Luanda - Há dias li um pensamento vazado pelo articulista Nelo de Carvalho segundo o qual o desaparecimento da UNITA determinaria uma melhor consciência política na forma como se faz oposição em Angola (é a síntese do pensamento e não as palavras ditas).

Fonte: Club-k.net

ImageOra, o caso sobre a suspensão de Nfuka Muzemba do cargo de Secretário-Geral da JURA na UNITA reflecte os permanentes questionamentos que levanto contra a “idoneidade” dos partidos políticos e a forma audaz e capciosa como manipulam as consciências de militantes e simpatizantes sérios e que se emprestaram a causa por razões claramente cívicas e até patrióticas, registando uma clara diferença entre o que é a sua essência orgânico-funcional e a forma como se apresentam ao público eleitor.

Não há nada de estranho nisso, pois reflecte a natureza operacional dos partidos políticos, seja em Angola, África do Sul seja nos EUA, Brasil ou Portugal. A esse recorte epistemológico provocado (ou seja a esta diferenciação forçada e intencional entre o sujeito político e o objecto que é a sua acção) é o modus operandis dos partidos políticos que em Angola vale desmitificar.

Para quem olha para a UNITA na sua forma (a partir de fora, ou mesmo de dentro sem lhe viver o centro de decisões) é atraído pela sua longa história política cheia de actos de coragem e sacrifícios dos seus “heróis” vivos ligados pelo cordão umbilical político a um dos maiores líderes políticos angolano (porque não africano?), descontados os exageros que lhe foram imputados e dos quais ninguém fica isento de os cometer nas suas condições, que foi o Jonas Savimbi – JS.

Mais ainda se lhe acrescenta o facto de que em 1992 esta organização repleta e verdadeiros patriotas conseguiu impor-se contra um comunismo que nos levava a viver a vida a volta da luta contra a fome (esperando por navios de comida que vinham de fora para alimentar todo um povo), revelando aos angolanos uma nova maneira de viver a sociedade através de um projecto de Estado onde o primado da lei e do exercício de cidadania pelo voto periódico aos dirigentes era necessário e obrigatório para a devolução da dignidade humana e para a harmonização de todos os angolanos.

Esta percepção nos leva a encarar um partido político com um firme propósito para a reforma do Estado emprestando ideais de mudanças. Lembro-me de uma das centenas de entrevistas que assisti em que Jonas Savimbi procurava diferenciar o conceito de Alto Comandante (que lhe cabia) e o de Comandante-em-chefe (que cabia ao presidente José Eduardo dos Santos – JES) dizendo que enquanto o Comandante-em-chefe coordena as tropas envolvidos em batalhas a partir do seu gabinete, o Alto comandante coloca-se em frente das tropas enfrentando com ele as batalhas e vivendo, por isso, as mesmas vicissitudes que apenas a guerra pode causar nos homens.

São argumentos com profunda força mobilizadora que apenas alguém capaz de se sacrificar pelos seus “irmãos” os podia pronunciar. Eram argumentos desses somados aos inúmeros actos que faziam a aura da UNITA mobilizando os militantes e simpatizantes pelas zonas antes controladas pelo MPLA “partido-único”.

Uma vez no seio a mítica organização, o indivíduo é recebido por um conjunto de simbologias que revelam irmandade e propósito político, através de palavras de ordem político-ideológicas com fundo de coesão social; da disciplina harmonizadora entre os militantes onde a terminologia “mano” ou “maninho” revela igualdade e solidariedade; há ainda uma linguagem política própria que procura destacar o espírito de tolerância para com os menos atentos aos ideais da pátria segundo a percepção dos dirigentes – Percebe-se então um processo de iniciação ideológico-político que começa pelos testes de paciência e convicção e termina na ascensão para sectores de responsabilidade segundo as necessidades e conveniências internas, num verdadeiro percurso revelador de maturidade e merecimento aos olhos dos “manos”.

Mais ainda os sinais lógicos e ideológicos, formais ou materiais, alguns dos quais introduziram um verdadeiro modismo imitado pelo partido no poder: o uso de cachecol com as cores do partido, o crachá colocado na borda da gola da camisa ou do casaco, a união dos militantes nas reuniões simbolizada pelas mãos dadas e pela entoação de canções de cariz patriótico (hino da UNITA, da JURA ou da LIMA).

