Nos últimos dias, a imprensa não-estatal angolana tem publicado notícias sobre uma intervenção de efetivos militares angolanos na RD Congo, entretanto, desmentida pelo Ministério das Relações Exteriores de Angola e pela missão da ONU.

"Não, não, isso são rumores. Verificamos, e não há nenhuma prova manifesta de que haja combatentes angolanos na RD Congo", declarou na quarta-feira à Agência Lusa o porta-voz da missão das Nações Unidas na RD Congo (Monuc), Jean-Paul Dietrich.

Também na quarta-feira, em Bruxelas, o vice-ministro angolano das Relações Exteriores, George Chikoti, disse que Angola poderá intervir no conflito na RD Congo no âmbito das "forças em alerta" da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Em declarações à Agência Lusa, o secretário de Comunicação da UNITA, Adalberto da Costa Júnior, disse que "a RD Congo tem uma presença significativa de forças das Nações Unidas, para não dizer a maior presença, com mais de cinco mil homens no terreno, e não faz nenhum sentido um envolvimento de Angola".

"A atual Constituição de Angola obriga que uma eventual presença militar em países estrangeiros deve ser aprovada pela Assembléia Nacional e se realizamos eleições e estamos agora na 3ª República seria bom que o país se pautasse pela normalidade institucional", afirmou Costa Júnior.

"A situação de instabilidade na região é um elemento de preocupação. Toda a região carece de estabilidade e na RD Congo, como um país vizinho, preocupa-nos a situação, mas devemos fazê-lo sempre dentro do quadro legal estabelecido", acrescentou.

Já o presidente do Partido de Renovação Social, Eduardo Kuangana, disse ser contra uma intervenção de tropas angolanas, salvo se estiverem enquadradas no âmbito das forças da SADC ou das Nações Unidas.

"Hoje, se interviermos militarmente na RD Congo, amanhã as gerações vindouras irão pagar por isso, uma vez que irá fragilizar as nossas forças porque irá morrer muita gente, nomeadamente os nossos militares", frisou Kuangana.

"Uma intervenção militar decidida de forma unilateral pelo presidente da República, José Eduardo dos Santos, como tem sido regra, irá criar-nos problemas futuros", disse.

Por outro lado, o líder da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), Ngola Kabangu, defendeu igualmente ser necessária a aprovação do Parlamento angolano para uma eventual intervenção militar no conflito.

Kabangu não se mostrou, contudo, convencido com o desmentido de Luanda, dizendo que, se forem verdadeiras as notícias de que há tropas angolanas na RD Congo, essa intervenção é "um erro".

"É um ato arbitrário e de prepotência do governo angolano porque Angola não pode empenhar-se numa guerra sem a anuência da Assembléia Nacional", acrescentou.

Para o presidente da FNLA, "todo o esforço para pacificar a RD Congo deve passar pela ONU e a União Africana, pois o conflito inter-congolês já se internacionalizou e não é um país como Angola, por muito amigo que seja da RD Congo, que irá solucionar o problema congolês".

A Lusa tentou entrar em contato o partido no poder, o MPLA, mas sem sucesso

Fonte: Lusa