Luanda - Os serviços de inteligência de um país democrático são fundamentais para a defesa da própria democracia, por isso mesmo devem ter uma actuação republicana, em defesa do Estado e de todos os cidadãos, independentemente das cores partidárias e das preferências religiosas, ou outras.

Fonte: O País
A recente cimeira sobre os Grandes Lagos, em Luanda, foi antecedida de reuniões técnicas, entre as quais a dos chefes dos serviços de inteligência. Porque se sabe que a cooperação entre os serviços dos vários países será fundamental para a promoção da paz, da democracia e do desenvolvimento. Basta que para tal haja vontade política.

Os cidadãos devem habituar-se à ideia de que o país dispõe de serviços de inteligência bem treinados e financiados, dotados de todas as capacidades tecnológicas e que a sua acção está na base da vida de que a sociedade disfruta, no geral. Mas o cidadão também deve ter a consciência de que o Estado tem mecanismos de controlo sobre as inteligências. É assim que deve ser num país democrático.

Aqui chegados, há uma preocupação que não deve ser mascarada: a forma como informações alegadamente sobre a inteligência angolana chegam ao público. De há algum tempo a esta parte, têm surgido em alguns sites da Internet notícias supostamente vindas do interior dos serviços secretos. Surgem até nomes de funcionários.

Independentemente da veracidade, ou dos equívocos de tais informações, urge que se ponha cobro a tudo isso, pelos eventuais danos que se podem causar, fundamentalmente às pessoas citadas. Também não interessa se a informação vem de dentro ou se é forjada, tal como não interessa se os dados advêm de lutas internas de interesses de grupos ou pessoais.

Estes serviços têm relevância demasiado grande para serem tratados como algumas pessoas pretendem. É nestes momentos que o antipatriotismo de alguns vem ao de cima. Uns porque “dispensam” tais informações, em nome sabe-se lá de que interesses; outros porque as publicam da forma mais irresponsável e antipatriótica que se pode imaginar.

Sites que afirmam prestar serviço jornalístico, sem que tenham nada que os caracterize como produtores de matérias jornalísticas, ganham fama por se darem espaço a todo o tipo de calúnias e de ataques a todos os que querem destruir a honra e bom nome e, agora, até a segurança de outras pessoas, tudo na mais perfeita covardia, tudo na mais perfeita impunidade. E o pior é ver nos semanários de fim-de-semana textos a citar tais sites como fontes de informação. Nunca há contraditório, nunca há confirmação dos dados, nunca se sabe quem é a fonte.

A impunidade está assumida como um direito adquirido.

A Internet é um espaço livre, mas quem gere um site que sabe ser acedido por milhares de pessoas deveria ter a consciência dos riscos a que sujeita terceiros quando os seus nomes aparecem em público e ligados aos serviços de inteligência ou a uma unidade policial que requeira actuação sob cobertura.

Uma acção do Estado para fechar tais espaços resultará, certamente, numa gritaria estridente, em nome das liberdades e dos direitos, mas talvez valha a pena, em nome da vida e da estabilidade do Estado. Da segurança de toda a sociedade.

Mas, antes, um apelo a quem nos ditos serviços chega a tão baixo (se as informações vêm de dentro) e aos gestores dos sites ditos de informação, jornalísticos ou de clubes: há uma coisa, a vida, que merece ser tratada com mais dignidade, independentemente de não terem um pingo de dignidade os gestores de tais sites.