É tudo isso que faz a aura da UNITA para quem se interessa pela reforma política de Angola sem se emprestar a vassalagem ao partido no poder. É tudo isso e mais alguma expectativa que se forma no indivíduo que adere a causa propalada publicamente pela UNITA. É essa a forma; a capa ou a “casca” da UNITA para quem está de fora ou se encontra na periferia do centro de decisão, estando nos órgãos de base ou intermédios.

O mais profundo conteúdo da UNITA; o seu “caroço” atravessando-lhe a polpa repleta de actos de iniciação e encorajamento com formas lúdicas de equilíbrio regional no plantel dos militantes responsáveis espalhados pelas regiões administrativo-partidárias e pelos órgãos políticos e do Estado, revela então um assombroso carácter sectário, onde o tribalismo e o regionalismo (e até o racismo) se revelam aos olhos de quem procurou acreditar nos ideais que se apregoam pelos meios de comunicação social, pelos comícios e todos os actos de mobilização de massas.

Então, um verdadeiro filme de terror se vai desenrolando a medida que formos percebendo a origem e o desenvolvimento desta dimensão “secreta” que se assemelha a uma verdadeira máfia política, onde um grupo reduzido de militantes (colocados no casulo denominado Comité Permanente - CP, excluídos aqueles que nela entram por inerência de funções) manipula com subtileza e admirável coordenação todo o movimento de massas humanas que corporizam a UNITA a volta de ideais muito longe de serem aqueles que galvanizam os mais valiosos patriotas dos nossos tempos.

Quando se chega nesse nível, está-se no interior de um pacto onde a verdadeira essência da organização contrasta radicalmente com a realidade vivida pelas suas manifestações públicas. Nesse nível de responsabilidade política, os dirigentes raramente se pronunciam a público ou assumem posições, quaisquer que sejam, sem uma clara orientação coordenada pelo Presidente em nome de uma estratégia política, com as suas tácticas que estonteiam os menos envolvidos, que encaminha a UNITA para um claro favorecimento daqueles que se sentem no direito de reclamar o “título” de propriedade desta histórica organização política.

Percebe-se enfim que a UNITA tem verdadeiros “donos” que policiam afincadamente qualquer possibilidade de entrada de “intrusos” no seu plantel. Aqui, se percebe que a carreira política de quem não faz parte da “escola da mata” ou de um círculo regional que se afirma no centro de Angola, chega ao fim e uma parede de concreto se impõe contra os sonhos e espactativas no processo de ascensão intra-partidária.

Simultaneamente, se percebe uma luta de militantes ligados por laços familiares; um novel de factos sobre uma rígida “irmandade de sangue” faz perceber a existência de cumplicidades difíceis de promover traição entre os mesmos militantes envolvendo-os num silêncio que esconde mortes, assassinatos e traições sobre uma enorme fila de gente com nomes sonantes na história da UNITA.

Então fica claro que um grupo (cujo número não alcança 1% dos militantes), controla a UNITA num exercício desesperado pela preservação de segredos que desembocariam em responsabilidades criminais para cada um deles se revelados. Tudo fazem para que aqueles que por via dos Estatutos e em nome da pretensa democracia assumem funções efectivas no CP não se apercebam das “maquinações políticas” que começam em círculos restritos (envolvendo os verdadeiros “membros permanentes” ou seja, aqueles que nunca sairão deste órgão senão pela via da morte) longe do partido e desembocam nas longas sessões deste órgão máximo de direcção do partido, também conhecido como a “direcção do partido”.

Então a cumplicidade se cristaliza a volta de um verdadeiro senso tribal ou regional disputado entre os militantes oriundos do Bié e os do Huambo, afastando deste círculo os militantes com origens benguelenses, num claro estampar da ideia de que a UNITA não envolve nesta cumplicidade os povos ovimbundus na dimensão em se lhe acusou várias vezes o próprio partido no poder. As razões da saída, ou “fuga” de Jorge Valentim, o expoente máximo entre os benguelenses, não estão longe deste sectarismo que ganhou profundas raízes com a morte do líder fundador da UNITA.

