Luanda - No seguimento de um fim de semana em que as forças políticas da oposição agitaram Luanda com vários protestos, o CASA-CE (coligação eleitoral Convergência Ampla de Salvação de Angola), segundo maior partido da oposição angolana, pondera o abandono da vida parlamentar. Na origem desta decisão estará a morte de um dos seus dirigentes na madrugada de sábado. Manuel Hilberto Ganga foi morto a tiro por efetivos da Guarda Presidencial quando colava cartazes para denúncia do rapto e possível assassinato, há ano e meio, de dois militares que organizavam uma manifestação antirregime na capital angolana.

Fonte: Lusa

O anúncio foi feito esta segunda-feira pelo chefe da CASA-CE. O abandono da luta parlamentar é uma das possibilidades que estão em cima da mesa da direção, assinalou Abel Chivukuvuku durante a conferência de imprensa em que foi apresentada a versão do partido dos acontecimentos do fim de semana que levaram à morte de um dirigente da sua ala juvenil (a Juventude Patriótica), Manuel Hilberto ganga, também conhecido por Wilbert Ganga, e a prisão de centenas de militantes da oposição. Foi inclusive dada a notícia da detenção de Abel Chivukuvuku, percebendo-se posteriormente que se tratava do seu irmão.


Quanto ao dirigente da CASA-CE, as autoridades angolanas garantem que morreu ao ser atingido por um tiro quando, depois de ter violado o perímetro de segurança da Presidência da República, tentou escapar a uma ordem de detenção dos efetivos da Guarda Presidencial.


“O grupo foi detido quando procedia à afixação indevida de cartazes de propaganda subversiva de caráter ofensivo e injurioso ao Estado e aos seus dirigentes, tendo os mesmos sido prontamente neutralizados por uma patrulha da Guarnição do Palácio Presidencial, resultando na sua detenção", sustentou Aristófanes dos Santos, porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional, na apresentação de um comunicado à imprensa, explicando que Hilberto Ganga foi morto com tiro quando tentou pôr-se em fuga.


O CASA-CE tem outra versão dos acontecimentos, sustentando que o dirigente foi abatido com dois tiros e não um, o que terá sido presenciado por António Baião, um dos outros elementos que integrava o grupo de Hilberto Ganga e que acabou detido pela polícia.
Assinalado o desaparecimento de dois militares.


O fim de semana foi marcado por várias atividades da oposição, que assinalaram o sequestro e posterior “desaparecimento” de dois ex-militares há ano e meio, quando preparavam uma manifestação de veteranos e desmobilizados contra o Presidente Eduardo dos Santos.


Alves Kamulingue e Isaías Cassule estão desaparecidos desde maio de 2012, quando foram levados em plena via pública, em Luanda. A própria Procuradoria-Geral da República assume a forte possibilidade de terem sido mortos. Foi, aliás, um comunicado da PGR que esteve na origem da convocação destas acções da oposição.


Também a UNITA quis assinalar este episódio, mas a sua manifestação foi proibida pelas autoridades, que invocaram o facto de o MPLA ter feito saber da sua intenção de, no mesmo dia, sair à rua na capital. O que, sugere a polícia, poderia colocar em causa a ordem e segurança públicas.


Apesar da decisão, a UNITA decidiu avançar com a sua própria agenda, o que levou a uma intervenção policial, com disparo de granadas de gás lacrimogénio.


O porta-voz da polícia Aristófanes dos Santos defendeu depois que “não está em causa a realização das manifestações, mas estava em causa, sim, o direito à segurança, que também é um direito constitucionalmente consagrado”, para acrescentar que, ao contrário do que foi sustentado pela UNITA, a polícia não usou de “força excessiva”: a força foi usada “de forma devidamente controlada”.


Longe do controlo policial de Luanda, a UNITA saiu à rua noutra capital. Em Paris, a delegação do maior partido da oposição a José Eduardo dos Santos instalou-se na Praça dos Direitos do Homem.


“Quando soubemos que a UNITA em Luanda tinha convocado essa manifestação de repúdio em relação aos assassínios que se estão a passar em Luanda, decidimos imediatamente também participar e organizarmos uma aqui. Sabemos que o MPLA tem estado a sacrificar muitas vidas, muita gente tem sido assassinada e as práticas do MPLA são pura e simplesmente ditatoriais. Achámos que era a altura de participarmos e passarmos a mensagem para a comunidade internacional porque é necessário que se faça alguma coisa”, declarou a partir da capital francesa a responsável da UNITA Florence Samakuva.


Domingos Miranda, igualmente membro da UNITA, considera que “a comunidade internacional devia tomar consciência desta situação. Deviam tomar uma posição, porque Angola não é só petróleo [e] o petróleo só serve os interesses do Presidente da República, da sua família e daqueles que o rodeiam”.