França - Excelência, Permito-me escrever-lhe esta missiva para manifestar a minha indignação, o meu repúdio e a minha irritação, mas também a da grande parte da juventude e da população angolana em geral, creio eu, sobre a onda de violência que a juventude angolana tem sido vítima nos últimos tempos.

Fonte: Club-k.net

Sou um jovem angolano residente em França e que tem acompanhado de perto e cada dia que passa, a evolução sócio-política e económica do nosso país. E sendo um patriota, estou extremamente preocupado com o rumo que o país está a tomar.

O fato dos jovens se manifestarem constantemente é sinal de que há um certo mal-estar no seio da juventude. E como pai da Nação, a sua reação deveria ser a de escutar a juventude para conhecer as razões que a levam a exprimir repetidas vezes o seu descontentamento nas ruas.

Aliás, o diálogo com a juventude é o que sua Excelência prometeu na mensagem que endereçou à nação angolana em outubro de 2011. Ao invés disto, sua Excelência enviou a Polícia de Intervênção Rápida (PIR) para reprimir duramente as manifestações pacíficas.

Disse «enviou» porque com todos os poderes que sua Excelência detém em Angola, e sendo o Magistrado supremo da nação, não acho que a violência gratuita a qual assistimos da parte da polícia nacional seja de simples  iniciativa do senhor Ministro do Interior ou do governador de Luanda sem o consentimento de sua Excelência.

Caso estes últimos sejam os únicos responsáveis da violência policial, a minha pergunta é, o que sua Excelência fez, enquanto Chefe do Estado, quando tomou conhecimento do sucedido?

Aplaudiu, dizendo «bom trabalho caro ministro do Interior ou senhor governador», ou pelo contrário, convocou-os para chamá-los a atenção? Ou mesmo para exonerá-los?

Se isto acontecesse nos países verdadeiramente democráticos do mundo, o senhor ministro do Interior assim como o governador de Luanda já deviam ser exonerados. O fato de não o serem até agora, é prova mais do que evidente de que as brutais repressões policiais dos últimos tempos têm a bênção de sua Excelência. O que é gravíssimo. Pois, sua Excelência foi designado para dirigir os destinos de Angola e não para exterminar a população angolana.

A outra pergunta que tenho é a seguinte : sua Excelência tem sempre agido deste modo para com os seus filhos, quando estes apresentam algumas reclamações ? Ou quando discorda com as suas reivindicações ?

As respostas a dar aos manifestantes devem ser de fórum social, Excelência, e não repressivo. Estes jovens têm pais, como sua Excelência também tem filhos. Eles poderiam ser seus filhos. Nenhum pai de família, digno deste nome, responde as queixas dos filhos com a violência.

O descontentamento social cada vez maior que assistimos, Excelência, é sinal mais do que evidente de que algo está errado na maneira que o país está a ser governado. Quando há desordem no lar, é porque o pai de família, que tem a incumbência de fazer reinar a ordem, não está a desempenhar devidamente o seu papel.

A violência atrai a violência. Se os jovens começarem a responder à violência de que são vítimas cada vez que exprimem o seu desacordo na rua, poderá desembocar em conflito. Neste caso, a quem o governo (ou Executivo) irá atribuir a responsabilidade ? A oposição ? Não. Não adianta intrometer a oposição neste assunto, pois ela nada tem a ver com as manifestações (que considero legítimas e legais).

As manifestações são promovidas pelos jovens, que sentem na carne e no osso o sofrimento resultante das condições de vida desumanas nas quais muitos deles são condenados a viver.

O responsável será com certeza, caso houver um conflito, o Executivo dirigido por sua Excelência. Instrumentalizar a situação para poder tirar dividendos políticos não vai convencer a sociedade.

Tenho a íntima convicção que este é o pretexto que o Executivo e o Partido MPLA, ambos dirigidos por sua Excelência,  procuram para poder atribuir a culpa à oposição e poder assim acusá-la de querer o retorno da guerra. Como já tem sido o caso regularmente. Para em seguida poder silenciá-la ou simplesmente aniquilá-la.