Ao nível da JURA percebe-se perfeitamente como se desenrola está prática sectária. A “direcção do partido” tem nela os “filhos do partido”, escolhidos entre militantes com laços de sangue ou reconhecida “fidelidade ideológica” (cumplicidade obrigatória por falta de opção diversa para sucesso pessoal) formada a partir das áreas de resistência militar (nas matas), porém unidos pela identidade tribal e ou regional, misturados aos “jovens intelectuais” recrutados nas cidades “infestados” de inocência patriótica que por sua vez arrastam os jovens “frustrados” (modismo introduzido no dicionário político angolano, que aqui quer dizer o mesmo: os que estão contra o quadro político atabalhoado dos dias de hoje), num casamento aparentemente oposicionista em relação ao regime em que os primeiros se sentem herdeiros naturais dos mais altos cargos do partido e os segundos relegados às funções de meras peças nas engrenagens da máquina política que se manifesta ao vasto público transpirando ideais patrióticos numa euforia contagiante.

Este último grupo (jovens intelectuais e os simples frustrados – este grupo maioritário adensado de várias origens étnicas e regionais) é a massa de jovens que acredita na mítica UNITA construída por Jonas Savimbi longe da percepção da sua estrutura sectária.

Assim se compreende que na JURA (moderna, i.e., aquela que se formou na cidade) apenas dois dirigentes foram alvos das maquinações sectárias. Adalberto Katchiungo (que pode ser considerado o pai da JURA moderna – pela formalização dos seus estatutos e do seu quadro regulamentar) e o Nfuka Muzemba.

O primeiro e o último líder da JURA moderna respectivamente. Ambos têm em comum serem “estrangeiros” para a Direcção da UNITA e essa condição une sempre os membros permanentes; o núcleo duro. Adalberto Katchiungo, apesar de ter raízes étnico-linguísticas no Huambo, é mestiço “mulato” (na UNITA é um empecilho sério nascido de uma suposta ideia de que filho de cobra é cobra em alusão a ideia da luta contra o povo colonizador enquanto fundamento de Muangai, cujo conteúdo “mais puro” nunca foi tornado público) e Nfuka Muzemba, é bakongo.

Este segmento étnico-linguístico, teve algum espaço de destaque no seio do partido do Galo Negro ao tempo de Jonas Savimbi com o seu maior representante na pele de Nzau Puna passando por Tony da Costa Fernandes e culminando com António Dembo, em meio a centenas de valiosos quadros intermédios que nos dias de hoje desapareceram das hostes do Galo Negro protagonizando um verdadeiro “êxodo tribal” com a morte “inexplicada” de António Dembo, então Vice-Presidente da UNITA. Diz-se que morreu de fome num exercício panfletário para animar os bakongos revoltados com a sua morte.

Não estranha que a sobrevivência política de Ernesto Mulato (também bakongo) ao cargo de Vice-Presidente seja um meio subtil de persuasão para a permanência dos restantes bakongos que afinal reclamaram o seu espaço político depois dos enormes sacrifícios consentidos desde os períodos mais críticos da “resistência”. Estes dois líderes juvenis tiveram ainda a semelhança de terem os seus mandatos completamente inviabilizados pela Direcção do Partido.

Enquanto Adalberto Katchiungo lhe era inibido o exercício político de oposição aberta contra o partido no poder, tendo sob seu controlo um mísero orçamento corrente (que pouco ou nada servia para manter os serviços administrativos centrais), Nfuka Muzemba nunca teve nenhum “tostão furado” para pagar se quer papéis ou recargas telefónicas desde que foi eleito ao cargo de que foi suspenso.

Ironicamente, dentre as acusações está o desvio de fundos nunca recebidos. A sua adjunta Navita Ngola, recebeu verbas de funcionamento, mal foi confirmada para substitui-lo. E aconteceu o acampamento de jovens no Kwanza Sul com pompas e circunstâncias nessa base. Navita Ngolo, enquanto filha de Eugénio Ngolo Manuvakola faz parte do “escol” dos “filhos do partido”. Assim se passou com Ângelo Sapiñala e Liberty Marlin Dirceu Chiaka “o Kunta Kinte – Seu cognome no seio juvenil vindo da resistência” quando assumiram o cadeirão máximo da JURA.

