Lisboa – Em reacção a matéria intitulada "Lunda Norte: Segurança do Bikuar mata à tiro cidadão" publicada, em primeira mão, por este portal noticioso no pretérito dia 03 do mês em curso, o partido angolano Bloco Democrático exige a detenção imediata do assassino (já identificado) do cidadão Maró Franco.

Fonte: Club-k.net
“Exigimos a detenção imediata dos mandantes e dos proprietários da empresa”, pode se ler na nota de imprensa enviada a redacção do Club-K. “Exigimos julgamento e o fim do terror nas Lundas. Basta de tortura, de perseguições, de mutilações e de mortes!”, acrescenta.

No entanto, o Bloco Democrático endereçou uma mensagem de pesar, e amargura, à família do malogrado. “À família enlutada e à UNITA, o Bloco Democrático  endereça os seus mais  profundos sentimentos de pesar pela morte fria e bárbara deste seu querido”, lê-se na nota.

“Não existem palavras que possam traduzir o estado de choque em que nos encontramos. É muita dor! A Nação sente-se de luto”, frisou, continuando “o que mais nos entristece é o facto de ter sido nesse mesmo dia que o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, pôs a circular o seu vídeo em que dizia defender o direito à vida e à ausência da pena de morte. Foi mesmo no dia em que o mártir Maró Maria Franco foi morto a sangue frio enquanto viajava em serviço”.

Está formação política, liderada por economista Justino Pinto de Andrade, manifestou-se ainda chocada por não ter havido sequer um único pronunciamento público a nível das instituições do governo de Lunda Norte, tal como do governo central.  

“É de arrepiar que não tenha havido um único pronunciamento público, quer ao nível das instituições de Governo Províncial de Lunda Norte, quer ao nível das estruturas de Governo Nacional. Não se ouviu falar sequer de abertura de investigações ou detenção de todos os envolvidos directa e indirectamente. O responsável pelos direitos humanos do Governo está em absoluto silêncio. Como se fosse normal, que um cidadão seja assassinado. Não é normal!”, lê-se ainda na nota.

Entretanto, o Bloco Democrático deixa um apelo aos angolanos a fim de se lançar em exigência para o cumprimento da lei e da constituição. “Apelamos ao povo para uma ampla solidariedade para acabarmos com o sofrimento e o terror que se verifica nas Lundas. José Eduardo dos Santos, queremos justiça para o mártir Maró Maria Franco”.

De salientar que o malogrado foi assassinado à tiro no dia 27 de Dezembro do ano transacto, por supervisor da empresa privada de segurança Bikuar, identificado apenas por Ratinho. O jovem morreu sentado, por volta das 13h45, na viatura que conduzia, na área diamantífera de Calonda, no município do Lucapa, província da Lunda-Norte. A seu lado, o jovem que o acompanhava, no Toyota Land-Cruiser, saiu ileso.
 
Segundo depoimentos prestados pelo irmão do malogrado, António Aleluia, de 19 anos, que se fez presente ao local, Maró Maria Franco foi morto porque se recusou a entregar a chave da viatura. O supervisor da Bikuar havia bloqueado a via com outra viatura e exigiu a chave para confisco do Toyota. “O meu irmão disse que estava conduzir na via pública e não tinha nada de entregar as chaves. Foi morto por isso”, reafirmou António Aleluia.
 
Maró Maria Franco trabalhava para um comprador de diamantes de nacionalidade senegalesa, conhecido localmente como o Boss Petit Ba. Transportou uma equipa de garimpeiros, ao serviço do seu patrão, para uma zona de exploração artesanal. A abordagem fatal aconteceu na sua viagem de regresso.
 
“Eu fui remover o corpo do meu irmão porque a polícia estava lá no local, incluindo o comandante da Polícia do Sector de Calonda, o intendente Mário Muandumba, mas não fazia nada e as horas passavam”, disse António Aleluia.
 
