Luanda - Ela era apenas uma mulher. Nunca vi um olhar tão molhado que parecia até que estava a chorar, sua hibridez hipnotizava qual ser humano com o coração no lugar..….


Fonte: Club-k.net

Seus cabelos eram negros e crespos e, os deixava quase sempre soltos como ela própria era ao andar, mesmo ao dormir era solta,…dormia com as pernas abertas e enviusada na cama, muitas vezes nua…me contou!

Um sorriso extinto, pois só se via quando a pedissem desculpa por qualquer situação…ao invéz de desculpar verbalmente, economizara o verbo e sorria com o dom que tinha no rosto, sorria sei lá porquê… 
    


Agora um senhor de identidade sigilosa mandava mensagens para Maué, aliciando-a com carros e outros artefactos legais das armadilhas da corrupção comuns em Angola.Você não é mulher para andar a pé, o sol te precisa na praia. Só nesse dia ficamos a saber que existiam mulheres feitas para andar no sol e outras não..acho que referia das Kinguilas e várias outras trabalhadoras que não dependem dos homens ou do roubo dos homens.

O homem era de peso, mais de porte físico ténue, mais ou menos do tamanho da sua moral ou dos seus princípios…tinha o cérebro acidentado. Pelo que soubemos tratava as pessoas pelo valor do seu bolso; era governante do executivo….


    
Maué era activista natural da moral humana, trabalhava com desespero e repudiava com militância o materialismo comungado pela mulher comum em Angola. Tinha sempre os pés no chão e preferia repousa-los no solo com a planta do pé nua, dizia que era para respeitar mais a natureza e os seres humanos. Daí que o governante se viria frustrado quando comprou um carro e, numa mensagem leviana mandou-a ir a Stand da Rubert Hudson para levantar o carro que já estaria em seu nome…ele sabia o nome dela completo e muito mais, como por exemplo que era solteira, tinha 28 anos, que morava de aluguer no Maculusso e só estudara até a 4º classe, o que nos fez entender que era SINFO ou qualquer outro bem informado do país,  que de certa forma a perseguia, tal como se faz em Angola quando se quer matar um oponente ao regime vigente.


Maué me ligou com ódio na locução. Sua dicção oscilava sobremaneira, até que sem demoras fui até ela. Aconselhei-a a pegarmos o carro e depois traçarmos o plano B que ficaria por conta dela. Nesse instante já  sabíamos o que fazer. Mandou-lhe uma mensagem a agradecer e pediu-lhe um apartamento também, onde iriam se encontrar para abusarem os seus corpos e gritarem alucinadamente. Num instante ligou e como galã de novela brasileira, disse que era uma ordem que em breve providenciaria. Sou seu escravo. Usava a palavra escravo para conquistar as mulheres,..víamos que teria consciência nenhuma sobre o que viria ser a escravidão e nem respeito nem conhecimento pela sua história. Era mais um apenas “governante”.
    

Uma semana depois ligou anunciando o condomínio onde comprara a casa,.. teria ela que apenas pegar a chave na recepção e usufruir da Patriota com Nova Vida numa daquelas casas de cinema. Fomos lá ter e era verdade para a nossa surpresa e admiração, por tamanha engenharia com que aliciava as mulheres que buscava sexo e submissão.
    

Maué pegou a chave e disse: agora sim….pouco tempo depois estávamos nós a coca da sua real esposa para entregar o que lhe pertencia. Foi quando após identificado ficou mais fácil. Mas Maué mudou de planos… Pagara um miúdo das ruas de Luanda  que vivia ao encosto das casas da rua dela, para lhe fiscalizar dia e noite  e todo resto..esse também lhe passara algumas prováveis informações.. A mim ainda naquela altura, pesara um pouco sua atitude ao recusar..ela não pensava em outra coisa senão com o ódio que á possuía desse homem. Foi quando uma lâmpada acendeu na sua mente e resolveu chama-lo para sair. Num jantar ela revelou as duas chaves num balaio que crianças trariam, mas entregou-lhe também um envelope. Pediu-lhe para abrir e ler. Não aceitou! Eu estava sentado numa mesa vizinha como alheio assistindo de esguelha. Pouco tempo depois, entraram as crianças com as chaves sobre o balaio..eram representantes de uma ONG qual participava activamente. As crianças eram mudas. Tinha uma intérprete que comunicava na linguagem de sinais enquanto Maué lia a seu jeito mas de forma compreensível o escrito no mesmo envelope, o mesmo seria apenas para o governante levar como recordação. Para dizer ao senhor:
    
Obrigado senhor governante, Estamos realmente muito agradecidos pelo seu gesto, mas nossas vidas não têm valor, não poderão ser ajudadas com valores provenientes da corrupção e do sacrifício de outras vidas tal como a nossa…. Ele se armadilhara sem saber, se via todo sem graça e preso com as próprias pernas. …As crianças prosseguiram…Ajude seus filhos, nos ajude porque também somos filhos seus, ajude os homens  e mulheres que precisam, que não têm nada quanto nós ou mal tomam banho, porque nem sempre têm 100 kz para comprar água como lá no nosso bairro, mas ajude respeitando nossa dignidade por favor, respeitando nossas dificuldades, nova vida. Essa casa e esse carro, são de outros angolanos como nós  e foram vocês quem os colocaram nessa situação, então devolva isso a eles como gesto de arrependimento e desculpas, e se tiver dignidade ainda, tire essa gravata e se demita do lugar que se encontra pelo amor de Deus…Entregue a eles porque também são filhos dessa pátria. Angola é nossa pátria.


    
No seu quarto Ela ditara o texto que proveio do seu coração, enquanto eu escrevia, nesse dia a energia tinha ido dar as suas voltas como de rotina.…as crianças apenas foram convidadas---O restaurante parou por um mês. Nesse dia a lua estava grávida com  o céu claro como o sua consciência e o seu  coração, só mesmo ela pôde pedir desculpa por ele no final. Desculpa por não aceitar o seu dinheiro.. Obrigado!


Ela era apenas uma mulher…morreu assassinada meses depois.


Maués Margô (Baiana)…(1979-2008)…mais uma vida banalizada e impedida de viver em Angola…