Como “bons filhos” foram privilegiados com todos os apoios materiais e financeiros para viabilizarem os seus mandatos passeando toda a pompa e circunstância de dirigentes juvenis, porém obedecendo a lógica de uma organização não oposicionista como recomenda a “direcção do partido”.

Ora, Tal como Adalberto Katchiungo, Nfuka Muzemba tem iniciativa política. Ou seja, protagoniza factos políticos. Adalberto Katchiungo, está na origem dos debates sobre a Política Juvenil do Estado, do dia Nacional da Juventude e da Institucionalização do CNJ (Conselho Nacional da Juventude) como organização cm fins de utilidade pública.

Agenda, ao seu tempo de difícil digestão política para o MPLA e para a “direcção do partido” que escondendo a suposta vocação para oposição procurava concertações constantes, dando como resultado o enfraquecimento das posições JURA no CNJ então temidas pela JMPLA de Boavida Neto. Nfuka Muzemba, é o “Senhor das Manifestações”. Não há evento que mais preocupa a UNITA por ser a mais clara demonstração da oposição ao regime com o qual se percebe partilhar interesses nunca divulgados fora de certos círculos.

A UNITA nunca teve interesse em ver o seu braço juvenil a protagonizar factos que demonstrem um verdadeiro movimento de jovens a favor das transformações políticas nacionais. Não é por acaso que não apoia iniciativas sobre manifestações públicas de forma clara e inequívoca que coloquem o regime contra a parede. Porque a UNITA pode fazê-lo e é a única força política angolana com condições humanas para tanto.

A condição étnico-tribal de Nfuka Muzemba é um elemento secundário, embora decisivo, para a trama que lhe esbateu no auge do seu percurso político-partidário nas hostes do Galo Negro. Faz razão da sua maquinação o facto de não ser um aliado natural de Isaías Samakuva – IS que pretendeu ao tempo da sua candidatura um outro jovem “filho do partido” para a sucessão do então Secretário Geral da JURA, Liberty Chiaka, que a semelhança de Ângelo Sapiñala, é outro apêndice juvenil do “clube dos proprietários” da UNITA.

IS, tal como os seus pares “permanentes” na UNITA, percebe que Nfuka Muzemba não é um “alinhado” natural pela tendência que se lhe percebe para favorecer as “operações eleitoralistas” de Abílio Kamalata Numa de quem se “desconfia” vir a concorrer contra IS nas eleições que se avizinham.

Ora, sendo a JURA um importante instrumento de mobilização de eleitores (foi decisivo nas eleições que elevaram IS ao poder pela primeira vez) é necessário “expulsar” o jovem líder “desalinhado” antes que não ponha em causa a preservação do poder que se pretende perpetuado, a dar pelos Estatutos que acabaram retirando os limites de mandatos para o Presidente da UNITA.

É este o problema de fundo para o caso do infeliz jovem que vê precipitada a sua queda muito antes do termo do mandato. Pois, o processo disciplinar é apenas um exercício dilatório para uma verdade dada como certa que é o fim do seu consulado na direcção da JURA, estando igualmente suspenso do Comité Permanente. Não podendo sê-lo como Deputado a Assembleia Nacional por inibições legais que contrariam a vontade dos “proprietários”.

Esta situação, levanta uma outra inquietação. Que a gestão de um individuo “expulso” no seio da bancada parlamentar. Pois, nessa condição, certamente fará um exercício de um “opositor” dentro de uma bancada parlamentar, i.é, completamente desenquadrado das orientações do seu partido que lhe manterá distante dos seus “dossiers” políticos propostos ao parlamento.

Vem deste “imbróglio” todo a suspensão por 8 dias, que servirá igualmente para mensurar a reacção dos meios políticos e com base nelas melhor formularem as soluções viáveis. Portanto, o processo disciplinar não passa de um “composto florido” para enfeitar o caixão político fabricado com propósitos alheios a percepção da opinião pública.