Não sei e nem consigo saber, durante todos estes longos anos que sua Excelência preside os destinos do nosso país, para onde é que vai o nosso país sob a liderança de sua Excelência.

Permita-me Excelência que lhe coloque algumas perguntas que me tenho colocado e que continuam sem respostas até ao dia de hoje. E acho que é também o caso para muitas angolanas e angolanos.

1. Excelência, qual é a visão que o senhor têm para o nosso país Angola? O que o senhor quer realmente fazer dela? 
 
2. Sua Excelência quer mesmo que Angola seja uma Democracia ou apenas está a fazer-nos crer que caminhamos para uma democracia efetiva, enquanto continuamos a viver numa autêntica ditadura (ou «ditaducracia» uma mistura de ditadura com uma dose de alguns princípios democráticos)?

3. Se sua Excelência não gosta que o povo se manifeste, porque razão introduziu o princípio de liberdade de manifestação na Constituição da República de Angola (artigo 47°)?

Com a maioria esmagadora que sua Excelência tinha no Parlamento (em 2010) mesmo se não fizesse figurar este princípio no texto constitucional, o projeto iria todavia ser adotado. Então, porque o fez figurar sabendo bem que não quer que os cidadãos exerçam este direito ? É para fazer um simulacro de democracia?

4. Sua Excelência acha mesmo que face à determinação dos angolanos a viverem numa sociedade livre e democrática, na qual impera o estado de direito, as repressões sucessivas e o medo que a sua polícia está a incutir à sociedade angolana irão prevalecer?

Gostaria ajudá-lo à responder a esta pergunta. Com certeza que o medo e as repressões não irão vencer, porque a democratização de Angola é irreversível. Os angolanos estão apegados à liberdade e a justiça. Irão lutar até conseguir a democratização efetiva de Angola. Custe o que custar.

5. Então, porque teimar em perseguir, assassinar e maltratar os angolanos que desejam somente viver numa sociedade livre e dirigida segundo à lei e não à vontade do príncipe ? Os mais de 27 anos de guerra civil não bastaram ? Muitas filhas e filhos desta terra perderam as suas vidas inutilmente durante o conflito armado. Porque  razão sua Excelência prossegue com práticas susceptíveis de fomentar um outro conflito?

6. Porque não jogar limpo? Começando por exemplo em obedecer às leis que o seu próprio governo (Executivo) faz ; acatando à Constituição da República que sua Excelência mandou confecionar e promulgou. Em seguida, cumprir com as promessas feitas e os acordos firmados ; para depois fazer primar o espírito democrático sobre o da ditadura ou o do partido-Estado.

Isto fará com que as liberdades sejam respeitadas e os direitos fundamentais garantidos. Como resultado da obediência a tudo que acabei de citar acima, teremos a paz e a estabilidade.

Uma vez os espíritos apaziguados, sua Excelência poderá decretar e encorajar uma verdadeira reconciliação nacional entre irmãos desavindos. Porque o que temos actualmente em Angola é um teatro e não uma reconciliação nacional ! Se sua Excelência levar este tipo de política em Angola, não será necessário manifestar ou contestar nas ruas.

Excelência, é com a justiça que se consolida o poder!

A Justiça sempre anda de mãos dadas com a paz. Se houver a justiça todos os angolanos estarão alegres e assim poderão viver em paz uns com os outros. Mas com a exclusão e as discriminações nunca conheceremos a estabilidade nem o verdadeiro sentido da palavra: PAZ.

Porque uma barriga vazia não fica em paz. Um pai ou mãe de família que não tem tecto onde possa abrigar condignamente os seus filhos não pode estar em paz. A paz não é o calar das armas Excelência, nem uma declaração que se pode publicar e concretizar-se. A paz é um estado de espírito Excelência.

Enquanto não houver justiça social neste país nunca conheceremos a paz. Porque a esmagadora maioria dos angolanos que sofrem e que nada têm para viver como seres humanos normais, não irão calar-se eternamente Excelência. O dia em que a aflição destes angolanos pobres atingir o mais alto nível, o dia em que a sua exasperação chegar ao seu apogeu, pode crer-me Excelência, aquele dia será o do fim do seu regime.

