Luanda - O antigo vice-ministro das Finanças de Angola Fernando Heitor considera que José Eduardo dos Santos "está a fazer o trabalho para passar a Presidência a Manuel Vicente" e prevê uma transição pacífica porque a estabilidade está garantida.

Fonte: Lusa

Image"As coisas funcionam, impávidas e serenas. O José Eduardo dos Santos está a fazer o trabalho para passar a Presidência para o Manuel Vicente (atual vice-presidente da República e antigo presidente da Sonangol) e vocês não se apercebem disso", disse o deputado da Assembleia Nacional e dirigente da UNITA, o maior partido da oposição, a uma plateia de empresários portugueses que o ouviam durante uma palestra na sociedade de advogados BPO, em Lisboa, sobre investimentos em Angola.

"A estrutura militar está completamente consolidada, só os militares é que podem fazer golpes de Estado, mas os generais estão todos ricos, não há problemas... deu a cada um uma mina de diamantes ou coisa assim, estão todos bem, não passa pela cabeça a ninguém fazer um golpe de Estado, por isso quando um dirigente da oposição diz que está tudo tranquilo, é porque em Angola não há mesmo problemas, apesar da constituição ser exageradamente presidencialista", disse o dirigente da UNITA e antigo vice-ministro das Finanças responsável pelo pelouro dos impostos e património do Estado.

Na intervenção que proferiu durante a conferência, Fernando Heitor elencou também as grandes oportunidades de negócio em Angola, sublinhando que o melhor para os empresários é apostarem no interior, fora de Luanda, que tem conhecido um grande desenvolvimento nos últimos anos.

"O grande desafio de Angola é a diversificação da economia, ainda dependemos muito do petróleo e temos um grande potencial para explorar, e as grandes oportunidades estão no interior, nos minérios, na agricultura, na prestação de serviços e na formação de quadros" para as pequenas e médias empresas que querem investir menos de um milhão de dólares.

Sobre a exploração de minérios, Fernando Heitor gracejou até que "Angola parece uma criança mimada com um brinquedo: tem muitos mas quer sempre brincar com o mesmo", referindo-se ao petróleo, mas sublinhou que o país tem plutónio, tem fosfatos a céu aberto, aos pontapés, granitos, mármores, diamantes, até já já diamantes no Bié, se calhar no meu quintal também há se eu resolver ir para lá escavar, ou seja, temos um imenso potencial no domínio dos minérios, e estamos só no petróleo", lamentou.

Para além do enorme potencial de crescimento e de uma forte defesa da intenção da nova pauta aduaneira, que entra na segunda-feira em vigor, Fernando Heitor reconheceu também alguns dos problemas do país, destacando a economia informal, que representa 45% do comércio, mas "que tem os anos contados", a morosidade na Administração Pública apesar dos programas em curso, como a loja do cidadão, e a "corrupção pequena, que incomoda, e é uma coisa chata, aquilo a que se chama a 'gasosa', mas que agora evoluímos para 'o saldo da Unitel'".

Onde Angola está bem, garante o deputado e economista que é também consultor de empresas e professor universitário, é na segurança: "Em quase tudo apanhamos porrada nas comparações internacionais, mas na segurança de pessoas e bens somos os melhores da região, estamos ao nível do Botswana e mais ou menos da Namíbia, o que quer dizer que é seguro para os expatriados fazerem o seu jogging em qualquer parte, sem ninguém ao lado, completamente à vontade".