Luanda - "É proibido sair de casa antes das 6h00 e estar na rua depois das 18h00, principalmente quando não há energia". Foi desta forma que os habitantes do São Pedro da Barra, no distrito urbano do Sambizanga, começaram por descrever o bairro.

Fonte: NJ
Essa "proibição" foi "praticamente decretada" por dois grupos rivais de marginais, autodenominados "People" e "Camabatela Squad", após a morte de José Domingos Fernandes Francisco, conhecido nos arredores por "5 tija", no passado dia 13 de Dezembro.

José Fernandes, 16 anos, foi encontrado "gravemente ferido" na noite da antepenúltima sexta-feira de 2013, no interior de um contentor de lixo e enviado para o hospital, onde chegou já sem vida. "Foi uma vizinha que o reconheceu e veio a nossa casa, a correr para nos avisar", relembrou Domingos Francisco, pai de "5 tija".

De acordo com a história avançada pela jovem Yolanda, irmã da vítima, horas antes dos incidentes que acabaram por lhe causar a morte, José Fernandes foi convidado por alguns amigos que integram o "gang" dos "People" para irem dar uma volta pelo bairro.

"Depois tudo se precipitou. Durante a caminhada, uns seis ou sete jovens alegadamente membros do grupo Camabatela Squad aperceberam-se da presença de elementos dos People e começaram a persegui-los na tentativa de os agredirem", contou. Yolanda esclareceu que, nesse momento, o irmão estava acompanhado por três outros amigos e que "dois deles conseguiram fugir". "Mas o meu irmão e um outro rapaz foram apanhados e começaram logo a ser agredidos", assegurou.

Naquele "pega daqui e dali", José Fernandes acabou por ficar sozinho "no meio dos outros", porque o amigo conseguiu fugir, "não sem antes lhe terem desferido um golfe numa das orelhas", adiantou Yolanda. "Esse amigo que fugiu é que nos contou como tudo aconteceu, mas ultimamente não o tenho visto aqui no bairro. Ainda o vi com a orelha cortada", disse o irmão de "5 tija", visivelmente emocionada ao contar a história.

No intuito de vingarem a sua morte, os amigos de José Fernandes que conseguiram fugir ao ataque atribuído a membros "dos camabatela squad", decidiram, na companhia de outros elementos dos "people" declarar "guerra aos rivais". Assim aconteceu a decisão de dividir o bairro em dois blocos, sul e norte, ficando os moradores, sobretudo jovens, impedidos de "atravessar a fronteira" do grupo rival. "A fronteira é o imbondeiro que está na praça.

Quem passar e for reconhecido arrisca-se a levar uma surra", esclareceu um morador à conversa com o Novo Jornal. A rua é só uma, mas já no passado esteve dividida entre outros dois grupos rivais (aparentemente já desaparecidos) e que também trouxeram violência ao bairro: Os "Lacraus", a sul, e o "Iraque", a norte.Estes são ainda os nomes porque são conhecidos os dois lados do São Pedro da Barra.

Como consequência da "guerra" entre os dois grupos cresceu o número de assaltos, maioritariamente ocorridos entre as 18h00 às 05h00, aparentemente protagonizados por membros de ambos os grupos nas respectivas zonas que "administram".

"Quem fica nesses becos são os rapazes de cada grupo. Não vale a pena sair muito cedo nem chegar tarde. Quem ainda se safa são as pessoas que eles conhecem e respeitam", afirmou outro vizinho, sob pedido de anonimato, devido ao receio de represálias.

Até meados de Janeiro era habitual, pelo menos uma vez na semana, os dois grupos brigarem no cen-tro do bairro, junto ao imbondeiro da pracinha. Quando a luta começava, os vendedores e vizinhos eram obrigados a retirar-se para não serem confundidos com "um dos alvos a abater" pelos integrantes dos grupos. Na briga eram utilizadas catanas, facas, garrafa e, inclusive "bombinhas" feitas com gasolina e areia.

Foram essas "bombinhas" as responsáveis por queimar um carro e uma casa, na zona dos "camabatela". Fruto das denúncias efectuadas pelos munícipes, no dia a seguir a esta briga, efectivos da Polícia Nacional apareceram na circunscrição para "cortar o mal pela raiz". Nesta operação, uma viatura da corporação foi atingida com uma garrafa quando um dos elementos do grupo "camabatela" decidiu reagir contra a PN.

Os MEMBROS

A faixa etária dos elementos dos dois grupos varia entre os 12 e os 20 anos, mas informações prestadas por moradores do São Pedro da Barra afirmam que existem miúdos "ainda mais novos, alguns com 10 anos". Nené Lobão é apontado como o mais novo da "gang camabatela".

Consta que não terá mais de 10 anos. Testemunhas da "grande briga" disseram que o viram vestido apenas com umas cuecas e com duas catanas na mão. A maioria dos jovens que agora integram os dois grupos rivais teve alguém de família [pai, irmão mais velho, tio, etc] que pertenceu ou aos "lacraus" ou ao Iraque.