Luanda – Ao nascer do dia, os angolanos olham em direcção a Luanda e encontram um rosto em quem podem e devem confiar: o do Eng.º José Eduardo dos Santos. Porém, a visão do Presidente da República de Angola parece nem sempre ser respeitada pelas decisões e acções de outras figura do Estado, em quem delegou poderes e que parecem não compreender a sua sabedoria nem o legado que pretende deixar ao nosso povo. Esses não merecem mais do que um discreto ocaso e uma saída justa e célere.

Fonte: Club-k.net


Passemos em revista de onde vem e para onde vai o nosso presidente, assim como os meandros daqueles em quem ele depositou confiança e parecem desviar-se do caminho por este traçado. E olhemos para Luanda com os olhos justos, os olhos da História.

José Eduardo dos Santos, líder entre pares

É tarefa simples resumir em duas ou três penadas a relevância de José Eduardo dos Santos para Angola, ainda que seja algo bem mais difícil a tarefa de seleccionar os factos mais importantes, da miríade de decisões e tomadas que posição que o Chefe de Estado de Angola, mesmo antes de o ser, tomou, que viriam a beneficiar em muito esta nação.

Desde a actividade subversiva contra o Estado Novo, quando ainda estudante frequentava o Liceu Salvador Correia, em Luanda, que José Eduardo dos Santos marcou a sua posição integrando-se em grupos clandestinos, na década de 50 do século XX e mais tarde, no MPLA.

Mais tarde, com a eclosão da luta armada pela independência, em 1961, passou, no exílio, a coordenar a actividade da Juventude do MPLA, organismo de que foi um dos fundadores e durante algum tempo Vice-Presidente.

E foi, em 1963, o primeiro representante do MPLA em Brazzaville, tendo entretanto, na antiga URSS obtido uma licenciatura em Engenharia de Petróleos, exercido funções nos Serviços de Telecomunicações na 2ª Região Político-Militar do MPLA, em Cabinda e regressado a Brazzaville entre 1974 e 1975, tendo ainda passado a integrar os Departamentos de Relações Exteriores e de Saúde do MPLA e com a independência da República de Angola, foi Ministro das Relações Exteriores e secretário do Comité Central do MPLA, ascendendo à presidência de Angola após a sua eleição como presidente do MPLA, que o fez suceder a Agostinho Neto.

Desde então que a sua obra tem elevado, cada vez mais alto, o nome de Angola. De 1986 a 1992, José Eduardo dos Santos teve um papel de destaque na solução da crise transfronteiriça entre Angola e a África do Sul, que culminou no repatriamento do contingente cubano, na independência da Namíbia, e na retirada das tropas sul-africanas de Angola.

Entretanto, em plena guerra com a UNITA, procurou uma solução negociada que teve o seu expoente máximo na adopção da Constituição de 1992. O actual presidente defendeu a constituição, liderou a vitória democrática do MPLA nas eleições realizadas nesse ano, assim como aguentou a fúria assassina de quem quis continuar uma guerra fraticida, ignorando os resultados eleitorais.

Posto isso, só com vitórias seria possível resolver a questão e assim foi. Em 2002, a eliminação do líder de uma oposição armada e sedenta de sangue ditaria a chegada da paz, liderada pelo engenheiro da liberdade e da democracia, José Eduardo dos Santos.

O mesmo líder que, em 2010, ofereceu a Angola uma nova Constituição e se dedicou, desde a sua chegada ao poder, a proceder a reformas tão profundas como a municipalização da saúde, a melhoria contínua da educação, a inovação e abertura tecnológicas do país ao mundo, a optimização da exploração petrolífera e diamantífera, a melhoria dos níveis de prontidão das forças de segurança, a humanização do controlo das imigrações ilegais, o incremento da capacidade organizativa do país, no plano diplomático, no domínio desportivo e em tantos outros.

Tudo isto debaixo das críticas de uma oposição cada vez mais dividida, descredibilizada e incapaz de apresentar alternativas sólidas para o país. Facto que incomoda certamente o governante, mas não pela razão óbvia. Críticas, todos os governantes enfrentam. Mas o seu vazio, testado e verificado ao longo de décadas, não deixa de entristecer o Eng.º José Eduardo dos Santos.

