Luanda - Há quase dois Séculos que o Homem trouxe à liça a reflexão sobre a eventual perturbação ou alteração na dinâmica natural do sistema climático. Cientistas como Fourier, Tyndall, Arrhenius, Callendar, Keeling e outros preencheram esse longo e secular percurso, mas, injustamente, o discurso sobre as alterações climáticas, ainda, não é social em muitas partes do continente africano.

Fonte: Club-k.net

Segundo o RDH, 2008 em muitas partes do mundo continua a subestimar-se o impacto que as alterações climáticas hão-de impor ao desenvolvimento humano num quadro em que os registos dos desastres climáticos tendencialmente são crescentes.

A mesma fonte refere que, apenas, entre 2000 e 2004 foi registada uma média de 326 desastres climáticos por ano sendo que no mesmo período cerca de 262 milhões de pessoas foram, anualmente, afectadas o que representa o dobro do registo da primeira metade da década de 80.

Na verdade, a par do elevado défice de percepção ambiental em África, os eventos climáticos cada vez mais frequentes e intensos como as secas ou inundações perturbam, hoje, a vida de milhares de africanos com impactes notórios no seu património. As migrações forçadas pelas inundações ou secas são uma realidade.

Segundo (VAZ, 2010) num estudo comparado dos cinco continentes observa-se que em registo de ocorrências da seca a África está em primeiro lugar enquanto o registo das inundações colocam a África em terceiro lugar depois da Ásia e América.

E a falta de zonamento territorial com base na identificação dos riscos expõem em assentamentos precários e desordenados 71,9% das pessoas na África subsariana (UN-HABITAT, 2003).

A par disso a informação sobre as alterações climáticas e os investimentos em sistemas de controle e monitoramento dos eventos climáticos são praticamente exíguos.

Infelizmente, em muitos círculos, inclusive, académicos entende- se, ainda, que a vulnerabilidade ambiental é função da estabilidade/ instabilidade dos sistemas naturais do que, propriamente, da capacidade de resposta, grau de adaptação e resiliências face às alterações climáticas.

E o risco ambiental é visto de forma desagregada, ou seja, não interpretado como um processo decorrente da associação de factores naturais e antrópicos ao longo da história da humanidade.

A questão que se coloca, hoje, face às alterações climáticas prende-se com a forma como as comunidades humanas se expõem aos riscos ou são capazes de responder, criar resiliências ou adaptar-se aos eventos climáticos extremos que remontam desde a primeira infância da humanidade.

É esta a questão de fundo que deve nortear os políticos africanos que continuam, movediços, atados ao princípio do poluidor-pagador característico da mitigação que impede, fundamentalmente, sobre os países desenvolvidos.

Portanto, as alterações climáticas não devem ser lidas como uma questão de discriminação económica entre os países, mas como uma oportunidade de corrigir a história da política económica da humanidade que se mostrou insustentável do ponto de vista económico, social e ambiental.

Não há dúvidas que as alterações climáticas se apresentam, hoje, como um verdadeiro “inimigo” que condiciona as políticas de desenvolvimento de um povo e a África segundo o (IPCC, 2007) é um dos continentes mais vulneráveis às alterações climáticas, sobretudo, pela incapacidade de resposta face às alterações climáticas ao baixo grau de adaptação e resiliência agravados pela pobreza, fragilidade de infra-estruturas e serviços públicos precários (CARDONA, 2003).

Em Angola o PANA ao priorizar as energias renováveis (mitigação) contraria a realidade vivida marcada, sobretudo, pelo défice em programas de informação e formação em questões ambientais e pela vulnerabilidade sócio-ambiental, económica e cultural.

O nível de percepção ambiental é bastante baixo. O país deve valorizar mais a adaptação, entendida em sede da sustentabilidade, com a centralidade do debate no modelo de desenvolvimento o que sugere a mudança de comportamento e valores face à relação do Homem com a natureza e à produção e consumo.

Os investimentos na sensibilização e educação ambiental e a mobilização de recursos científicos, técnicos e tecnológicos que permitam identificar, avaliar e monitorar os eventos climáticos extremos devem preocupar os políticos.

A justiça social é outra tarefa inerente ao conceito de sustentabilidade. Aliás, o discurso sobre a sustentabilidade sugere, desde logo, a equidade social.

Finalmente, fica alguma recomendação tendo em atenção o registo cada vez mais elevado de perdas humanas e a destruição do património fruto dos choques climáticos decorrentes das alterações em várias partes:

a) Que as questões ambientais sejam encaradas como um apelo à integração dos riscos na gestão e tomada das grandes decisões em todas as esferas da vida social, económica e cultura dos povos.

b) Que haja maior informação sobre as alterações climáticas em cada país e a participação popular em processos de formação e tomada das decisões de interesse público.

c) Que haja cultura de ordenamento e planeamento territorial. É importante que na ausência deste instrumento se faça o zonamento do território com base no mapeamento dos riscos e vulnerabilidades locais.

d) Que se reforcem os fundos de emergências para acudir as vítimas dos impactes decorrentes das alterações climáticas.