Luanda - O clima de insegurança que se vive em zonas do país tem levado a que um número considerável de empresários nacionais e chineses optem pela compra de automóveis blindados, para garantirem a sua segurança e dos seus funcionários.
Fonte: O País
Ricardo Paulo, um dos gestores da empresa Asmanra Lda, referiu que os carros à prova de balas protegem muito as pessoas que transportam diariamente elevadas quantias monetárias não só a nível de Luanda como das demais províncias, no seu dia-a-dia.
Os automóveis com estas características acabaram por se constituir nos meios apropriados que alguns empresários que trabalham fora da capital do país encontraram para protegerem não só as suas vidas como os seus bens materiais ou monetários.
“Temos clientes que trabalham em outras provinciais e eram constantemente assaltados por marginais, mas que viram esta situação resolvida depois de adquirirem veículos que tínhamos à disposição”, frisou. Acrescentou ter vários clientes que optam por comprar dois ou três carros anti-bala para transportar valores.
A título de exemplo, Ricardo Paulo contou a história de um cliente, que consideram ser bastante fiel àquela concessionária, cujos funcionários da eram constantemente assaltados no momento em que transportavam elevadas somas do seu empreendimento para uma agência bancaria da cidade e só conseguiu pôr cobro a esta situação com a compra de um veículo com esta especificidade.
Apesar de não conseguir precisar se os assaltos resultavam de uma combina entre os funcionários da referida empresa com os marginais, disse que os carros ficavam totalmente perfurados com as balas e os seus utentes com graves ferimentos.
No momento em que a equipa de reportagem de O PAÍS visitou o stand Asmanra, no município de Belas, nesta quarta-feira, 17, constatou a existência de mais de três veículos blindados na montra, nomeadamente, um Toyota Lande Criuser VX, Rav4 Chinês e um Toyota Hilander. Junto à porta de entrada, está exposto um vidro lateral de um carro que foi baleado, supostamente por assaltantes.
Para além destes veículos, Ricardo Paulo explicou que a sua empresa receberá nos próximos dias mais duas viaturas com as mesmas características de marca Lande Rover Discoverye e Lexus.
“O carro mais barato custa seis milhºoes de Kwanzas, que é o RV4 Chines, ao passo que o mais caro é o Lexus, cujo valor oscila entre os 30 os 35 milhões de Kwanzas”, declarou uma das funcionárias do stand que acompanhava de perto a entrevista.
Esta acrescentou que para além da entrega imediata, reservam aos interessados a possibilidade de encomendarem um carro com estas características desde que se comprometem a pagar uma caução que varia de 10 a 50 por cento do valor do veículo.
Segundo Ricardo Paulo, para além da componente de protecção, que os torna muito mais pesados em função do tipo de vidro e da chaparia, estes veículos têm as mesmas características mecânicas que os demais.
No que toca à quantidade de automóveis anti-bala até agora comercializado, declarou que o número ainda não é muito elevado tendo em conta ao facto de terem inserido recentemente este tipo de veículo no seu portefólio.
“Temos comercializado alguns… não em enormes quantidades porque as pessoas estão a conhecer agora este meio e registamos é uma taxa elevada de indivíduos que vem se inteirar sobre as condições dos carros e os preços”, explicou e esclareceu que o fato destes veículos serem caros não tem consituido empecilho para o negócio.
CRIVADOS DE BALAS, MAS EM VIDA
Os empresários chineses em Angola tornaram-se nos principais utentes destes meios especiais, em função da quantidade de assaltos que vinham sofrendo. Os clientes do Banco de Fomento e Crédito (BFA) que frequentam a agência do Lar do Patriota, deparam-se constantemente com a presença de um grupo de cidadãos asiáticos que se fazem transportar num automóvel de marca Mitisubish anti-bala para se prevenirem de possíveis assaltantes.
