Elegeu um presidente negro, e quê?

 A meu ver,  é muito mais do que isso, longe de ser um êxito da democracia burguesa, charlatanesca  e aproveitadora dos momentos históricos. É, sim, um  êxito da nação americana, do povo americano; e não do americanismo burguês, chauvinista ao estilo do tio Patinhas ou ainda ao do  tio Sam; ao estilo capitalista, aquele capitalismo cruel construído na base da exploração e do próprio racismo, incentivando guerras e a discriminação entre povos e nações; trocando  o papel da  nação e de um povo pela visão egocêntrica dos inúmeros aproveitadores que fazem da própria sociedade o ambiente propício para conquistar objetivos, em geral, distante dos interesses da nação. É, sim, uma vitória à integração da raça humana, na sua luta para diminuir as supostas diferenças existentes entre os grupos humanos; quando esses por algum motivo e razão encontram-se distantes: distâncias geográficas ou até culturais. É a vitória do Homem,  nas suas viagens,   em busca do Homem protagonizada ao longo da existência dessa  espécie, mas que por algum motivo a história, só,  consegue ter memória breve. E, simplesmente, faz referência a homens como Marco Pólo, Cristovão Colombo, Fernando de Magalhães,  etc. É a vitória da consciência social de um povo, aquele atributo que Marx, sabiamente, utilizou para caracterizar o êxito e o papel de um povo na história. E como não poderia deixar de ser é irredutivelmente a vitória dos pobres. Para corroborar nosso parágrafo é  basta ver que Obama  foi criado pela sua avó branca e que sua esposa é a pobre negra vinda da periferia de Chicago.

Numa visão menos ou mais abrangente eu prefiro dizer que se chegou a esse nível como conseqüência de lutas e vitórias; as lutas travadas ao longo dos  duzentos anos pelos direitos civis  daqueles que naquele país ( América) são tratados irônica e injustamente como uma minoria. Às vezes mesmos como se não fossem, igualmente, os donos da terra. América está de festa, mas não pela famigerada democracia, mesmo por que ela existe  há  duzentos anos; e neste circulo fantasioso de liberdade e de direitos até o Ku-kux-klan nasceu e se dá o direito de declarar sua supremacia contra aqueles que não se identificam como eles. Os instrumento e combustível propulsor desse êxito é um conjunto de fatores que não passa simplesmente pela chamada democracia eleitoral; mentirosa, fraudulenta,  enganosa, e  no caso americano totalmente incompreensível; afinal essa  -ou mesmo qualquer outra, no mundo capitalista- não demonstrou até hoje que tem acabado com o racismo  e todas as formas possíveis de discriminação, para não dizer mesmo a desigualdade sócio-econômica.

O que não entendemos é a tercerização do êxito a favor da burguesia, o que não se entende é o porquê de tanta euforia. Mesmo porque o resultado eleitoral é um direito, a meu ver, ultrapassado. Imprescritível, mas ultrapassado. E não só, é um direito que não  termina aí, pode e deve continuar todas às vezes que for preciso e necessário.

Tem até gente de quilate usando a vitória americana para denegrir  os regimes africanos, seus ditadores e os seus  líderes  vitalícios que aí estão, supostamente, atrapalhando o evoluir da democracia nesse continente. De que esses ditadores e líderes são ruins: são. Não há dúvidas. De que atrapalham os famosos processos democráticos, também não há dúvidas. Mas é miopia de mais  chegar à conclusão de que a democracia americana tem a superioridade que muitos acreditam ter, só porque América  elegeu um presidente negro. Elegeu um presidente negro, e quê? Já estava na hora! A vitória veio tarde, se me permitem.

Cairíamos  no mesmo erro se não aceitássemos mudança e evolução, mas aqui o que mudou e evolui é a Consciência Social de uma nação. E é isso que faz diferença, esse é o instrumento e o combustível, ou um deles, que tanto se precisa para se fazer história.  Voltemos ao sábio, Marx dizia: “da mesma forma que não se pode julgar a um homem pelo que pensa de si mesmo não se pode julgar a um povo pela sua consciência social”.

Assim, precisamos admitir que toda força espiritual ( consciência social) de um povo sustenta-se sobre uma base material; base material que  pode ter como conseqüência a herança história, a economia, as relações sociais, etc, etc. Os africanos merecem ser criticados e até ironizados, mas não inferiorizados  por uma democracia de fantoches que está longe de dar exemplos.

De que o exemplo americano pode servir para o resto do mundo, não deve ser interpretado como o exemplo de democracia a ser copiada, mas como o exemplo de um povo e uma nação, que mesmo existindo sobre a sombra e a escuridão da mentira, chegou a conclusão que na sua escolha pode ser pioneira no exemplo para a integração de culturas e raças. Mesmo porque América, por desgraça e infelicidade, já não é ameríndia ( do homem índio) passou a ser um patrimônio da mistura de raças, é um verdadeiro laboratório de fusão de milhares de identidade, culturas, raças e credos. No que diz respeito a raças é a visão do futuro da humanidade: a mestiçagem.

Sem querer ser repetitivo negamos aqui o êxito da democracia americana. Para ser mais explícito  e menos intriguista, menos complicador; negamos da maneira como essa democracia articulou-se ao longo da existência da própria nação. Em muitas fases, dela, negando direitos, discriminando e até cometendo crimes para evitar que a mesma tivesse um destino mais glorioso, a favor da grande maioria; é só basta recordarmos a morte do Martin Luter King em plena era moderna e contemporânea. E não só, a mesma sendo manipulada por grupos que dominaram essa nação de onde os interesses estavam muito longe das intenções democráticas. Por grupos de políticos  e  sindicatos mafiosos  que durante muito tempo definiram os resultados dos processos eleitorais.

A euforia é perdoável e pode ser genérica, mas o engano não!

* Nelo de Carvalho
Fonte:WWW.a-partia.com,Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.