes e tirar as suas ilações.

Fonte: Club-k.net

Na verdade, ninguém sabe o que realmente foi tratado e como foi tratado nesta reunião. Apesar dos pesares, o encontro é de agradecer em termo de ideia de JES ter compreendido hoje que é necessário sentar e conversar com os jovens e dialogar com eles sobre diversos temas da vida de Angola. Só dialogando é que se resolve os problemas ou mesmo os conflitos em família.

“Du choc d’idees, jaillit la lumiere” (Do choque de ideias, surge a luz) – diz uma sabedoria francesa. O encontro pecou pela excessiva selecção dos convidados, sobretudo pela ausência notória dos jovens líderes contestatários.

A ausência dos jovens Luati Beirão, Carbono, Libertador, Nito Alves, Mbanza, etc. diluiu, ou mesmo, anulou os efeitos da reunião, pois só se negoceia com o “inimigo” e não com o amigo.

Muitas caras convidadas ao encontro eram inúteis e serviram só para o inglês ver. A exclusão destes jovens manifestantes não baixara a tensão política no país, pelo contrario ela atira a gasolina à fogueira.

Por outro lado, o organizador do evento, o nebuloso Conselho Nacional da Juventude (CNJ), é conflituoso, pois eh considerado pelas organizações juvenis da oposição verdadeira de ser uma câmara da JMPLA.

Ao aceitarem o convite, será que os lideres da JURA (Juventude Unida Revolucionaria de Angola – braço juvenil da UNITA) e JFNLA (Juventude da FNLA) concordaram integrar  o CNJ cujo patrono é Hoji-ya-Henda e o 14 de Abril como a data da Juventude angolana?

Será por incoerência política que eles aceitaram o convite de um órgão cuja legitimidade rejeitam ou pelo simples entusiasmo de ser recebido num palácio presidencial, conviver e pousar com um Presidente da República?

Quanto ao encontro, este não visou acalmar a tensão politica resultante da insatisfação do povo ou melhor da juventude, faze-la dormir de pé, deitando areia aos seus olhos, tendo em conta as gigantescas manifestações anti-governamentais que esta camada da população organiza com sucesso desde o Magrebe Islâmico - Egipto, Tunísia -, e que atravessaram o mar Mediterrâneo chegando à Síria, e hoje estão a abalar o “continente” Brasil?

Pois, eh curioso que JES tenha feito uma reviravolta de 360º de um dia para outro. Ontem, na sua entrevista à televisão portuguesa SIC, considerou os jovens angolanos manifestantes de “frustrados que não tiveram sucesso na sua vida académica e profissional”. Hoje, no seu discurso de recepção, considera os mesmos jovens (ou outros) de patriotas e importantes para a resolução dos problemas que Angola tem.

JES pensa que são apenas os jovens do “Movimento Revolucionário” que condenam a sua eternização no poder, as suas veleidades de transformar Angola numa monarquia, as suas elucubrações e desonestidades políticas, a corrupção galopante e institucionalizada, a má governação, a miséria, em suma que desejam uma mudança política urgente em Angola?

“Amosi kenkongo ko, wau belembi yanikanga e nkanda miambizi kuna ludi?” (Os outros não são caçadores, por não estenderem as peles de animais no tecto?) – refere um provérbio kikongo.

Agora, é preciso não parar aqui, que JES estenda o diálogo aos membros da sociedade civil verdadeira ou mesmo aqueles que muitos consideram ser seus detractores.

Será benéfico ao país que JES sente numa mesma mesa com uma delegação composta de Rafael Marques, David Mendes, Celso Malavoloneke, Bonavena, Filomeno Vieira Lopes, José Patrocínio, Padres Pio Wakusanga, Raul Tati e Kongo, William Tonet, Agostinho Chikaya, os líderes da Open Society, SOS Habitat, AJPD, Justino Pinto de Andrade, Makuta Nkondo, etc. discutir, sem tabu, com profundidade assuntos relacionados com o país em todos os ângulos.

E que estes encontros se multipliquem e sejam regulares a ponto de poderem culminar com a criação de um fórum responsável pela organização dos mesmos.

É sintomático quando JES afirma que “o Governo continua a contar com a participação de toda a juventude. Neste processo, é fundamental o diálogo e a concertação de ideias para a procura de consensos à volta de programas e projectos de interesse colectivo, porque reforçam a compreensão e facilitam a mobilização para a aplicação prática desses projectos”.

“O Governo e as Associações Juvenis e Estudantis podem aprimorar as vias desse diálogo para que seja mais fluido e útil para todos e para o país”, desejou. JES reconhece que a “a imensa maioria dos jovens deste país tem uma consciência política e patriótica elevada, é educada, está consciente dos seus deveres e contribui para o desenvolvimento nacional”.

“Agora, na fase da reconstrução nacional, a força activa, a força de trabalho para a mudança, continua a ser maioritariamente constituída por jovens. São sobretudo jovens também os que estão nos nossos centros de formação profissional, nos institutos médios e superiores e nas universidades, a prepararem-se para o futuro”, disse.

Será que o Presidente do MPLA rendeu-se à evidência, depois de ter sido flagelado com obuses de diversos calibres pelos membros dos grupos de pressão?

Mas JES nunca deixou de ser ambíguo e provocador nas suas intervenções, intervindo sempre como um líder partidário, presidente do MPLA, do que como um pai da Nação.

Quando refere que “foi sobretudo a juventude que pegou em armas para combater contra o colonialismo e para vencer as forças do Exército do 'apartheid' no Cuito Cuanavale e foi também a juventude que criou as condições no terreno para a obtenção da paz”, ele pretende humilhar e insultar a UNITA, sabendo que entre os convidados estavam representantes dos maninhos.