Como prova de que os chineses são as principais vítimas, o comerciante recordou a história de alguns empresários chineses que foram baleados por dois indivíduos de motorizada no momento em que saíam da loja da TDA, situada em Talatona, em plena luz do dia.
“Eles não entraram em pânico e se limitaram apenas a parar o carro porque tinham os pneus furados e ligaram para à Polícia Nacional pedindo ajuda. Depois de alguma insistência os marginais acabaram por desistir por se terem deparado com automóvel blindado”, contou.
O jovem empreendedor é de opinião que os marginais terão sido informados por alguém que os seus clientes se encontravam com alguma soma monetária no bolso, pela forma como a acção se desencadeou.
Na loja, O PAÍS encontrou dois placards retratando a história de utentes destes veículos que conseguiram sair ilesos de assaltos. Num deles, consta que no dia 15 de Setembro de 2011, às 11h30, o funcionário de uma empresa foi interpelado por um grupo de seis indivíduos armados, no momento em que acabavam de fazer compras algures do bairro Benfica. Os assaltantes fizeram 26 tiros contra o carro blindado, mas não tiveram êxito.
Contou que para além dos automóveis comercializados pela Asmanra, tem conhecimento da existência de carros similares adquiridos por particulares no exterior do país. No seu entender, esta escolha está relacionada com as possibilidades financeiras de cada um, tendo em conta que estes veículos não são acessíveis.
Ricardo Paulo apela às individualidades singulares ou colectivas que se dedicam a transportação de elevadas somas monetárias a não facilitarem perante as acções dos marginais, por estarem em jogo em primeiro lugar a vida dos seus funcionários e em segundo as suas finanças.
“É algo que pode-se tratar com zelo, mas que muitas vezes acabam por negligenciar e só quando acontece o pior é que se arrependem por não ter optado pelo reforço na protecção dos seus bens”, declarou.
De acordo com um anúncio fixado na vitrina na loja, os automóveis comercializados têm o certificado de protecção de B4 da categoria CEN Europa. “A unidade de controlo electrónico, o tanque de combustível, o tanque de água e a bateria têm protecção especial”, diz o documento escrito em português e mandarim.
Ele diz ainda que para além dos vidros, as colunas e as bordas das portas são anti-bala e que os pneus são dotados de um dispositivo que asseguram o andamento normal do veículo por mais de 30 quilómetros, a uma velocidade mínima de 50 quilómetros a hora, depois de atingidos, de modo a permitir ao utente retirar-se do local do crime do crime o mais rápido possível.
Na esperança de obter mais informações sobre este assunto por parte da Polícia Nacional, O PAÍS contactou o porta-voz da Direcção Nacional de Viação e Trânsito, superintendente chefe Angelino Serrote, mas o mesmo recusou-se a prestar qualquer informação alegando que carecia de autorização superior.
Tendo em conta que o comandante da unidade não se encontra no país, encaminhou-nos ao Director de Comunicação e Imagem do Comando Geral da Polícia Nacional, Aristófanes dos Santos, mas os nossos esforços não tiveram êxito.
ASSEMBLEIA TEM BMW BLINDADOS
Os deputados à Assembleia Nacional têm à sua disposição cerca de três BMW blindados pertencentes à frota do presidente daquela instituição desde a legislatura passada.
“O então presidente António Paulo Kassoma, optou por colocar os carros à disposição de qualquer deputado que mostrasse interesse em circular num deles por achar que a sua vida se encontrasse em perigo, desde que solicitasse por escrito”, contou a O PAÍS, um antigo deputado do partido no poder.
Este não conseguiu precisar se alguns dos seus colegas, independentemente da filiação partidária, chegou a solicitar a disponibilização de um destes meios rolantes.
Os automóveis fazem parte de um lote de 210 BMW, cujos modelos variam entre 550i e 540i, adquiridos em 2010 à empresa de Transporte de Cargas e Granel (TCG) para os representantes do povo na casa das leis.