Quando Nfuka Muzemba foi suspenso pelo acto formal do Secretário Geral da UNITA, e os rumores começaram a assumir forma de verdade pelos meios de comunicação social, este partido apressou-se logo a desmentir o facto, quando havia já um documento assinado a este propósito e entregue ao próprio Nfuka Muzemba.

Lembro-me de um militante juvenil “inocente” me ter assegurado pelo Facebook que Nfuka Muzemba não estava suspenso. Isso aconteceu na ausência de IS num claro mimetismo com a técnica já conhecida no regime. Ou seja, para passear a sua inocência ao caso IS ausentou-se antes de Victorino Nhany “proferir a sentença” previamente concertada pelos “proprietários”.

É obvio que o SG da UNITA obedeceu a ordens que nem sequer lhe são, eventualmente favoráveis, no jogo político que se revela com a aproximação das eleições. Não faz parte dos “permanentes” (núcleo duro). É um permanente por inerência de funções, sem grandes capacidades de decisão e tão pouco de agir por livre iniciativa.

Então, o regresso de IS deu lugar àquilo que podia chamar de “o efeito lúdico da Arte Política” que é a revelação da inocência no rosto da intriga. Pois, Nfuka Muzemba, foi ter com IS manifestando o quadro situacional que o envolvia e a falta de consideração das provas por si apresentadas à sindicância feita.

Ao que o “inteligente” Líder do Galo Negro respondeu estar surpreendido com a situação que apenas tomou conhecimento ao momento da abordagem feita pelo líder da juventude. Algumas exonerações nos círculos castrenses acontecem seguindo o mesmo estilo. Ou seja, IS seguiu o estilo. Assim, envolvido pela auréola de “bom samaritano” aos olhos do “inexperiente” Nfuka Muzemba, IS não evitou o inevitável: a prévia decisão do “núcleo duro” do CP na forma do comunicado final que a mim estava longe de surpreender.

Não é que ponha a mão no fogo pelo “suspenso” Secretário-Geral da JURA. Não o faria por imparcialidade e pela responsabilidade que observo no exercício político. Não sou membro da UNITA e como tal não estou em condições de garantir que o seu mandato seja completamente impoluto em matéria de transparência e boa gestão. Da mesma forma que, como pessoa próxima, não lhe adivinho e nem lhe surpreendo com os sinais de riquezas de que é acusado.

Um indivíduo que, como dizem, se dá ao luxo de oferecer um apartamento a um amigo na Cidade do Kilamba quando ele próprio vive no bairro do Palanca (que todos sabemos não ser nenhum Talatona), no mínimo deve levar uma boa surra dos seus próprios parentes (se não tiver esposa), por manifesta prodigalidade.

Mais, ainda quando se diz ter recebido milhões de dólares e mantém uma vida agitada de problemas que nem eu mesmo atravesso com as minhas modestas rendas; quando entre a famosa frota de viaturas caras se encontra uma Land Cruiser Prado “caducada” que é por sinal a viatura de preferência (a mais usada pelo menos) do jovem “milionário”.

Se fosse verdade, até eu próprio ajudaria no internamento psiquiátrico do meu amigo. Ao menos os parentes usufruiriam da “enorme” riqueza que afinal esbanja as escondidas sem se lhe saber qualquer destino proveitoso. Mais ainda se estranha que um jovem líder “comprado” pelo regime se presta a fazer declarações “musculadas” contra os que lhe dão “de comer”? (as suas intervenções públicas não escondem essa veia oposicionista). Isso cabe na compreensão de gente fanática. Nunca de pessoas sérias. Tamanhas acusações só podem caber na maquinação política que advêm da parte interna e desconhecida dos militantes a UNITA.

Pois, se a “direcção do partido” que envolveu o CP (os membros por inerência de funções entre os quais se encontra o próprio SG da UNITA) numa verdadeira aventura política tem como provar as acusações criminosas porque não procede a uma queixa-crime contra o acusado chamando pelas autoridades policiais e judiciais, a semelhança do que fizeram, não faz tempo, contra JES elencando um conjunto de factos acusatórios?