Daí que, em entrevista a uma televisão brasileira, há meses, o mesmo confessasse: «Se tivéssemos retomado o processo regular de realização de eleições em 1992, certamente hoje não estaria aqui. Mas a conjuntura não permitiu», frase humilde de quem tanto reconhece que gostaria de ter sucessão à altura como lamenta a falta de alternativas responsáveis, e que fez escorrer ganância das mandíbulas daqueles que querem o poder pelo poder, no país, agradando a quem inveja o trabalho notável do presidente.

Mas o Eng.º José Eduardo dos Santos não se ficou por aqui. Disse que «daqui para a frente as coisas vão mudar» e adiantou estarem a ser ensaiadas alternativas para a sua sucessão. Mas a verdade é que alternativas parecem não ser da melhor qualidade.

A encruzilhada

As opções que o povo angolano tem, neste momento, não são muitas: a escolha faz-se entre um presidente responsável e competente, mas que não durará para sempre, uma oposição esfrangalhada e, no interior do MPLA, um conjunto de pessoas a quem, crente na sua capacidade de o coadjuvar, o Eng.º José Eduardo dos Santos atribuiu algumas competências.

Harmonizar a primeira e a última seriam a receita desejável para um país que se pretende cada vez mais desenvolvido e justo, uma referência continental e global.

Manuel Vicente, Fernando da Piedade Dias dos Santos e Manuel Hélder Vieira Dias “Kopelipa” formam um triunvirato que se assumiu como fundamental no apoio ao trabalho do Eng.º José Eduardo dos Santos, acompanhando o seu rasgo e a sua capacidade de trabalho. Com o tempo, as coisas foram mudando e, por diversas razões, alguns destes elementos perderam protagonismo. Outros, nem por isso.

Em todo o caso, estes, mas também outras importantes figuras da vida política angolana têm como dever fazer parte de uma solução política harmoniosa que seja capaz de assistir o presidente que, naturalmente, pretende rodear-se dos que aparentam mais capazes.

Auxiliar o Presidente da República é uma responsabilidade que não está ao alcance de todos. É necessário que quem o faz e que, putativamente decida na sua ausência, partilhe da sua visão e do seu sentido de Estado. E não fique deslumbrado pela tentação de ordenar sem ver o quê e a quem…

A confiança presidencial e os poderes paralelos

Nos últimos dias assistiram-se a fenómenos que do ponto de vista de segurança, soberania e democracia, pouco abonam a favor da imagem do país e da manutenção do clima democrático de que Angola, desde há muito, beneficia.

Alegadas decisões, tomadas por quem assumiu uma espécie de “presidência interina” não constitucionalmente consagrada a si, mas ao Vice-Presidente, têm assumido o lugar de um “poder paralelo”. E esse poder tem um apelido: Kopelipa, Ministro de Estado e Chefe de Segurança do Presidente da República, que, na ausência do líder, se quis mostrar “chefe de facto”.

E com isso, aproveitou para usar “bodes expiatórios” externos e internos, para arcar com as culpas de problemas estruturais e conjunturais, que o Presidente da República sempre tentou resolver com tacto e bom senso. Na ânsia de decidir, o general Kopelipa tem decidido, de facto, mas mal.

Desta vontade férrea de “mostrar trabalho” saíram decisões que divergem da visão e da convicção presidenciais, que adulteram a ética com que este tem governado e que ensombram, ainda que ligeiramente a qualidade do legado que, certamente, o Chefe de Estado pretende deixar para a História.

Tomar decisões não é fácil. Mas tomar decisões que expressem as consequências das primeiras é algo ainda mais duro de realizar. Nessa medida, e a ser responsável pelos actos, resta a Hélder Kopelipa colocar o lugar à disposição.

E ao Presidente da República, para assegurar a qualidade contínua do seu trabalho, dispensar quem não mostrou digno da sua visão, substituindo aquele responsável. A confiança não se toma, merece-se.