Luanda - O texto que fez rasgo de Capa na Edição 523 ANO VII do “Semanário Angolense” de sábado 13 de Julho de 2013 ‹‹REVUS›› ALIADOS AO CRIME? Distendido nas páginas 8, 9 e 10, em resposta a entrevista de Gaspar Luamba ao Folha 8, é no mínimo desprezível e atentatório. Não tem muita diferença com as entroncadas afirmações do malogrado Mac-Mahon do Comité Central do MPLA que ao longo da Guerra-civil, animada pelo MPLA, induziram os angolanos de Cabinda ao Cunene a crerem na sua versão de que os militantes da FNLA eram antropófagos porque comiam corações de crianças quando se soube que foi um golpe muito bem montado nas hostes do próprio MPLA para denegrir o Partido de Holden Roberto, malogrado também, xenófoba e matreiramente acusado de zairense, apenas por ser de origem bacongo, ou ainda as “demesures” do quão famoso Ndunduma Welepi, fomentador das grandes matanças do 27 com o Célebre Artigo “Víbora ao Contrário”, in Jornal de Angola.

Fonte: Folha-8

Os jovens ditos revolucionários, considerados frustrados pelo Presidente da República, seguramente não são bandidos como pretensamente Celso Malavoloneke faz crer. Mau quando por esta futurologia tendenciosa de Malavoloneke querem meter os miúdos a matar!

Nós respeitamos e admiramos muito o M/V Celso Malavoloneke em todos os parâmetros e prismas, desde a sua veia prosaica de articulista, às suas virtudes invejáveis de intelectualidade e seu estatuto político, sociológico e antropológico. Mas não somos forçados a estar de acordo quanto ao deslize e desnorte “prostrado” no seu texto que deixou transparecer a tendência que finalmente o guia em consciência nas crónicas e a subtileza que o caracteriza e exibe em cada semana no seu espaço jornalístico muito lido e concorrido.

Entretanto, os termos usados indiciam a sociedade a começar a tratar qualquer jovem que reivindique um pedaço de pão, pertencente ou não ao Movimento Revolucionário, que faça greve na empresa ou não, como um Bandido “Verdadeiramente nocivo para a sociedade”, como o M/V bem o diz. Talvez seja esta a razão que o Partido do M/V, o glorioso M reativou a ODP e as BPV – Brigadas Populares de Vigilância cuja missão é a de perseguirem e abaterem física ou socialmente todo aquele que desde o bairro ou habitat diga “Não” a esta governação. Vamos ser honestos e realistas, o país vai mal e estes dados encomendados e propalados de estatísticas de desenvolvimento, não têm nada em conformidade com a realidade vigente nos nossos quotidianos no quadro do IDH; são enganosos. Por exemplo, dizer que os povos que padecem à morte de fome e seca no Cunene por desleixo e falta de humanismo dos governantes deveriam aplaudir este Governo em vez de se manifestarem, é também criminoso. Como criminoso pode ser incriminar o Club-k por dar espaço aqueles que são escorraçados da RNA, JA, TPA, meios que deveriam servir a multidão de civilizados ou indígenas.

Outrossim, este texto seu, estampado no “Semanário Angolense” e as declarações emitidas pela Ecclesia, não só pretende enterrar uma das Ferramentas constantes da Constituição que é o Direito a Manifestação, sequencial a Liberdade de Expressão, consagrados a qualquer cidadão habitante numa sociedade civilizada e regrada por instituições credivelmente republicanas, como crucifica o Folha 8 e William Tonet, colados com a praga dos gafanhotos, também na esteira o Presidente Chivukuvuku, molestado por todas as infâmias pelas suas conquistas a bem de Angola e a CASA-CE que no quadro da cidadania se predispuseram a auscultar os jovens intrinsecamente angolanos, cujo crime é o de reivindicarem seus direitos que todos nós sabemos são alienados por quem governa. O M/V Malavoloneke, disso não discorda, estamos certos e no mesmo diapasão.

Contudo, é torto condenar os jovens antecipadamente, mesmo se estejam a organizar-se melhor, a colocar um pouco de ordem no conjunto porque, em nenhuma das manifestações por eles organizadas atiçaram qualquer tipo de ódio, desacato, distúrbios; em nenhuma das ocasiões tenham partido qualquer coisa ou invadido o espaço de seja qual for a instituição publico-governamental para merecerem esta cognominação de vândalos. Pelo contrário, o pacifismo dos miúdos foi sempre respondido pelas mais violentas das brutalidades do Estado/Governo/MPLA, cujas imagens são tão factuais para serem desmentidas, tal é o braço partido e a cara rasgada do pacífico de todos os pacifistas, o Doutor Filomeno Vieira Lopes que guarda na memória e para toda a vida as sequelas de um Regime que nos quer todos mortos; ou melhor, alguns de nós mortos.

Em nenhum momento da Entrevista concedida ao Folha 8, o Jovem Gaspar Luamba, um dos mentores e líderes do dito Movimento Revolucionário, frisou o propósito de transformar a organização num bando de antissociais ou Revus, gangues, squads, bulling que subentendido traduz bem a cultura das várias tribos de marginais.

O M/V Malavoloneke sabe melhor do que todos nós burros, que os negros nos EUA, o país modelo de todas as liberdades e democracias, começaram a ter visibilidade como pessoas quando os Kunta-Kintés, as Rosas Parkeres, os Martin Luther Kingues e outros se rebelaram no bom sentido para reivindicar um lugar ao Sol que lhes era negado. O hoje expoente máximo, Prémio Nobel, Nelson Mandela atingiu o apogeu, graças igualmente as lutas de reivindicação que foram em todo o seu percurso sangrentas e mortíferas, até aos nossos dias, porquanto os direitos dos pretos na África do Sul, pese embora os esforços do ANC, continuam a ser pisoteados e muito longe do verdadeiro sonho de Nelson Mandela, o Madiba. Sem esse sacrifício, certamente não haveria esta África do Sul Arco-Iris.

