Lisboa – O balanço final das vítimas da manifestação convocada pela UNITA no último dia 23, em todo território nacional, e impedida forçosamente pela polícia nacional, aponta a detenção de mais de 300 pessoas (e algumas já soltas), e duas mortes, dos jovens militantes da CASA-CE e da UNITA, numa acção violenta protagonizada pelos efectivos da USP e  da polícia.

Fontes: Club-k.net
A par a detenção dos manifestantes, a polícia apreendeu cerca de 13 viaturas, 11 baldes de cola branca, 49 camisolas, 951 panfletos, duas escadas e igual número de máquinas fotográficas.

O subcomissário Aristófanes dos Santos alega ainda que na madrugada do dia 23 de Novembro, por volta das 01h30, registou-se a violação do perímetro de segurança do Palácio Presidencial, na rua do Povo, por um grupo de oito elementos afectos a CASA-CE, que foi detido quando procedia a afixação indevida de cartazes de propaganda subversiva de carácter injurioso ao Estado e aos seus dirigentes.

Com efeito, adianta, tendo os mesmos sido prontamente neutralizados por uma patrulha da Guarnição do Palácio Presidencial, resultando na sua detenção.

Entretanto, durante a transferência do referido grupo para o comando, a fim de ser presente ao oficial em serviço que os encaminharia para a polícia, um dos elementos do grupo de nome, incitado pelos seus companheiros, intentou a fuga, saltando da viatura e, em reacção, um efectivo da Guarnição fez disparos atingindo o mortalmente.

EXCESSO DE FORÇA

Apesar de vários relatos de violência colhidas pela imprensa privada angolana, o porta-voz da Polícia Nacional tentou “tapar o sol com peneira” refutando, equivocamente, o uso de força excessiva contra os manifestantes. A presente imagem mostra o cadáver da segunda vítima mortal da polícia.  

"Em circunstância nenhuma usamos a força excessiva, até porque não houve necessidade para tal, porém, houve força moderada, tanto é que rapidamente conseguimos controlar as situações", jurou o mesmo, acrescentando que “o Comandante-Geral da PN, Ambrósio de Lemos, havia baixado instruções claras que a ideia era conter ao máximo os manifestantes”.

A UNITA descreve no seu site que os manifestantes eram ordeiros e pacíficos, mas foram as forças policias, cuja acção era combinada entre forças terrestres e aéreas que descarregaram toda a sua barbárie contra os manifestantes.

Todo o aparato de polícia, brigada canina, brigada auto e cavalaria, assim como veículos blindados estiveram nas ruas de Luanda, para travar os manifestantes. Na sua sanha de reprimir os homens e mulheres que saíram às ruas para pedir o fim das mortes por assassinatos selectivos, os efectivos de polícia recorreram a tudo que estava à sua disposição. Lançaram granadas de gás lacrimogéneo, dispararam balas de borracha e raptaram e torturaram de maneira severa os manifestantes.

Quanto mais reprimidos mais decididos sentiram os manifestantes. Do Cemitério da Santana, os manifestantes avançaram em direcção ao 1o de Maio, tendo sido travados por sucessivos disparos de canhões de água quente e lançamento de granadas de gás toxico, quer por efectivos policiais terrestres como por forças helitransportadas.

Por volta das 12 horas, quando a polícia intensificou a sua accão de repressão e efectivos saiam do Comando Provincial em direcção ao eixo de progressão dos Manifestantes, o Presidente da UNITA, Isaías Samakuva surgiu nas antenas da Radio Despertar a apelar os manifestantes a regressarem às casas.

Na sequência do  apelo ainda viam-se policiais a perseguir e a raptar elementos que participaram da manifestação. Um dado importante foi que oo o gàs lacrimogéneo lançado contra manifestantes afectou também pessoas que estavam na sua vida tendo muitos desmaiado por efeito de inalação de gases tóxicos.
 
A violência exercida sobre manifestantes em Luanda registou igualmente noutras regiões dos pais, havendo notícias de sedes que estiveram ocupadas até 18 horas deste sábado.

DISPAROS DA PIR

Enquanto isso, elementos de Polícia de Intervenção Rápida (PIR) efetuaram disparos para o ar para impedir o porta-voz da UNITA de  prestar declarações à imprensa estrangeira durante a manifestação.

Alcides Sakala estava a descrever, na altura, a agência Lusa, Reuter e AGI (de Itália)  a forma como foram utilizadas granadas de gás lacrimogéneo por volta das  09:00, no início da concentração para a manifestação do  maior partido da oposição de Angola.

Os manifestantes que rodeavam Sakala e os quatro jornalistas estrangeiros  pediam insistentemente à imprensa que não abandonasse o local como garantia  de que a polícia não lhes podia bater.

Os disparos para o ar e a dispersão das pessoas ocorreram junto ao mercado  dos congolenses, entre o cemitério de Santana (que era o ponto inicial da  concentração dos manifestantes) e o largo 1º. de Maio. Foram ainda arremessadas granadas de gás lacrimogéneo enquanto o porta-voz  da UNITA falava com a imprensa estrangeira.
 
FIM DA MANIFESTAÇÃO

A manifestação convocada pela UNITA só conheceu seu término após Isaías Samakuva ter solicitado aos presentes que abandonassem o local e regressassem as suas residências. O líder da UNITA se dirigiu nos arredores do cemitério Santa Ana, onde a actuação da polícia angolana com gás lacrimogéneo foi mais evidente ao longo das primeiras horas manhã do sábado.  


Curiosamente quando este falava com os manifestantes que a polícia procurou dispersar com gás lacrimogéneo o ajuntamento de dezenas de pessoas. "O presidente (Samakuva) não ficou ferido e pediu aos manifestantes que fossem para as suas casas, declarando o fim da manifestação", assegurou Alcides Sakala.

Sabe-se que a UNITA e a CASA-CE estão a preparar declarações sobre os acontecimentos ocorridos em Luanda e nas restantes províncias (onde a polícia tomou de assalto as sedes da UNITA nas cidades de Menongue, capital provincial de Kuando-Kubango, Andulo, no Bié, Cabinda, e no município de Cacuaco, em Luanda) relacionados com a manifestação "contra a repressão".