“Só depois de eu ter pegado no corpo, um dos oficiais disse para eu esperar, para eles tirarem dados. Como eu estava muito nervoso, colocaram-me na viatura do próprio comandante Muandumba”, afirmou o irmão da vítima.
 
Na viatura do comandante encontrava-se já o motorista da Alfa-5, que transportava o supervisor da Bikuar e, segundo depoimentos recolhidos junto da polícia local, terá facilitado também a sua fuga da cena do crime.
 
A Alfa-5 e a Bikuar prestam serviços privados de segurança à Sociedade Mineira de Angola (Somipa), a empresa diamantífera que actualmente faz a prospecção de diamantes no Calonda.
 
O GENERAL JJ, SEGUNDO MAKA ANGOLA
 
De acordo com o depoimento de António Aleluia, na viagem de regresso à vila de Calonda, “o comandante Muandumba falou com o general JJ, a quem tratava por sua excelência, para ficar tranquilo. ‘Sua excelência, vou pôr tudo em ordem, fica calmo’ dizia o comandante”.
 
O general JJ, cuja verdadeira identidade a testemunha desconhecia, é o segundo comandante provincial da Polícia Nacional no Uíge, subcomissário José João. Até recentemente, o subcomissário exercia as mesmas funções na província da Lunda-Norte. É o principal responsável da empresa Bikuar, no relacionamento com as autoridades locais.
 
Maka Angola tem acompanhado as intervenções pessoais do general JJ junto da polícia local, sempre que os guardas da empresa cometem actos de homicídio e outros crimes.
 
João Inácio, tio do malogrado, interveio na narrativa para reafirmar o que é um segredo público na Lunda-Norte. “Os donos dessa empresa são o general JJ, o próprio governador provincial da Lunda-Norte, Ernesto Muangala, e o empresário Santos Bikuku. Não vamos esconder a realidade”.
 
“Essa empresa é um exército clandestino que criaram para dar cabo do povo”, alegou o tio da vítima.
 
Em reacção ao homicídio, centenas de populares tomaram de assalto o principal acampamento da Bikuar, situado fora do perímetro da mina, tendo os guardas abandonado o local em debandada. Efectivos policiais foram enviados ao local para dispersar a população a tiro, quando estes destruíam e saqueavam o referido acampamento.
 
Já no comando policial de Calonda, o comandante Muandumba telefonou ao “general JJ”, diante de vários membros da família do malogrado, para negociar uma compensação. “Na nossa presença, o comandante perguntou-nos o que queríamos, para transmitir ao general JJ”.
 
O tio João Inácio detalhou a conversa entre o padrasto, em representação da família, e o comandante, em nome do subcomissário José João. O padrasto recusou-se a negociar sem a presença dos familiares directos, na altura em viagem para o local, e exigiu apenas o montante devido para a realização das despesas do funeral, avaliadas em um milhão de kwanzas.
 
“O comandante Muandumba ligou outra vez para o general JJ [o subcomissário] apresentou a proposta e recebeu instruções e um número de telefone para ligar à direcção da Somipa, para a empresa efectuar o pagamento”, revelou João Inácio.
 
Maka Angola teve acesso às duas notas de entrega de um total de 900,000 kwanzas à família. A nota da Somipa, datada de 31 de Dezembro, indicava a contribuição de 500,000 kwanzas da concessionária diamantífera e foi assinada pelo seu director de operações, Viacheslav Savelyev. A segunda nota, de 400,000 kwanzas, como contribuição da Bikuar, foi assumida pela Esquadra policial de Calonda e assinada pelo seu comandante, Mário Muandumba.
 
“Venho por intermédio desta informar que Esquadra Policial do Calonda que em função do incidente ocorrido no dia 27 de Dezembro de 2013, às 13:45 que vitimou o cidadão Maró Maria Frank procedemos à entrega de 400,000,00 Kz (quatrocentos mil kwanzas) valores provenientes da direcção da Bikuar à mãe da vítima senhora Maria Tchabua Ngamba (…)”, lia-se na nota de entrega da polícia. No entanto, os montantes só foram entregues a 2 de Janeiro.