Não se tem dito que em democracia o poder pertence ao povo ? Com efeito, o verdadeiro soberano é o povo, Excelência.

A situação de Angola está péssima, Excelência! Tenho muito a dizer sobre esta questão, mas não adianta continuar a descrever o que todo mundo já sabe. O nosso país se encontra nesta situação porque falta à sua Excelência assim como aos membros do seu Executivo um pouquinho de amor para com Angola e os angolanos; falta a sua Excelência e aos seus colaboradores a vontade política de trabalhar realmente para o bem-estar dos angolanos e não para mostrar ao mundo de que está a trabalhar ; e enfim, falta-vos um pouquinho de sensibilidade para com o sofrimento do povo angolano que se encontra abandonada à sua sorte.

É por isso que já não podemos calar-nos. Este é o momento de todas as vozes relevantes da sociedade, sejam elas do Partido MPLA como dos demais Partidos da oposição e de toda a sociedade civil ajudarem sua Excelência, agindo de concerto e continuando a pressionar o seu regime de modo a liberar a sociedade angolana. Porque sem a pressão sua Excelência não vai liberar a sociedade angolana.

Antes de terminar, gostava apenas pedir a sua Excelência que mande libertar o jovem Nito Alves da prisão ! Porque a sua detenção é arbitrária. Se vivéssemos num país verdadeiramente democrático Nito Alves não seria detido pelos fatos pelos quais foi detido, e muito menos da maneira como foi detido na casa dos seus pais.

Mais tempo ele permanecer na cadeia, mais a imagem do regime de sua Excelência assim como da sua pessoa serão manchadas. Inclusive ao nível internacional ! Pois ninguém entende que um jovem de 17 anos esteja preso porque criticou o regime!

Um regime que encarcera oponentes menores de idade é um regime fraco mas que dá a impressão de ser forte ! É o caso do regime de sua Excelência ? Esta é todavia a impressão que muitos de nós temos do regime de sua Excelência, e a prisão do activista Nito Alves apenas veio acentuar e confirmar esta impressão.

À laia de conclusão, gostaria reiterar o que os angolanos querem. Nós angolanos, dentro e fora do país, porque todos nós sofremos direita ou indireitamente da má governação do país, queremos apenas uma Angola para todos os angolanos.

Uma Angola para o pobre como para o rico, para as mulheres como para os homens, para os instruidos como para os sem instrução, para os pretos como para os mulatos e brancos, para os angolanos de diferentes regiões de Angola sem discriminação relativa à tribo, à religião, a raça, a língua materna…

Recusamos viver numa sociedade na qual existem poderosos e intocáveis! Recusamos viver numa Angola onde as oportunidades são reservadas a uma elite e aos governantes e seus familiares. E onde a maioria é excluída!

Recusamos de viver numa Angola onde impera à lei do mais forte! Recusamos viver numa Angola na qual os estrangeiros têm mais oportunidades que os angolanos! Recusamos viver numa Angola que tem dono e queremos uma Angola de todos os angolanos.

Enfim, recusamos viver numa Angola na qual um punhado de indivíduos impõe a sua vontade à maioria dos angolanos! Queremos sim, e em suma, uma Angola fraterna, solidária, mais justa, para todos e acima de tudo democrática! Obrigado Excelência pela atenção dispensada. Espero que terá em conta os sábios conselhos que, humildemente, prodiguei a sua Excelência.

Um homem sábio disse uma vez : « Uma pessoa inteligente aprende com os erros cometidos pelos demais. Ela não espera cometer o mesmo erro para aprender à lição ».

Muitos dos homólogos de sua Excelência hoje ficaram apenas nos livros de história por não terem acatado os conselhos prodigados e por terem um ego desmesurado.

Saber sair no momento exacto e com honras é preferido do que ser obrigado a deixar o poder de maneira vergonhosa. Como foi o caso do ex-Presidente Laurent Gbagbo.

Paris, 12.10.2013
Patriota Liberal
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Fonte : www.sempre-angola.blogspot.com