Os miúdos nunca fizeram Revolução, se bem que alguém os tenha intitulado “Movimento Revolucionário”. O M/V Malavoloneke, não desconhece os contornos de uma Revolução com “R” maiúsculo. Nem mesmo esses Frustrados, na sua maioria imberbes se propuseram a cavalgar um processo de Reforma. “Revolução” no sentido epistemológico da palavra é sinónimo de Guerra, pressupõe arrancar tudo para se colocar tudo de novo; Revolução foi a protagonizada (armada) iniciada pela FNLA contra os brancos nos anos 60, a das catanas do 4 de Fevereiro reivindicada atribuladamente pelo MPLA do M/V Malavoloneke e do Muangai 66 da UNITA daquele que também denominaram o Monstro Savimbi, hoje chorado até pelos mais ferrolhos do “M” pelo seu senso de angolanidade e que mal ou bem arrebataram a Terra das mãos dos colonialistas opressores portugueses. Foi por meio dessas revoluções que hoje o M/V Malavoloneke já não pensa como antigamente que os brancos colonialistas eram ou são mais angolanos e humanos ou mesmo cidadãos do que os seus pais e avôs.

Mesmo se tenhamos de censurar a maneira ou a falta de estruturação do Movimento dos nossos filhos, sabemos todos que em todos os tempos, aqueles que mais se sacrificaram para a Liberdade de milhões, não são os escribas e eruditos iluminados como o M/V Malavoloneke, são mesmo os componentes desta faixa etária, aliás, filhos destes e de alguns operários estivadores confundidos, sem estratificação socioeconómica, mas que hoje não têm nada a perder; esses que se sentem traídos por vocês mais velhos, muitos sem juízo e que se tornaram apátridas pelo comportamento actual mercantilista; estes jovens se sentem não recompensados pelos esforços e sacrifícios consentidos por outros da mesma idade ontem jovens durante as guerras, hoje seus pais jogados nos estaleiros da vida produtiva, a quem era suposto darem equitativamente as mesmas condições a todos.

Nós que participamos no calvário das guerras, justas ou injustas, sabemos perfeitamente o que esses jovens ditos arruaceiros, frustrados e tudo o resto clamam: que sejam ouvidos com o discernimento e a honestidade intelectual recomendáveis e não continuamente vilipendiados, cuspidos, condenados, abusados como estão a ser até então. Talvez amanhã possam ser condenados, mas hoje a justiça será imunda se o incriminarmos de seja o que for; sem nos esquecermos que nada justifica estes abusos, como nenhum outro análogo finalmente justificou o endereçado pelo Apartheid ao indígena descendente dos Khoinsains Nelson Mandela hoje venerado pelo Universo “Mundial” na sua plenitude.

Os jovens de hoje são muito mais esclarecidos, na sua maioria no mínimo instruídos, apesar de socialmente “frustrados”, mas conseguem distinguir um boi em frente. Eles não exigem Superlativo, querem apenas o Básico, o mínimo necessário para se sentirem igualmente inclusos, não excluídos do vosso Sistema de Sociedade na interacção do vosso esquema de Crescimento/ Desenvolvimento = Estabilidade e Progresso humanizado; rogam apenas que sejam ouvidos e atendidos num denominador comum quanto a repartição dos honorários ou rendimentos deste Estado Angolano que deveria ser de todos nós, para todos nós, para não serem preteridos a favor de estrangeiros do mesmo ou mais baixo nível aos seus. Numa única palavra, eles não exigem ser ricos, apenas serem cidadãos plenos de seus direitos, tidos e achados no concerto das nações, a partir de uma Pátria Angolana que seja o Conjunto glorificante das nossas pequenas nações a cada um de nós!

Por isso: Meu Mais Velho, creio de idade e de juízo também! Perdoe-me o atrevimento se não mesmo o desplante de pautar pelos jovens e tomar partido em defesa pétrea original; porquanto sinto-me ainda jovem, portanto acusado por todos vocês ou vítima também de tanta incúria, embora não seja eu rebelde, mas em plena assumpção da vitalidade da minha consciência, se bem que já não nas têmperas que caracterizaram o nosso dinamismo dos tempos idos de um saudosismo jovem, naquela época sim, de verdadeiros revolucionários dos anos 74/ 75 a 2002 com armas nas mãos ou sem elas, mas que resolvíamos as coisas da nossa maneira, na maior parte das vezes, bem.

Importa lembrar, meus caros pacifistas como todos nós: mesmo no Vaticano, na MECCA, em Jerusalém ou entre os budistas existem as manifestações que alertam os perigos e concomitantemente propulsionam o avanço dos povos e das sociedades, tal como disse o Presidente Chivukuvuku. Não nos matem por isso; tal como vocês, nós, se bem que por vós marginalizados, também temos filhos para criar e esposas ou namoradas para amar. Basta o 27 de Maio ou a sexta-feira Sangrenta, tudo por causa destas animosidades verbais, mas subtis e letais. A ética somente exigida aos outros, não pode, nem deve ser confundida com a submissão de um ser que pensa ser livre, num país que a priori se diz Independente e Livre e quer dar lições a África subsaariana a partir da SADC em “Transumância”.

FIM