Pois recordando a batalha do Cuito Cuanavale, JES referia-se indirectamente à derrota das FALA (antigo braço armado da UNITA) infringida pelas FAPLA naquela localidade, quando na verdade são as forcas sovieto-cubanas e de pacto de Varsóvia que estiveram a lutar contra as do “Galo Negro” e sul-africanas.

JES fingiu ignorar porque a derrota das FAPLA pelas FALA em Mavinga que obrigou o MPLA a negociar a paz em Bicesse, dando o multipartidarismo a Angola?

De igual modo, quando JES fala em juventude que criou as condições no terreno para a obtenção da paz, referia-se à derrota militar da UNITA com o assassinato do seu líder Jonas Malheiro Savimbi, em Lukuse, Moxico.

Segundo JES, “o Governo apostou sempre na juventude. A maior parte dos seus programas destinam-se à resolução dos problemas dos jovens, porque eles constituem a maioria da população”, reconhecendo que “ É evidente que ainda não alcançámos a prosperidade para todos e não vivemos num mar de rosas. Mas vencemos o abismo em que nos encontrávamos e em que o país parecia não ter futuro”.

O desemprego é galopante em Angola e afecta mais a camada juvenil. Os jovens mesmo aqueles que conseguem terminar o ensino superior ou uma formação profissional têm dificilmente emprego. Como alternativa para a sua sobrevivência, optam por virarem pequenos comerciantes ambulantes.

As dificuldades de acesso ao emprego e à escola levam os jovens à delinquência. Os jovens bantu não nascem delinquentes, mas a pobreza e a exclusão social os levam a procurar alternativas para a sua sobrevivência.

JES deve saber isto quando afirma que “os jovens estão a consumir cada vez mais bebidas alcoólicas e drogas proibidas, envolvendo-se por vezes em actos anti-sociais”. “Os jovens não respeitam os nossos usos e costumes nem as nossas tradições, mesmo quando elas não são negativas; que não assimilam os princípios e valores morais e éticos de que são portadoras as gerações dos seus pais e avós, revelando uma educação deficiente ou mesmo falta de educação” – acrescentou.

Mas é o sistema politico de Marxismo-leninismo chamado por Socialismo cientifico ou Comunismo que destruiu, pisou e mijou sobre as culturas e tradições bantu, levando os filhos a matarem os pais, os irmãos a matarem-se e os menores a desrespeitarem os mais velhos.
“Matar é um dever revolucionário”, ensinava o MPLA-PT.

Angola está a colher o fruto de o que plantou, mas hoje JES pede que “devemos trabalhar todos juntos - Governo, Partidos Políticos, Igrejas e Sociedade Civil em geral - para recuperarmos todos os que se estão a desviar do caminho certo, estudando bem as causas desse comportamento e encontrando para ele as soluções adequadas”.

Se ele falou com sinceridade, eh louvável ter considerado que “agora temos também desafios, como tivemos no passado, mas construir um futuro para todos está ao nosso alcance. Basta que cada um - dirigente, quadro, trabalhador, professor, empresário, homem, mulher, jovem, etc. - assuma com consciência o seu papel social e no seu posto realize o trabalho que lhe cabe”.

“Para o país, ontem foi pior do que hoje e o amanhã pode ser melhor do que hoje. Tudo depende de nós. É preciso acreditar, ter confiança em nós próprios e trabalhar juntos. O bom futuro para todos só pode ser o resultado de um bom trabalho de todos feito a favor do desenvolvimento da Nação angolana” – precisou.

Não haverá bom futuro para todos, se não houver justiça social traduzida em oportunidades iguais e numa distribuição equitativa das riquezas do país. As riquezas de Angola devem deixar de se concentrar numa minoria, principalmente na família de JES na qual quase cada membro eh ricaço e dono de uma fundação que funciona com o dinheiro desviado dos fundos do Estado.

São nomeadamente a Fundação Eduardo dos Santos (FESA), para o pai (JES), a Fundação Lwini para a mulher Ana Paula dos Santos, a Fundação Sindika Dokolo para o genro e a filha Isabel dos Santos e a Fundação do filho Zenu dos Santos que funcionam com o dinheiro do povo.

Hoje, foi entregue escandalosamente a gestão do Fundo soberano ao filho Zenu com um capital inicial de cinco mil milhões ou cinco bilhões de dólares norte-americanos, sem passar por um concurso público como se do dinheiro da família se tratasse.

Quando o povo vive abaixo da linha da miséria, os filhos de JES são os maiores ricos, os bilionários, do país ou de África, fruto de desvios dos fundos do erário público. Também, todos os membros da nomenclatura ou seja todos os governantes e dirigentes do MPLA em todos os níveis são empresários e donos da maioria das empresas e sócios das multinacionais existentes dentro e fora de Angola.

O povo constituído pelos pais dos jovens que reuniram com ele não tem emprego, não tem saúde, agua, luz e educação para os seus filhos. O povo perdeu as três refeições diárias, nomeadamente o pequeno-almoço, o almoço e o jantar. Quando consegue ter milagrosamente uma, estas eh desprovida de valor nutritivo, arroz branco com peixinho frito ou fulge de milho ou de bombam com catatos, etc.

Mesmo assim, JES está convicto de que “Angola está em reconstrução e todos os que por aqui passam dizem que o país está a mudar para melhor desde que conquistámos a paz” e apelou que “É preciso defender a paz, manter viva a esperança e a confiança no trabalho do nosso povo”.

Oxalá que isto se reflecte nos pratos e nas cozinhas do povo.

*makutankondo@yàoo.com.br