Benguela - Ultimamente o país vê partir para o além os nossos mais velhos, as nossas “bibliotecas vivas”, nomes e pessoas que sacrificaram o seu suor, dor e forças, para que as folhas dos livros da nossa vida colectiva fossem registadas glórias e infortúnios. “A morte é a maior certeza que a humanidade vive e conhece”. Contudo, quando acontece deixa milhares de almas lesadas, desconsoladas e sem rumos.            

Fonte: Club-k.net

Angola assistiu inofensivamente milhares de filhos morrerem por diversas causas, luta de libertação nacional, guerras internas e “guerrilhas” políticas, fome, doenças, “sem motivo”… A grande verdade é que cada vez mais, a nossa terra contínua órfão da contribuição dos mortos.

Há uma novela ou uma grande metragem que estão ou querem nos habituar acompanhar, sempre que morre alguém, tendencialmente quando for um nacionalista ou combatente da luta de “conveniência”, abrem a passarela de mensagens e elogios, páginas especiais, “directos” e recuperam os “arquivos secretos” de êxitos e virtudes. Todos são amigos dos amigos, se os nossos mortos soubessem destas homenagens!

Ocultam-se ou adulteram factos políticos históricos, todo mundo puxa para o seu lado a victória (sabemos que não é único resultado da vida), faltam memórias/livros/enciclopédias sem tabus dos acontecimentos maravilhosos e tenebrosos que alguns preferem levar à cova a divulgar. Como compreender que jovens valentes e destemidos outrora, hoje adultos morram na paz do silêncio?

O colono português e os seus sipaios usavam à arma da perseguição, malvadez e morte, há quem ousasse contrariar os seus intentos. Uma boa parte das nossas “bibliotecas vivas” viveu na pele e presenciou os horrores do sangue do Kaputu, as suas “sequelas memoriais” agudizaram-se após a independência nacional e a luta cruel inter-irmãos Angolanos. E mais a máquina que os políticos nacionais fixaram sobre o nosso passado também não ajuda(ou) no “conto verdadeiro” da história.

“Se eu abrir à boca o país não acordará amanha”, palavras atribuídas ao antigo comandante provincial da Polícia nacional em Luanda, Quim Ribeiro. Esta afirmação também pode ser aplicada ao contexto que estamos apresentar, é possível que haja tanta mácula ao nosso percurso, se for escrito ou dito, tudo o que construímos pode ruir.

Mas o pretérito é inapagável. Temos que encará-lo sem espirito vingativo apenas como lições para que não se repita nem seja motivo de zombaria ou de aproveitamentos maléficos políticos. Se o repto é construir A NAÇÃO ANGOLANA, O ALICERCE é PAZ, A VERDADE E O DIÁLOGO NA DIFERENÇA.

Os heróis mortos não estão mortos.
Haja Juízo! Cidadão Angolano