Benguela - Aqui entre nós dizem ser "o dia do homem", a Sexta-feira! Expressão que, apesar de não lhe saber bem o seu criador e o seu real sentido semântico, tem soado desagradável e um tanto quanto “segregatório” aos meus ouvidos!

Fonte: Club-k.net

Pois, penso que tal ideia divide, amiúde e, coloca, numa espécie de disputa e conflitos desnecessários de géneros (masculino e feminino), que, apesar de, ontologicamente, a mulher ser uma espécie de “acidente”, relativamente à “substância” que é o homem, mal grado da versão bíblica da “costeleta de Adão”, mas julgo que ambos foram criados “à imagem e semelhança de Deus.

Alguns dirão, à guisa de auto-defesa: Mas a mulher também tem o seu dia no mês de Março e outros; e que a monogamia, tal como a democracia, foi-nos imposta do ocidente...

O que vale mesmo é ainda ter havido mulheres “boazinhas”, africanamente africanas que respondem tranquilamente: o “nosso” marido saiu, hoje é dia dele: “Sexta-feira é dia do homem”!...

Salvo entendimento contrário, o sentido a que muitos homens, hoje, atribuem a essa ideia de "sexta-feira, dia do homem" é deveras conotativo e insinuador, no mau sentido! E, não é nenhuma novidade, com certeza, o que estou a querer, aqui, transmitir, daí a crise de maior parte das nossas famílias angolanas!

Ontem, contudo, sexta-feira, "dia do homem", por ironia de destino, não foi “só dia do homem”, mas foi uma sexta-feira cristãmente vivida, em devoção profunda, às "cinco chagas" de Jesus Cristo, aquando da sua Paixão e Morte na Cruz. Falar das cinco chagas de Jesus Cristo (há quem fale em seis chagas, contando com a do ombro que carregou a cruz, além a da mão esquerda e direita; a do pé direito e esquerdo e a da lança no peito) é falar da Cruz. A cruz pesada que o filho de Deus carregou sobre os seus ombros, até ao Calvário, a fim de, libertar a humanidade.

Ontem ao viver esse dia, com fervor, fiquei a falar com os meus botões!... Qual é, então, hoje o simbolismo da cruz na sua vida, na minha vida, nas nossas vidas, na vida de casados, sobretudo? Não será que a “Sexta-feira, dia do homem”, para muitos dos meus companheiros, seja um bom pretexto para se esquivar da cruz por si já pesada e insuportável, a fim de ir procurar uma lufada de ar fresco, aí nas esquinas da vida?!

Hoje, quase todos nós, num mundo totalmente materializado, menos paciente e, com olhares gravemente concupiscente, preferimos o PRAZER, A VIDA FÁCIL, O IMEDIATISMO... Onde o SACRIFÍCIO, o “SOFRIMENTO”, o JEJUM, a DUREZA PRÓPRIA DA VIDA, em resumo, A NOSSA CRUZ, são relegados em segundo plano, ou mesmo, para as “calendas gregas”.

Mas todos nós, sem excepção, queremos ser felizes e vitoriosos na vida!... “A felicidade é que nós queremos”, como cantaria, alguém. As próprias mulheres (angolanas) querem ter esposos, querem constituir lares, querem ser felizes mas quase nada sabem ou fazem para tê-lo ou quando o adquirem fazem patavina para mantê-lo.

Sempre ouvi dizer que “não existe verdadeira vitória, nem triunfo sem esforço e sacrifício. E que a massa do padeiro para se tornar num bom pão precisará sempre de um forno bem esquentado. Portanto, não há triunfo, nem felicidade que não passe pela aceitação da Cruz. E parece-me ser esse o nosso maior problema hoje! Medo e receio de carregarmos a nossa cruz!

Genericamente, o ser humano, parece ter evoluído muito em seu carácter externo e técnico-científico, mas estagnado no seu mundo interior, no seu mundo espiritual, ou seja, descobrimos e inventamos quase tudo, dos confins do firmamento aos fundos do oceano;

as questões planetárias, questões ambientais e toda a sua temática como conflitos no Médio Oriente, crises financeiras, ocupam as agendas dos líderes mundiais, mas enquanto seres humanos, dotados da “anima” (alma) e de “humanidade” continuamos como que estrangeiros em nossas próprias residências.

Continuamos divagando quão Tales de Mileto, perdendo-nos e, caindo, repetidas vezes, no “poço”, aí bem contíguo à nossa existência, na ânsia de contemplarmos e tentarmos descobrir a causa do brilho das estrelas. E apesar do “gnōthi seauton”(conhece-te a ti mesmo), ou do “cogito ergo sum”(penso, logo existo) de Sócrates e Descartes, respectivamente, andamos à deriva e ao sabor dos ventos, acompanhando apenas os outros e, “vivendo de borla”, em quase todos os níveis!...

O poder hoje é a nível da mente. Todavia, ninguém mais quer pensar! Pois, tudo já foi pensado antes; tudo já foi criado. Somos, praticamente, independentes dependentes! A nossa “mendicidade” é sem limites! “Mendigamos” e importamos de tudo: do frango à sabedoria!... Pois a nossa indústria académica ainda só produz papagaios de boa marca!

Bem, eu também não sei de nada, nem quando seremos nós mesmos, longe das máscaras carnavalescas que caracterizam a nossa grandeza nos holofotes. Eu, ao menos, só sei que tive e tenho tido medo de carregar a minha cruz!

E, por isso, como Pedro te neguei, várias vezes, antes do cantar do galo, Senhor. Como Pedro, hoje mesmo, choro, amargamente, pelo meu âmago contristado por este som estonteante! Perdão, Ó Pai! Misericórdia, Jesus! Faça-se, em mim, apenas a Vossa Vontade e não a minha nem a dos homens que nem a chuva miúda que cai à Sexta-feira, impedindo-lhes sair de casa, são capazes de fazer cessar.

Portanto, a Sexta-feira é dia do Senhor ou é do homem, afinal!?!