Luanda - Assiste-se a uma maior abertura e divulgação da homossexualidade, através da comunicação social e da ficção na TV, levando muitos homens a ‘sair do armário’. Mas ainda há quem queira reprimir a prática.

Fonte: Sol
Desde que a novela Windeck entrou nas casas angolanas, através do canal 2 da TPA, divulgando a homossexualidade, que se nota uma maior abertura da sociedade em relação ao fenómeno. Muitos homossexuais “saíram do armário” porque viram pessoas com estatuto social assumirem a sua orientação sexual – e serem aceites e respeitadas. Perceberam então que “também podiam assumir publicamente suas opções sexuais e que também seriam aceites”, diz Paulo, homossexual.

Paulo, no entanto, não se assume publicamente – mas reconhece que, sobretudo em Luanda, o tema está a deixar de ser tabu. “Isso porque os canais de televisão fazem questão de divulgar mais a homossexualidade, mostrando às pessoas que a única coisa que nos difere dos outros homens é a opção sexual”, explica. “Com mais informações, as pessoas passaram a mostrar mais sensibilidade e respeito por nós. Também somos seres humanos e no fundo só queremos ser felizes”.

Boa ou má divulgação?

Titica, cantora muito conhecida na praça, que além de homossexual é travesti (veste-se de mulher), partilha a opinião de Paulo. “A comunicação social tem feito um bom trabalho mostrando à sociedade que o homossexual é um ser humano como outro qualquer e deve ser respeitado e ter a liberdade de ser feliz, independentemente da sua opção sexual”, diz a artista.

Quanto à sua opção, Titica é peremptória: “Espero que a sociedade me encare como uma pessoa normal e que respeite a minha escolha, porque acho que tenho esse direito”.

Para a artista, o próximo passo é a lei que autoriza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. No mundo, apenas 14 países – entre os quais Portugal – aprovam este tipo de união.

Vítor Panzo, professor do ensino secundário, mostra-se descontente com aquilo que considera uma “propaganda gay”. Segundo o docente, “infelizmente no nosso país a comunicação social tem vindo a divulgar muito a homossexualidade, situação que reprovo”.

No seio da Igreja Católica, não há qualquer tipo de discriminação, diz o padre Mateus. “Somos todos filhos de Deus e não temos o direito de julgar ninguém.

Contudo, caso seja abordado sobre essa questão, a minha obrigação é aconselhar a pessoa mostrando os ensinamentos e levando-a a crer que se somos feitos homens é porque somos homens e não devemos alterar essa condição – porque estaríamos a contrariar a nossa natureza”, avança o religioso ao SOL.

Repressão e agressões

Menos conciliador é António Padiki, sociólogo e docente universitário, que vê a homossexualidade como algo contra natura.

Para o sociólogo, essa é uma “prática que devia ser reprimida porque não se compadece com a nossa cultura”, fazendo alusão ao facto de, dos 54 países africanos, 38 manterem leis contra a homossexualidade. Aliás, na Somália, no Sudão e na Nigéria vigora a pena de morte para homens que têm relações sexuais com homens.

O também professor universitário esclarece que em África é mais visível a homossexualidade masculina do que a feminina – e que Angola não é excepção. Como no resto do continente, também no país se assiste a agressões contra homossexuais.

Paulo confirma: “Muitos têm sido agredidos em discotecas e até mesmo na rua”. Mas isso não muda o que sente: na rua, é um homem, em casa, com o parceiro, gosta de “ser tratado como uma verdadeira senhora”.

Doenças sexualmente transmissíveis preocupam

Outra questão também associada à homossexualidade são as doenças sexualmente transmissíveis. Mais vulnerável a comportamentos de risco – como múltiplos parceiros e relações não protegidas com preservativo –, a comunidade gay apresenta uma maior prevalência de infecções por HIV, conforme apontou fonte próxima do Instituto Nacional de Luta contra a Sida.