O conceito de nação, face aos recentes acontecimentos, ou aos desafios latentes, é questionado em permanência como na ex-Jugoslávia, na Bélgica, em Espanha, no Médio Oriente, na Grécia, na Turquia, na ex-URSS, etc. A mobilidade do capital e das forças de produção assim como as várias crises mundiais, colocam sérias interrogações ao conceito de soberania.

Entre nós, neste 33º aniversário da nossa Dipanda, proclamada em 11 de Novembro de 1975, perante a África e o mundo, pela voz do Dr. António Agostinho Neto, assiste-se a uma embaraçosa hesitação de certos sectores em assumirem a paternidade do acto constituinte da República.

33 anos depois, como vemos nós este passado tão recente, mas tão pouco preservado e ensinado? Que conceito de angolanidade promovemos? Quais são os símbolos e os heróis que defendemos? Por que caminhos vamos? Aonde se realizam estes debates? Quem contribui para os mesmos? Somos ou não uma pátria, temos ou não laços históricos que nos unem, laços culturais, interesses e aspirações comuns? Não somos a unidade na diversidade?
Até 11 de Novembro de 1975, Angola era considerada, à luz do direito internacional, uma colónia de Portugal. Foi o acto da Proclamação que a tornou, de jure e de facto, após o combate armado que conduziu às negociações, numa parcela politicamente independente e reconhecida pelo concerto das nações.

Quem conduziu esse processo? Quem liderou a luta de libertação nacional? Quem esteve nas negociações político-militares? Sem desmerecer a histórica resistência anticolonial no nosso país, forçoso é reconhecer que não foi a monarquia tradicional que conquistou a independência. De facto, não foi a rainha Jinga que ultrapassou a pertença tribal. Não foi o rei Mandume quem unificou o país sob a bandeira de uma só nação. Tão pouco foi o rei Ekuikui quem tornou Angola livre do domínio colonial.

Essa honra, esse feito ímpar, deve-se a um grande líder, homem de visão, tenaz e corajoso que conseguiu, na sua época histórica, unir e congregar sensibilidades díspares e interesses diversos para atingir o objectivo primordial do programa da sua filiação política. Onde outros fracassaram, onde outros se demitiram dos seus direitos e deveres, onde outros baixaram os braços, onde não resistiram à terrível máquina opressora, onde outros traíram a esperança do seu povo, onde alguns escolheram um destino menos difícil ou se renderam, é a este homem, o Presidente Fundador, primus inter pares, o primeiro entre iguais, aquele que será para sempre recordado como o Libertador, o Independentista, o Fundador da Nação Angolana, a quem se deve, por mérito próprio, o tributo do respeito, da honra e do reconhecimento.

Seja qual for o clima político ou económico vigente, o facto histórico é inegável e inalterável. Deixemos pois a mesquinhez tacanha, a presbiopia política, a inveja intelectual e reconheçamos, de uma vez por todas, que ao menosprezarmos Agostinho Neto, o símbolo com que se identificam cada vez mais as jovens gerações angolanas, estamos a esbofetear a República.

Ao fecharmos os olhos para a lixeira que invade progressivamente a área do Mausoléu, ao esquecermos que ali jaz alguém que personifica a Pátria pelo seu acto constitutivo criador, que se encontra acima de todos os cargos da magistratura nacional, ao ignorarmos os sucessivos atrasos na conclusão dessa obra enquanto se erguem milhares de outras estruturas, só podemos considerar que o eclipse forçado ao nosso Sol apenas torna o brilho das outras estrelas mais sombrio.
A verdade diz-se.

Fonte: JA