Não se dá este passo, precisamente por inexistência de provas que afinal servem de “batom” para os lábios da maquinação política só para o “angolano” (não é necessário o inglês) ver. Todavia, não é o ponto das minhas intervenções nesse caso, como bem se percebe. O que está em causa é o modus operandis usado pela UNITA para manipular a boa vontade dos seus militantes e simpatizantes. Com a sua actuação característica, a UNITA é “useira e vezeira” (parafraseio o comentário de um amigo) em seduzir, “maltratar” e desiludir os seus militantes e simpatizantes.

Usa-se claramente o sectarismo (com colorações tribalistas, regionalistas e até racistas) para se manter uma “casta” de históricos em frente dos destinos desta organização política, a custa das boas intenções de militantes aprumados e com visões reformadoras eivadas de plena convicção patriótica.

Não foi por acaso que num debate recente que animei no facebook me propus a persuadir o admirável Doutor Maurílio Luiele (membro do CP por inerência de funções e como tal um “outsider” entre os “proprietários”) a desistir da possibilidade de um confronto de ideias e visões que levariam ao cair da máscara do maior partido da oposição e a queda da mística da UNITA.

Ele arriscava-se a ser mal visto pelos “gurus”, “proprietários” ou “permanentes” do seu partido arriscando a sua boa aura de intelectual refinado e de patriota convicto com ideais cívicos inquestionáveis, muito bem cimentados entre os cidadãos angolanos mais lúcidos.

É na mesma senda que desencorajei a jornalista Ana Margoso e desencorajaria qualquer outro militante da UNITA a quem reconheço seriedade política. Estou longe de estar na base da precipitação de alguma “vitimização interna” destes valiosos concidadãos.

Percebe-se que esta “excelente” técnica com que a “direcção do partido” sempre se apresentou exímia em executar, visa esgotar a calma de Nfuka Muzemba levando-o a denunciar factos vergonhosos para UNITA proporcionando a oportunidade de ser “escorraçado” do partido com a ajuda de todos os militantes devidamente instigados pelos segmentos mais fanáticos.

Rotulando com epítetos de toda a sorte, como “traidor”, etc. Ou na pior das hipóteses, pretendem que o jovem “turco” (parafraseando o Sociólogo Victor Kajibanga que assim rotulava os estudantes ligados as manifestações universitárias) declare unilateralmente não mais pertencer a UNITA facilitando assim a tarefa de o verem “expulso” da Assembleia Nacional como último reduto de Nfuka Muzemba na arena política nacional.

Todavia, deviam temer que o facto vergonhoso de nunca terem alocado verbas para funcionamento da gestão da JURA ao longo do mandato fosse realmente relacionada com ideias segregacionistas, quando a sua adjunta mal assumiu o cargo, logo a cor do dinheiro transpareceu aos olhos da ala juvenil. Este bloqueio político-financeiro a que sujeitaram Nfuka Muzemba devia merecer a reprovação dos militantes e simpatizantes menos atentos que andam na “boleia” das manipulações dos “proprietários” da UNITA.

E percebo que se tudo “aquecer” contra os interesses do “núcleo duro” da UNITA essas vozes inocentes e bem-intencionadas serão chamadas a fazerem pronunciamentos públicos encobrindo uma realidade que desconhecem. Não aceito que um Doutor Maurílio Luiele ou Doutor Fernando Heitor passem por essa espécie de “sacanagem” política, exercendo uma verdadeira “advocacia do diabo”.

Que haja coragem da parte dos “históricos” para assumirem a sua própria jogada de intrigas políticas que no passado arrastaram para a vala da morte milhares de compatriotas seus ao longo da resistência armada, prestando-se a um debate aberto a opinião pública, através do qual devem salvar a aura da UNITA que fazem passear com discursos patrióticos e democráticos.

Não podia estar menos de acordo, embora possa parecer dramático para quem “ama” este partido político. Aliás, a série CARTA AOS PARTIDOS POLÍTICOS que publiquei no semanário A Capital em 2008 deixavam bem claro a percepção sobre a fragilidade e a inconveniência histórica de certos movimentos e tendências adentrados em partidos políticos que se assumem serem da oposição.